1
a igreja de pedra na curva do rio
o sino toca a sinfonia do domingo
é verão ainda mas é tarde
uma brisa levanta a saia
da cor de alfazema das flores
as mesmas que adornam o caminho
as flores que Virginia viu
2
a ponte também ela pedra
contempla o largo do rio onde
uma família de patos nada em silêncio
flutuam nas águas escuras pétalas e
folhas amarelas prenúncio de outono
3
em algum lugar mais adiante nesse mesmo rio
jovens barulhentos tomam vinho
e deslizam com a vara num barco
na infeliz tradução de punting
4
as casas mesmo elas são de pedra
sem cor tem janelas brancas
e floreiras
que se debruçam nas calçadas estreitas
5
chego ao portão de ferro onde
bicicletas de cestos coloridos esperam
na confiança silente de sombras ancestrais
6
nos jardins da velha casa de chá
há grama alta sob as árvores
macieiras carregadas
cadeiras reclináveis de tecido listrado
borboletas e vespas zunem ao redor
dos bolos com creme e geleias de frutas vermelhas
7
já passa das cinco faz um pouco de frio
no verão tardio de setembro
nesse lugar que parece uma fenda no tempo
quase posso ver Virginia e os outros
com uma manta nos ombros
entre xícaras de chá e licores de maçã
8
talvez aqui às margens desse jardim
onde os pássaros cantam baixinho
ela tenha sido feliz algum dia antes
de pegar aquela pedra e mergulhar
em outro rio
Daniela Altmayer
( exercício da oficina, para Karen e Bella que me levam a viajar na terra da Vírginia -e da Eileen)