quinta-feira, 31 de maio de 2012

Auto engano

E a gente cria nosso próprio sofrimento o tempo todo. Frustrações.Somos ótimos nisso. Em ter expectativas. A respeito de quase tudo. E ,veja só,que ironia, temos expectativas em relação a pessoas também.  Não é engraçado? Por que será que não conseguimos tirar o filtro que nos convém, e enxergar as coisas e  o outro, como realmente são? Ou o mais próximo do que são? Pelo menos.Não, né, temos nossos desejos e crenças, e criamos histórias, e vemos coisas que nunca existiram. Inventamos.O tempo todo. Esperamos que o cahorro mie. Que o cego enxergue. Que o surdo ouça. Que o burro nos entenda. Que o outro nos complete. Esperamos tanto.  Mesmo quando sabemos que não podemos. Mesmo de onde sabemos que não podemos. Mesmo da gente mesmo, que às vezes também não pode. Às vezes nem a gente pode preencher nossas expectativas.Se eu tivesse direito a um só pedido, pediria que me livrasse deste mal, amém. Que eu ganhasse o dom de enxergar as coisas como elas são, sem tirar nem por, e ao mesmo tempo, mantivesse intacta minha capacidade de amar, assim. De amar sem esperar.De amar o que é, e não o que poderia ser. Aceitar e não mais me auto enganar. Nunca mais.

domingo, 27 de maio de 2012

Solidão

Assisti novamente hoje ao belíssimo filme "Into the Wild" , ou, como traduziram: " Na Natureza Selvagem". Uma linda história de desassossego. Uma história bela e triste ao mesmo tempo.A história do jovem Chris e  sua inconformidade. Um filme que toca a alma da gente, que faz a gente viajar junto com ele nesta busca pela verdade. Que faz com que  sejamos  observadores desta sociedade doente e poluída. Poluída, com tanta tralha inútil, tantos carros, e arranha céus, e batatas fritas. Uma sociedade que consome sem critério, que quer cada vez mais, que nunca estará satisfeita. Que faz a gente ter vontade de largar tudo, também, e sair pela estrada em busca do que não é artificial. Em busca de conexão.
 Ele encontra, em seu caminho, muitas figuras autênticas, que o ajudam na sua jornada. Pessoas que o amam e acolhem. Simplesmente. Mas ele está em fuga. Sua busca é também uma fuga. Ele não pode ficar.
Quando finalmente encontra suas respostas, e resolve voltar para o mundo, é tarde demais. É derrotado pela natureza que tanto amou. Sua conclusão? "A felicidade só é real quando compartilhada". Talvez não tenha sido a natureza selvagem seu grande algoz, afinal. Talvez tenha sido, simplesmente, a solidão. Porque ele não conseguia perdoar. Até conseguir. E ser tarde demais."Se eu chegasse sorrindo, vocês seriam capazes de ver o que vejo agora?" Foi derrotado pela aridez.. De sua própria solidão.

sábado, 26 de maio de 2012

Passou

Devia ser umas cinco da tarde. Estava na lotação.Meio dormindo, meio sonhando acordada. Com os pensamentos voando longe, em uma espécie de transe. Então ela o viu. Fazia um par de anos que não o via. Que já não tinha notícias dele. Levou um susto. Acordou totalmente. Presa em um congestionamento fora de hora, a lotação parou bem na frente de um bar. Não era bem um bar, era um destes trailers de lanches com uma lona amarela desbotada, algumas mesas e cadeiras de plástico na calçada. Ele estava ali. Sozinho. Fumando um cigarro. Na mesa uma garrafa de cerveja de litro. Ele não a viu. Estava também absorto em seus pensamentos, ela poderia jurar. Sentado, sozinho, naquele lugar um pouco vulgar, no meio da avenida Santana, em plena terça feira. Fumando. Bebendo. Sozinho. Ela o achou envelhecido. Cansado. Teve vontade de descer da lotação. Dar um abraço. Dizer que sentia muito. Mas não teve coragem. O sinal abriu, o trânsito andou e ele ficou . Passou.

