domingo, 29 de setembro de 2013

O que Foi Feito da Gente?


Amor.
Você levou quase tudo que eu tinha.
Levou minha paz, a magia.
Levou toda a cor. 
Você me levou. Quase toda.
Sobrou muito pouco, de mim.
Uma alma meio nublada, meio vazia.
Uma cama, uma metade fria.
Um corpo cansado, meio com dor.
Uma palavra, meio gaga, meio muda.
Desacreditada, carente.
Desconfiada. 
Uma solidão meio cega. 
Maior que a de antes.
Você me deixou meio assim.
Pouca, distante, indigente...
Sem norte, sem rumo. Sem guia.
Você me devolveu ao silêncio.
Da minha estrela, cadente.
Estrela surda.
Amor?


Dani Altmayer



quarta-feira, 25 de setembro de 2013

Astor

Não aguento mais. Quero a minha vida de volta.
No início, até que gostei. Quando o Sérgio parou de sair todo dia, achei até bom. Tinha companhia para ver TV e dormir até tarde. Os passeios eram mais longos, e a gente conversava bastante. Com exceção de um ou outro telefonema, ou alguns minutos no computador, mandando emails, todas as horas eram para mim. Acho que nunca recebi tanta atenção. Nem quando era bebê. Lógico que eu sentia falta da Renata, mas ter a casa só para os homens tinha lá suas vantagens. Recebi até permissão para deitar no sofá, e comer chocolate.
Renata saía cada dia mais cedo, ouvi qualquer coisa sobre uma promoção, e chegava cada dia mais tarde. Ia trabalhar como quem vai a uma festa, parecia uma daquelas bonecas Barbie da sobrinha, igual a uma que mastiguei por engano, quando era pequeno. Lembro até hoje da bronca que levei. Como poderia saber, estava no chão. E o chão é o meu território. O mundo todo sabe. A Renata também passava horas no banheiro, e seu cheiro mudou. Confesso que preferia o outro. Não gosto muito de mudanças, principalmente de cheiros.Ela já não deixa mais eu pular em suas pernas, anda sempre de saia. Tem medo que eu rasgue suas meias, é o que diz. Também não deixa o Sérgio a beijar, para não estragar a maquiagem. Recebe mensagens no celular, toda hora, inclusive tarde da noite. Aquela porcaria vibra sem parar, atrapalhando meus cochilos.
Já o Sérgio deixou a barba crescer, e passava vários dias de pijama. Só se vestia (mal) para ir na academia, e para passear no parque, comigo. A Renata vivia reclamando de tudo isso. E olha que nunca contei, mas tinha dias, antes, em que ele nem banho tomava. O que por mim estava ok. Gosto do cheiro dele, melhor que o dela. O que está me incomodando, agora, são estas brigas. Toda manhã, o mesmo papo: "vai passar o dia em casa? " Toda noite, um terremoto. Até prato já voou por aqui, ainda preciso tomar cuidado com os cacos que ninguém catou. O apartamento virou um campo minado.
Tenho saudade de quando os dois chegavam juntos, e me levavam para passear. Depois preparavam o jantar, e sentavam para assistir ao jornal. Juntos. Eu inclusive. Tenho saudade do silêncio e até dos sons que eles faziam, na cama, tarde da noite. Nestas noites eu não podia entrar, e isso me chateava. Hoje nem me importaria. A vida era boa pra cachorro, naqueles tempos.
Agora, o Sérgio quase nem lembra de mim. Não me escova mais, não tem tempo. Desde aquele dia no parque, e a culpa foi minha. Se eu não tivesse me metido no lago, e feito aquela confusão, nada disso teria acontecido. Ele não teria conhecido a Diana, que agora passa as tardes com ele, trancada no quarto. Devem ter muito assunto, nunca me deixam participar. Acho que a Renata não sabe da Diana. Eu é que não vou contar. Aprendi, na marra. Desde que levei uma picada de abelha no nariz, ano passado, ao cheirar um arbusto. Eu, hein? Doeu pra cachorro. Não me meto mais onde não sou chamado. Eles que deitem e rolem. Eu me finjo de morto.

