domingo, 5 de maio de 2013

Tão Jovens

"A vida é um fio. E, aos 14 anos, você é um equilibrista descalço sobre seu fio, e o equilíbrio é um milagre".
A frase não é minha, copiei do belo livro que estou terminando de ler, Coisas que Ninguém Sabe, de um autor italiano, Alessandro DAvenia. O livro conta a história de uma adolescente, Margueritha, e os dilemas e sonhos desta fase de sua vida. Da vida de todos nós.
Lágrimas em profusão, alegrias desmedidas, raivas incontidas. Muito medo. Muita coragem. Muita paixão. Problemas sem solução, dramas existenciais. Muita mudança, muitas espinhas, muita emoção. Brigas e choros sem qualquer razão.
A aurora da vida. Aquela hora na madrugada, em que você não sabe se é noite ainda, ou se o dia já se fez. Luz e escuridão que se confundem em sombras. Aquela hora da vida onde tudo é crucial. Definitivo. Viver é intenso, forte, denso.
Adolescência. Lembro como se fosse ontem. Como se fosse hoje. E hoje, depois de assistir ao filme "Somos Tão Jovens", lembro como se fosse agora. Músicas como Geração Coca Cola, Será, Que País é Esse, entre tantas outras, embalaram a minha geração adolescente. O filme conta a história do poeta, também ele muito jovem, que gostava de meninos e meninas. Vai  desde a criação da banda punk Aborto Elétrico até o momento da explosão do fenômeno Legião Urbana. Renato Russo é hoje um mito. Um gênio, na minha opinião.
Voltando à adolescência. Como se não bastasse eu mal ter saído da minha (?),  ainda tenho, em casa, um exemplar novinho em folha. Recém chegado. Que me leva a fazer contas de, por quantos anos ainda, vou ter que lidar com olhos revirados a cada palavra que digo. Que faz eu querer voltar para a terapia, para fortalecer a auto estima, uma vez que os olhos revirados significam sempre uma de três coisas. Que eu estou errada. Que eu sou burra. Ou que sou muito chata. Uma delas, ou todas de uma vez. Faz eu pensar em fazer uma audiometria. Frases entrecortadas, cada dia mais curtas, palavras ininteligíveis. Nada, mãe, tenho preguiça de falar, tipo assim. Ufa, é só isso. Portas fechadas, segredos, e mudanças bruscas de humor. Haja yoga e meditação. Para mim, lógico. Paciência. Mais uma dose, por favor.
 Adolescência.Todo mundo já passou por isso, ou vai passar. Às vezes tarda, mas nunca falha. Existe a adolescência tardia, o pior tipo. Um dia ela vem, cedo ou tarde.Em geral demora para ir de vez. Volta em flashes, ao longo da vida. Quantas vezes, depois de adultos, nos sentimos como adolescentes? Sempre que a gente se apaixona, por exemplo. Fica bobo. Quando ouve uma música. Quando enfrenta um desafio, quebra um tabu. Quando assiste a um filme como o de hoje.
Quando se tem filhos, passa-se duas vezes. Ou mais, dependendo do número de filhos. Na adolescência deles, revisitamos a nossa. Em todos os sentidos. Por eles. E por nós. Afinal, somos crianças como eles serão, quando eles crescerem. Eles mudam, e nós corremos atrás. Apavorados. Como já fizeram com a gente antes. Como eles farão com os seus, um dia. A gente se preocupa, e eles fazem pouco caso. Como já fizemos antes deles, tal e qual. Outro dia meu filho chegou na sala e disse: "mãe, estava ouvindo Legião. É muito legal."  E assim a vida se repete, e vamos nos sentindo e vivendo como nossos pais, e como nossos filhos, e como eles, com os filhos que um dia terão.
Adolescência. Malabaristas todos somos, continuamente. Ad infinitum. Equilibristas no fio desta vida. Mas, justiça seja feita, nunca este equilibrar-se é tão difícil quanto na puberdade. O bom é que um dia  isso tudo passa.
Ou não. A adolescência poderia perfeitamente vir com um aviso: cuidado! Fase perigosa, você pode, ficar preso para sempre. Eu mesma conheço muita gente que nunca conseguiu sair. Juro. Estão lá até hoje. Tipo assim.
Presos, eternamente. Naquele tempo perdido.




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