quinta-feira, 24 de maio de 2012

Rituais de despedida

Hoje comprei umas flores para o Napoleão. Crisântemos brancos. Arrumei em um vaso bem bonito e acendi um incenso. Fiz uma pequena prece, desejando que tenha ido em paz, e que esteja em paz. Em algum lugar bem bonito, em um céu de gatinhos fofos e felizes. Sinto muita saudade. Minha rotina ainda está carregada de hábitos relacionados a ele. As coisas mais absurdas provocam o choro. Só sabe quem viveu. Só quem conviveu sabe a falta que ele faz.
Senti necessidade de um pequeno ritual. Por isso as flores, o incenso, a oração. Por ele. E por mim. A morte, tão certa, sempre nos toma de surpresa. Tão definitiva, é passagem só de ida. Voltar atrás, não pode. Não pode mais pegar no colo, fazer um carinho, dar um agrado. Dizer me perdoa, dizer eu te amo.Não pode mais. A morte leva com ela qualquer chance de recomeço. Leva todas as chances. Por isso é tão difícil aceitar. Por isso, os rituais. Rituais de passagem. Porque não conseguimos entender. Porque a morte nos deixa carregados de culpas, de porquês e senões. E de "ses"...E nos deixa doendo de tanta saudade. Órfãos de um afeto.
Mas a morte, esta coisa tão certa, é também professora. Ela nos mostra nossa impermanência. Ela nos lembra que estamos de passagem. Que absolutamente tudo é provisório. E por isso, tudo é importante. E quase nada é relevante. Quanto tempo perdemos com brigas bobas, pessoas bobas e situações mais bobas ainda.? Quanto sono perdido por problemas que viram pó muito antes de nós? Quanto valor dado para coisas que não tem valor algum? Quantos beijos não dados,  quantos amores negados? A morte nos mostra o que é essencial. Tira as máscaras.Faz uma bagunça danada. Depois a gente dá um jeito. Se reinventa. Fica um buraquinho aqui, um remendo ali, uma substituição mais adiante. Muda quase tudo. Mas fica o que importa de verdade. E o que importa não são estes rituais que a gente faz para tentar se consolar. Para homenagear, ou seja o que for. O que fica é a certeza de um amor compartilhado.Ficam as lembranças de uma vida, breve ou longa. Fica a máxima de que devemos valorizar e cuidar enquanto temos, enquanto somos, porque depois pode ser muito tarde. A vida é aqui, é agora, está acontecendo. E, no fim de tudo, ficamos.Um pouco mais sós.

quarta-feira, 23 de maio de 2012

As quatro estações da alma

As árvores da Redenção estão com aquela cor meio dourada, meio alaranjada, típica desta época do ano. Apesar deste outono  estar atípico, com pouca chuva e quase nada de frio. Outono. Meia estação. Bela estação. Me faz pensar: se existe algo chamado inverno da alma, não teríamos também um outono da alma? Uma primavera? Um verão? Todas as estações da alma? Todas nossas variações de humor, representadas nas quatro estações do ano.
Verão: calor, sol, dias mais longos, noites mais curtas. Convite para a alegria, para a festa, para pouca roupa.Vida para fora. Paixão. Euforia.
Inverno: noites longas, dias curtos e chuvosos. Frio. Uma tristeza. Um recolhimento. Vida para dentro.
Primavera e outono: estações intermediárias. Temperaturas amenas, agradáveis. Transição. Nem tão para dentro nem tão para fora. Equilíbrio.
Bom se púdessemos viver sempre no outono ou primavera. Equilibrados, tranquilos e amenos. Felizes. Sem ter que suportar o calorão de um verão sem praia, sem sofrer paixões doentes, que nos tiram o chão e a razão. Sem ter que suportar o frio congelante, que penetra na roupa e na alma, da tristeza que paralisa e aprisiona. Bom? Tão prevísivel, tão tudo igual. Bom de verdade? Seria mesmo?
 Como seriam nossas vidas se não existissem os extremos de temperatura e humor? Sem a sensação de dias maiores, mais alegres, sem um banho de mar ou uma caminhada na areia? Uma conversa jogada fora, sem pressa, com preguiça. Sem uma paquera gostosa, um amor sensual? Sem um tesão enlouquecedor?
Como seriam nossas vidas sem as noites longas de inverno, que convidam a ficar em casa,  conviver com a família, a olhar para dentro de si? Olhar para o outro, e conhecer, de verdade. Aprofundar laços e amores. Tomar um vinho e dormir juntinho?
Não. Não podemos estar no meio sempre, as pontas são  fundamentais. Equilíbrio é bom, mas  ótimo é morrer de tanto rir, quebrar tabus e soltar os bichos. Se apaixonar perdidamente. Equilíbrio é bom, mas necessário é ir lá no fundo, deprimir mesmo, chorar um balde, ou vários.Sentir o vazio. Crescer.E renascer na outra primavera.
Porque somos assim. Alternâncias. Feitos de verões e invernos, alguns outonos e tantas primaveras. Estações que se revezam na alma da gente. O tempo todo. Em um mesmo dia. Em um só minuto. Ou ainda, tudo junto e ao mesmo tempo, como na TPM. Loucos, equilibrados e imprevisíveis. Tão difíceis de entender quanto alguns boletins meteorológicos.

terça-feira, 22 de maio de 2012

Simplesmente amo você

Amo você que me mostrou como é simples amar você.
Amo você que me tirou o medo de um amor simples.
Simplesmente amo você.