Exercício de Escrita Criativa (módulo II- metáforas)

Dani Altmayer

sexta-feira, 20 de setembro de 2013

Em (Re) Construção

Obrigada, mas não. Não posso entrar, se não puder retribuir. Assim eu aprendi.
E sabe, aqui a coisa anda meio complicada.
Você vem com este seu coração aberto, e ele é tão espaçoso. Amplo, arejado, solar.
Dá até vontade de deixar, mas não dá. Um dia você vai pedir, perguntar pelo meu. Vai cobrar. E eu vou ter que negar.
Porque o meu está atulhado, ocupado, e todo fragmentado. Ele já foi como o seu. Enorme.
Não sei o que aconteceu. Um remendo aqui, uma parede ali, e mais uma, e mais outra. Acabou ficando assim. Compartimentado. E bem apertado.
As divisórias tinham portas, mas esqueci de fechar. Foram ficando abertas, uma após a outra, e complicou. Virou labirinto. Se nem eu consigo me achar, imagina você.
Para dizer a verdade, está uma bagunça mesmo. Perdoa, mas agora não tem condição. Está tudo ferrado. Tem restos, está sujo, e feio.
Precisa de tempo, e reforma, urgente. Existe o projeto. Já está em andamento, vai ficar bem diferente. As paredes serão derrubadas, o design modernizado. Tudo mais funcional, bem mais prático. O espaço será melhor aproveitado. Linhas retas. Restarão só duas portas, desta vez bem sinalizadas. Entrada e saída. Mais nada. Menos é mais.
Vai ter algumas regras para entrar. Há que se tirar o sapato, para poder pisar sem arranhar. Armaduras estarão proibidas. Máscaras não serão permitidas. Armas, então, nem pensar. Coisa complicada também não, nem besteira. O território será de paz, guerra eu já tive demais. Será sagrado, lugar de respeito. Por isso, nada de brincadeiras. Nada que possa machucar. Só risos e bolhas de sabão serão concedidos. Você vai estranhar, pode até nem gostar. Não importa, é assim que será.
Peço desculpas pelo transtorno, estamos em obras. Temporariamente fora de operação. Volta outra hora, outro dia, outro mês. Leva o teu, que está bem, para outro lugar, mais saudável. Tem muita poeira aqui. Não está terminado ainda, longe disso, aliás. Você sabe como funcionam estas coisas. Quero que fique bom, que tenha muita luz. Que seja fácil de entrar. Que dê gosto, e prazer de ficar. Só que isso pode demorar. Uma vida inteira, até mais.
Coração em reforma não dá nem para andar. É perigo de queda. Mágoa na certa. Não convém arriscar.
Deixa que eu ligo, te dou um retorno. Quando estiver tudo pronto, prometo avisar.
Mas é claro que você não precisa. Nem deve. Esperar.

