sábado, 11 de maio de 2013

Uma noite sem fim

Tarde da noite e tarde demais. Um grito na  minha janela me acordou. Talvez tenha sido sonho. Nâo sei. É sempre difícil acordar de um sonho. Distinguir da realidade, enxergar nas sombras.
O grito despertou em mim um pranto reprimido. Um choro visceral. Lembrei de lágrimas, esquecidas.
Chorei. Por mim, e por você. Por todos estes que passaram por aqui. Todos estes que choraram em mim.
Chorei. De frustração, de saudade, de dor. De todas estas dores que passaram por aqui. Todas estas dores que doeram em mim.
Chorei  de solidão, de despedidas, de falta de mãe. De todas as mães que passaram por aqui. De todas estas mães que hoje faltam em mim.
Uma menina sem um abraço. Sem um abrigo. Sem seu amigo.
Encolhida, de frio e cansaço. Pequena, muito pequena.
Uma mulher assustada por um grito. Acordada no meio do sonho. Uma mulher- menina.
Tremendo de tanto esperar, exausta de não saber.  Com medo de tanto sentir.
Vulnerável. Como a serpente, quando troca a pele para poder crescer.
Pele morta. Entranha, exposta.
Por pele nova, mais grossa, mais forte.
Vai demorar mas vai nascer. Mais uma vez.
Alvorada.
A luz, e a garganta, entrecortadas. Amanhece o silêncio.
A noite, interminável e estranha, finalmente se desfaz. Em mil pedaços, como num caleidoscópio de dor.
Em pedaços, como um caleidoscópio de mim.

Dani Altmayer

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