Porque um dia, acreditei que amor era um bicho de sete cabeças. Que dizer te amo era um compromisso. Que amar era complicado. Que se devia economizar. A palavra amor. E o sentimento também. Que se precisava ter muito cuidado. E muita certeza. Achava que o amor era sério. Até um pouco triste.
Por um tempo pensei que fosse assim. Solene.
Estava enganada, que bom. Amar é apenas isso, amar. É bonito. E simples.
Simplesmente, amo você.

segunda-feira, 21 de maio de 2012

Dor de saudade

Como um piscar de luz numa queda de energia. Mal se percebe. Tão rápida.
Como uma lufada de vento frio na cara. Te acorda.
Ou ainda como uma náusea, uma ânsia, uma golfada. Te vomita.
Te pega pelo cabelo. Na rua. Do nada.
Acontece de repente. Um soco no estômago. Ou  peito.
A dor.

domingo, 20 de maio de 2012

Vazio

Aí você chega em casa. Vai abrir a porta e nada. Nenhuma sombra te espera. Você entra com as compras e tudo é silêncio e quietude.Nada se mexe. Ninguém vem ao seu encontro. Você olha em volta, procurando. Vê a máquina de lavar roupa, tão solitária e desabitada, e as lágrimas começam a escorrer. Você vai guardando tudo, e não precisa se preocupar em deixar nada  em cima da mesa ou balcão. Ninguém vai pegar. Você sente dor. Você olha os cantinhos à procura de um outro olhar. Nada. Vazio. No chão da cozinha ainda estão os potinhos de comida. Tão tristes. No quartinho, o gato de pelúcia meio destruído, muito parecido, companheiro de tantas madrugadas. Abandonado.Você sente saudade. Saudade doída, definitiva, implacável. Você lembra de algo, e sorri. Sorri, no meio das lágrimas, porque são muitas lembranças doces. Você se culpa. Você sabe que não tem culpa. Você sente dor.
Hoje a casa ficou sem dono. Está triste, muito triste. Amanhã volta o outro pequeno morador. Ele também vai sentir falta. Todos vamos.Nossa pequena família. Dizer adeus, mais uma vez, dói. E ainda vai levar um tempo. Para que as lembranças não causem dor. Para cicatrizar a dor desta ausência.  Para que todos os pêlos desapareçam. Descansa em paz, Napoleão. Você foi um lindo presente.

sexta-feira, 18 de maio de 2012

Meu gato

Era uma vez um gatinho cinza, peludo e de lindos olhos azuis, chamado Napoleão.
Napoleão é um gatinho que parece persa, mas não é. Na verdade, dizem que sua raça é himalaia. Não importa. Ele é lindo e fofo. E doce. Quando era bebê, não andava, pulava. Pulava de um lado para outro, uma bolinha de pêlos, de olhos brilhantes e atentos, entre desconfiado e feliz. Se metia nos lugares mais malucos, sumia das nossas vistas atrás de qualquer coisa que se mexesse, e dava o maior trabalhão para achar. Depois, mais velho já, se tornou um gato calmo e suave, e carinhoso lá do jeito dele. Porque gato não distribui seu amor para qualquer um. Não. Primeiro você tem que merecer. Merecer sua confiança. E seu amor. Mas, depois que ele decide que você é digno de ser amado por ele,  vai te esperar na porta, vai ronronar para você, vai te seguir pela casa e deitar na sua cama. Vai te dar um amor maduro, tranquilo e leal. Nada dos arroubos apaixonados dos cães .Porque gato é diferente. Tem critérios. Não sai amando o primeiro que aparece. Mas quando ama, ama baixinho e ama de verdade. Pressente tua dor e se enrosca na tua perna. Te afaga e acolhe, e se retira na hora certa. Nunca é inconveniente. Sabe que cada um tem seu espaço, e respeita isso, na maioria das vezes. De vez em quando ele some e você o encontra numa prateleira do seu armário, enrolado nas suas roupas pretas. Elemento surpresa. Faz parte da aventura de se ter um gatinho em casa.( assim como uma daquelas escovas de tirar pêlos). Nunca se sabe de onde ele vai surgir, ou onde vai se esconder. Nosso amiguinho Napoleão tem apenas 4 anos, mas está doente, e com doença séria. Ainda não sabemos o que vai acontecer. Estamos tristes e com saudade,  e a casa parece estar sem dono. Tem gente que diz que não vale a pena ter bichinho de estimação, porque a gente se apega e sofre quando acontece algo assim. Eu não concordo. Acho que vale, e muito, cada minuto. Cada brincadeira de bolinha de sabão. Cada sesta na cama do JP. Enfim, cada dia que passamos juntos até hoje. Ele chegou na nossa casa num momento difícil, e tornou nossa vida mais leve e divertida. Compartilhou com a gente muito amor. E amor, quando compartilhado, sempre vale a pena. Mesmo que se chore depois. Não se chora em vão. Nunca.