Dani Altmayer



Remédio Amargo

ilustração Lumi Mae
Acorda com um sobressalto. Uma sensação de vertigem a desperta de seu breve cochilo. Abre os olhos com medo, não sabia se tinha sonhado.
Os lençóis emaranhados, a cama desfeita, um corpo ao lado, dormindo. Enorme, suado. Roncando um pouco. Não fora sonho.
Sente um arrepio na espinha, uma náusea, uma súbita falta de ar. Aquela mão pesada, apoiada na sua coxa. Vira para o lado, devagar, tentando se livrar do abraço indesejado. Querendo se desvencilhar do toque. Querendo apagar o tato, o cheiro, o gosto. Tudo. Querendo apagar a memória do que acabara de acontecer, a lembrança daquele momento e de tudo o que viera antes. Porque não haveria um depois. Naquele exato momento ela soube. Que não haveria um depois. O antes fora um erro.
Uma tentativa, frustrada, de trocar uma coisa pela outra. Um equívoco. Achara que poderia tentar, que precisava. Que devia isso, a si mesma e a ele. Grande engano. Tem coisa que não dá para escolher como verdura na feira, esta sim, aquela não. Este faz bem para a saúde, aquele não.Tem coisas que não podem ser substituídas só porque assim se decidiu. Amor não acontece por decreto. Simplesmente acontece. Ou não.
Tinha ido atrás da conversa de sempre, ele é tão legal, está insistindo tanto, você não devia ficar sozinha, enfim. Decidira arriscar. Precisava do paliativo, e acabara se ferrando. Trocou uma dor pela outra. Pior.Seu corpo todo doía. O resto também.
A sensação era de que tinha sido invadida. Arrasada por uma força contrária, um cabo de guerra. Estuprada emocionalmente, com o próprio consentimento. Fora sufocada por algo disfarçado de paixão, mas que era tão cego como nem a paixão poderia ser. Ele não a viu, além de seu próprio querer. Ele não sabia que precisava ir com calma, não percebeu que estava machucada. Ela, que amava as sutilezas, que gostava de intensidade na medida certa, foi atropelada pelo trator do desejo dele.
E nada torna tão evidente uma ausência quanto a presença dos braços errados. Da pessoa errada. Nada pode ser mais solitário do que acordar com um estranho, ainda que "apaixonado."
Agora queria desaparecer. Sumir sem dar explicação. Como pode dormir? Dormir é tão íntimo. Idiota!
Se veste, apressada. Não se despede, deixa o vento gelado bater na cara e toma uma decisão: nada mais de fugir, negar ou tentar escapar. Nada mais de placebo-vai aguentar no osso, sozinha. Como tem que ser.
Vai engolir a seco o gosto ruim da outra saudade.

Daniela Altmayer

segunda-feira, 16 de setembro de 2013

Se Eu Tivesse a Essência das Fadas

Se ao menos eu tivesse sabido, naquela noite. Que aquela noite seria a última noite. A última vez.
Se ao menos eu pudesse. Voltar àquela noite, agora. Eu não faria nada diferente, nada mudaria.
Nada foi menos que perfeito naquele dia. Mas eu saberia.
Saberia o que teus olhos tristes tentavam me dizer.
Eu saberia o que aquele beijo escondia.
Adivinharia o adeus, e o prolongaria. Sim, isso eu acho que faria.
Até a chuva naquela noite se demoraria.
Sopraria aquela bolha bem suave, bem alto, e ela duraria.
Eu me despiria de novo, e te amaria, outra e outra vez.
Se eu tivesse sabido, meu abraço não te soltaria. Não tão fácil.
Mas eu não sabia.
Pensando bem, esquece. Eu nem queria. Para isso não. Não voltaria.
Ter a eternidade da última vez. E não saber que seria.
Melhor assim, sabe por quê?
É que eu acredito em fadas, anjos. Feitiçaria.
Mas não acredito em última vez.
Em vez derradeira.
Ao menos, não com você.
Com você, sempre foi encanto, magia.
Foi tanto. Tão certo.
Toda vez foi como se fosse a última. Desde a primeira.
E a gente sabia.