sábado, 12 de maio de 2012

Para você

Para você,
Não vou trazer minha dor.
Não vou trazer minha merda para você.
Você não merece.
Vou trazer para você uma flor. Ou várias.
Um buquê.
Novo. Fresco. Lindo.
Tem espinhos, claro.
Mas tem cheiro bom.
Para você.
Você merece

sexta-feira, 11 de maio de 2012

A rosa vermelha

Mais um dia das mães chegando. Data comercial, campeã de vendas no comércio, etc e tal. Eu, que não ligo a TV há umas duas semanas, vou passando ao largo desta coisa toda, nem estava lembrando. Até hoje, quando ganhei umas rosas,no trabalho e na lotação. Não tenho mais minha mãe comigo, Com este ,serão cinco domingos de maio sem  sua presença física. Passa rápido. Cada vez dói menos. Fica uma saudade boa. De um jeito ou outro ela está aqui, e sempre vai estar. Bom saber disso. Confortante. Porque um amor de verdade não se acaba, só muda de forma.Se transforma. Vive, para sempre, em todos pelos quais foi tocado. Então tá. Não vou ficar triste.E não foi por isso que comecei a escrever.
Foi por causa das rosas. Por minha causa. Eu, que há 11 anos tenho a sorte de viver a experiência da maternidade, com suas dores (poucas, ainda bem) e bençãos e alegrias (muitas, que bom). Tenho a honra de ser mãe de um guri muito especial, que com certeza é o meu melhor presente. De todos os tempos.É com ele que coloco em prática o que aprendi com minha mãe (com algumas variações, assim espero). É com ele que brigo, e dou risada,   e pago mico todos os dias. É por ele que volto para casa  para almoçar,todo dia, mesmo tendo um horário tão apertado e corrido. É por ele que tenho um gato, um cachorro e um pouco mais de paciência do que tinha antes. É por ele que hoje sou melhor que ontem.  É com ele que tenho conversas incríveis.É com ele que faço até rafting, que viajo, mesmo sem sair de casa. Foi, e é com ele, que aprendi  e aprendo sempre, o significado da palavra AMOR. Meu melhor presente. Meu grande professor. Meu melhor amor. Por ele que escrevo. Por ele e pelas rosas vermelhas da lotação. Obrigada JP,  pelo privilégio da tua presença na minha vida.

terça-feira, 8 de maio de 2012

Novos dias

Aprenda a deixar o que você não pode controlar...ir! Aprenda a não querer controlar.
Porque no controle está o medo. Não existe nada de belo no controle, na verdade ele nem existe. Porque, além do controle remoto da TV e do vídeogame, o que mais você controla de verdade? Você pode até achar que controla, auto engano. A vida é uma grande roda gigante, uma roda viva que carrega as certezas para lá. Todo o tempo. Ou você ainda não percebeu? Um dia você está aqui, no outro não mais. Você não controla nem a si mesmo. Nem seus humores, nem seus amores. Muda a cada instante, vive em minutos uma dor profunda e uma alegria imensa. Muda de opinião como quem troca de roupa. Muda os planos, os sonhos e o cabelo. Todo o tempo. Você não controla a si mesmo. Mas quer controlar o outro. Exige rotina, constância, fidelidade. Só para não encarar o medo. O medo de perder o controle. O medo de não saber. Controla até pensamento. Coloca uma grade no amor, e ele muda de nome. Vira controle. Medo. Bicho enjaulado.
Hoje eu quero deixar meu controle aqui, para voar junto com estes  balões, para que se transforme em poeira no vento. Quero não ter o controle, nem da TV, nem da minha vida. Quero a adrenalina do desconhecido, a surpresa sempre. Quero a flexibilidade de viver cada momento, sem tentar  aprisionar e enquadrar. Nada nem ninguém. Quero todo novo dia, novo.