Dani Altmayer


domingo, 15 de setembro de 2013

Rendida


E depois de lavar o rosto com as lágrimas, enxugaria no travesseiro e dormiria.
Era isso que ia fazer. Dormir. Chorar sempre a deixava cansada. Com vontade de ficar de olho fechado. Dizem que uma boa noite de sono cura tudo. Mas é que dão muito poder à noite, assim como dão ao tempo. Vai passar, amanhã é outro dia ( não me diga), o tempo faz esquecer, etc. Conversa fiada, ela mal acredita. Consolo de merda.
Bom, só se for que nem aquele remédio para febre que primeiro faz subir bem alto, para bem depois começar a suar. Talvez o caso dela fosse mais grave, precisava era de uma dose maior de noites de sono para se curar. Devia ser isso. Tempo proporcional.
A bem da verdade, ela não chorara até hoje. Derramara sim, uma ou outra lágrima, mas não dava para chamar de choro. Uma emoção meio contida, a cara dela, sempre madura. "Sim, claro, eu entendo, tudo bem, vou ficar bem." Ficar bem o c... Ia tocando, o sorriso colado com superbonder, disfarçando a dor secreta, que escondia atrás de quilos de corretivo. Vestia sua máscara, junto com o jeans, toda manhã. Movia-se, ligada no piloto automático das coisas por fazer, nas coisas de todo dia.
O problema do piloto automático é que às vezes ele falha. E quando acontece, a gente é obrigado a se encarar. Retomar o controle, mesmo que tenha esquecido como se faz. Ainda que se esteja perdida.
Tem que pegar o aspirador, e chupar aquela montanha de lixo que se acumulou debaixo do tapete da sala. Fazer a faxina. Senão, corre o risco de soterrar.
Ou tropeçar, que foi o que aconteceu com ela. Uma coisa tão boba, bateu com o dedinho do pé. Mas doeu, doeu tanto, que chorou. Chorou muito, por mais de uma hora. Chorou a desculpa, um choro quente, de lágrimas que ardem. Queimam. Um choro sentido, que só quem sente muito pode chorar.
Por alguns momentos deixou-se ficar, deitada na cama. Mergulhada em frustração e saudade. Fez-se de vítima, de frágil, permitiu-se sofrer. Sem tentar entender, sem tentar revidar, sem brigar com a dor. Olhou de frente, não procurou a saída. Simplesmente, chorou. Abriu a represa de tudo o que vinha negando, e chorou. Sentiu pena de si mesma, nem se culpou. Sentiu-se fraca, e até gostou. Tantas vezes, quisera ser assim, ou doida, ou fraca. Menos equilibrada. Mais mulherzinha. Para poder receber o que estava cansada de dar. De perder. O mundo é mais gentil com os loucos, pensava. Por pena, ou fascínio. Vai saber.
O choro desligou o automático de tudo o que ela vinha segurando. Deu-se conta de que tentar matar no peito só faz machucar. Percebeu o tamanho do buraco da própria solidão. Pensou em resistir. Mas desistiu, e se entregou. Derramou-se inteira, depois de tanto conter. Não queria mais fingir.
Lágrima que não escorre vira dor de cabeça. Tristeza que não se reconhece vira peso, doença. Curva a coluna, turva a alma. Riso falso enruga o olhar. Não podia mais mentir, decidiu. Envolveu o próprio corpo em um auto abraço, porque ela era tudo o que tinha. Sussurrou um consolo. "Pobrezinha de você".
Um dia vai passar, tudo passa. Com o tempo, durante uma noite qualquer, levado por alguma enxurrada de lágrimas, de algum jeito. Quando menos se espera, acontece. O sofrimento desaparece. Um dia ela vai acordar diferente, indiferente. Talvez melhor, talvez maior, porque a dor faz crescer (dizem). É outro jeito de aprender. Um jeito mais complicado. Mas só cresce quem consegue aceitar.
A hora de esquecer vai chegar. Amanhã, talvez não. Quem sabe em um mês, ou dois. Ou mais. Um dia será. Não tem como não ser. Enquanto isso, admitiu que doía. Muito. Não o dedinho, este curou sem demora.
A dor era outra. Em outro lugar. Também ia passar. Mas, por enquanto, chorar estava liberado. Rezar idem. Afundar a cabeça no travesseiro, o olho pesado, cansado. E dormir bastante. Esperar agir o tal antídoto, tão conhecido, tão bem falado. Acreditar nele. Tempo, o remédio universal.