domingo, 6 de maio de 2012

A lua gigante

A lua continua linda hoje, continua espremida entre os prédios, coitada, mas o céu tá tão bonito e tão limpo que dá para se pensar que está em outro lugar mais...inabitado (?). Uma praia ou um campo talvez. Só imaginação, mas que dá para ver as estrelas,muitas, e algumas nuvens bem leves que passam pela lua sem ofuscá-la, como um véu delicado ou uma fumacinha bem fina, ah isso dá.Parece mágica.E hoje dá para ver bem nitidamente o coelhinho da lua, também. Alguém conhece? Enfim, quem puder, dá uma espiada. Tá bonito. Não tá assim, mas tá bonito.

sábado, 5 de maio de 2012

Pensamentos de sábado à tarde

Matando o tempo no facebook, em uma daquelas páginas de mensagens, dei de cara com esta frase: "alguém mais está feliz com menos do que você tem". É?  Mesmo? Não que eu não concorde, em termos, com o que está escrito. Como médica, que trabalha com uma população danada de carente, muitas vezes tomo o que chamo de "choques de realidade". Estou lá, meio preocupada com algum probleminha classe média, e aparece alguém com uma história daquelas, que te tira o chão, que nem na sua pior imaginação você poderia inventar, e pronto. Lá se vão meus problemas ralo abaixo, devidamente enviados para aquele lugar. As coisas imediatamente assumem suas devidas proporções e sim, tem gente que vive com muito, muito menos. E muitas vezes até é feliz. Existem histórias fantásticas de superação, qualquer dia conto algumas aqui, porque são realmente incríveis. Lições de vida.
Tá, até aí, tudo bem. Mas não acho que saber que alguém vive com muito menos do que você e é feliz, seja algum consolo. Não quando a coisa fica feia mesmo, quando o sapato aperta e o coração dói. Aí não adianta nada saber disso. Porque cada um sabe de si, de seus desejos, expectativas e perdas. Saber que tem milhões de pessoas passando fome no mundo não cura minha frustração de ter queimado a comida. Aliás, nem lembro disso na hora. O que me consola não é saber que tem gente em pior estado do que eu. O lenço que enxuga minhas lágrimas não é o mesmo que enxuga as suas. As necessidades e as frustrações, são todas individuais e intransferíveis. Cada um tem a sua.Você só não pode perder a noção. Eu posso lembrar que sou eu quem dá o tamanho que quero ( ou posso) para os meus problemas. Acho que o que me faz feliz (ou não), só depende da minha própria criação de realidade. Só depende de mim.

sexta-feira, 4 de maio de 2012

JP

"Filho, desculpa, mas não vou poder assistir teu jogo amanhã, já tinha marcado cabelereiro".
 Resposta: "tudo bem, vou tentar conviver com isso o resto da minha vida"...
Ok, eu pago a terapia. :)

quarta-feira, 2 de maio de 2012

Para a filha que não tive

Preciso te falar.
Você pode e deve sonhar.
Mas precisa saber.
Que a vida é agora.
Que lá é um lugar que não existe.
Que príncipe encantado também não.
E muito menos final feliz.
Final feliz não existe.
Porque o final é só quando acaba. A vida.
O resto é fluxo, todo dia.Dia a dia.
Sonha menina, mas sonha acordada.
Para não se perder. De você.
Para não escapar . De nada.



terça-feira, 1 de maio de 2012

Surpresinha

É feriado, primeiro de maio.O dia está frio. Gelado. Cinza. Você está um pouco triste. Nada grave, só se sentindo um pouco como o dia. Nublada. Aí você tem que descer com o cahorro. Com este frio todo. A rua está vazia, o céu não tem cor, até as árvores estão desbotadas. Você vai andando distraída, com seu pensamento longe, o cachorro na guia. Então você vê. Uma pequena árvore. No meio da calçada. Cheia, tomada de flores. Flores roxas. Linda. Singela. Perfeita na sua simplicidade. E você sorri. E tudo muda em um segundo.E  você pensa que a vida é assim, quase sempre.Cheia de surpresas boas.No meio do caminho sempre vai ter uma flor, uma cor, um amor. Até mesmo em um cinza dia de outono com a maior cara de dia de inverno.Basta uma flor. Um sorriso. Basta querer. E ver.