Dani Altmayer




quarta-feira, 11 de setembro de 2013

Toda Saudade tem Cheiro


Outro dia, arrumando minhas gavetas, achei um vidro de perfume que estava guardado há quase seis anos. O perfume da minha mãe. Eu não tinha esquecido, sabia que ele estava ali. Mas foi preciso o tempo passar para eu ter coragem de pegar naquele frasco de novo. Com um pouco de medo, deixei cair algumas gotas no meu punho esquerdo. Imaginei que estaria estragado pelos tantos anos, talvez já meio azedo. Mas quis fazer um teste, saber como o sentiria. O cheiro invadiu o meu peito como uma faca. O cheiro dela. Inconfundível, penetrante, suave. O mesmo cheiro. Igual. Deixei cair umas lágrimas. Um pouco da tristeza da saudade, muito mais pela emoção da memória reavivada.
Muitas coisas ativam nossas lembranças, uma foto, um gosto, uma música. De todas estas, talvez seja o cheiro a mais forte delas. Qualquer cheiro.
Cheiro de terra molhada, de grama cortada. Cheiro que lembra casa. Cheiro de liberdade.
Cheiro de pipoca, de bolo quentinho. Cheiro que lembra infância. Lembra carinho.
Cheiro de mar, de calor. Cheiro de corpo suado, cheiro de sexo. Cheiro que lembra verão. Lembra paixão.
Cheiro de campo, de praia, de jasmim em flor. Cheiro de uva, bem doce. Lembra, que simples?
Cheiro de eucalipto, de respiração. De vida. Lembrando que a vida tem cheiros.
E cada cheiro lembra uma coisa. Uma pessoa, uma época, uma vontade, o amor.
O cheiro é como uma máquina do tempo, transporta saudades, desloca as memórias, acende as luzes. Seu efeito é imediato, instantâneo, mas também é fugaz. Faz você esquecer, por instantes, que já tinha deixado de lembrar.
Traz todas as cores de volta. Revive, como um passe de mágica. Momentos, que sejam. Coelhos.
O cheiro viaja na poeira da nossa recordação. É um vento de primavera. Renova.
Faz perceber que tem coisas que não tem como esquecer. Coisas grandes que o tempo não leva.Tem coisas que ficam guardadas, em fundos de coração. Esperando coragens.
Tem cheiros importantes. Que nunca saem da gente. Nem com o tempo.
Algumas coisas até se vão, mas o cheiro não. Cheiro é saudade impregnada. Atemporal.
Achei a coragem, e dei o perfume. Afinal, ainda estava bom. Quem pode saber?
Talvez ele ainda possa perfumar uma outra história. Cheirar bem, em uma outra memória.

Dani Altmayer



sexta-feira, 6 de setembro de 2013

Nuvens

Passageiros, como nuvens. Assim são todos os momentos. Breves períodos de tempo, por definição. E nada além disso.
Momentos são como sonhos. Momentos, como sonhos, podem ser bons. Ou ruins.
É sempre um alívio acordar de um sonho ruim. Aquela hora em que você acorda, e suspira, aliviado, e pensa: foi só um sonho. Ainda bem.
É sempre triste acordar de um sonho bom. Aquela hora em que você acorda, sorrindo, e percebe que não era real: foi só um sonho. Que pena.
Assim acontece no tempo acordado de viver. 
Momentos tão bons, que você gostaria de poder abraçar com força, e guardar dentro de uma caixinha, com as tais sete chaves. Não acordar nunca mais. Mas você sabe que não pode, eles vão passar. A noite vai acabar.
Momentos tão ruins que você gostaria de abreviar de qualquer jeito, usar um pó de sumiço, fugir para outro lugar. Dar um jeito qualquer, de acordar antes da hora. Mas você sabe que tem que encarar. Também eles vão passar. O dia, às vezes, só demora para chegar.
Já dizia uma música antiga: "tudo passa o tempo todo no mundo. " Nada dura para sempre. Nem o bom. Nem o ruim. É assim. Tudo vive exatamente no tempo que tem que ser. O intervalo de uma noite, o espaço de um dia, um verão. Nem mai, nem menos. Apenas o suficiente.
Só que são justamente os momentos, estes instantes de curta duração, que se juntam no conjunto de nossa memória e constroem os significados. São as peças chave de nossos quebra cabeças intrincados.
E na lembrança, onde fazemos a edição, eles se tornam eternos.
Instantes são os elos desta corrente chamada vida.
Desta vida transitória, por onde também nós passaremos.
Onde também não passamos disso. Nuvem, ou poeira de sonho. Leves, e breves. Passageiros.

Dani Altmayer