quinta-feira, 27 de setembro de 2012

Uma paz qualquer...

 Já não dói tanto. Nem dá mais para chamar de dor. É mais uma coisa de fundo, meio indefinida, uma saudade ardida. Levemente desconfortável. Mas não é mais dor. É uma tristeza suave que vem da aceitação, uma espécie de  reconhecimento. Rendição, e paz. A paz de quem perdeu a guerra, meio machucada, dolorida, mas ainda assim paz. Paz da bandeira branca hasteada, de não precisar lutar mais nenhuma batalha inglória, de não tentar entender porquês.Paz porque finalmente cessaram as bombas e os canhões. Paz do vazio de não esperar mais nada, de se saber vencida. Derrotada. A paz de um país devastado, que começa aos poucos sua reconstrução. Pedra por pedra. Um dia de cada vez. A paz de um lugar em escombros onde de repente se acha,  no meio dos entulhos, a vida florescendo em botões de rosa, e se vê, novamente, um  belo motivo para sorrir. Esta sou eu, em recuperação.
 Meu primeiro pensamento ainda é teu. O último também. Confesso que mais alguns tantos, no meio do dia e nas horas mais loucas. Mas já posso chamar de pensamentos soltos, esparsos, e ao acaso. Nada daquele padrão obssessivo de um tempo atrás, tipo 24 horas por dia. Nada disso.
Dizem que quando nos apaixonamos voltamos a ter 17 anos. Mas o bom de não ter mais 17 anos, na vida real, é que a recuperação do amor não correspondido ( ou o que seja que faça uma história legal acabar), é bem mais rápida e bem menos dramática. Ficar sem comer ou dormir, por exemplo, até pode rolar. Mas ninguém tem tempo para morrer de amor, né, com todas estas contas para pagar, e trabalho a fazer, e filho para cuidar. Então tem uma hora em que a gente diz chega,  sacode a poeira e   levanta a cabeça. Acorda menina, levanta já , que o mundo lá fora te chama. Desapega deste sofrimento, agora! Olha a vida para viver!
 A tal "maturidade"me põe em perspectiva.E aí eu ponho você para o lado. E vou tocando o barco, como se diz por aí. Os dias vão passando, sem você. E eu percebo que sim, dá para seguir. Que não, o mundo não acabou. Ninguém jogou uma bomba assim com tamanho poder de destruição. E percebo que os pedaços que sobraram são mais que pedaços, nem são pedaços. sou eu, inteira, de novo. Mais triste, um pouco desconfiada, com um muito de saudade ainda. Sabendo que a saudade faz parte. Porque foi bom, e foi bonito. E foi amor. Mesmo que talvez não seja mais. Ontem, ouvi em um filme o seguinte diálogo, e lembrei da gente:
-Às vezes dói muito lembrar.
-Eu acho que doeria mais esquecer.
 Então eu fico com a lembrança do que não posso e nem quero esquecer. Guardada em uma caixa bonita, a caixa das lembranças que valem a pena guardar. Fica em cima do armário, e passo longe dela, por precaução, mas às vezes ela cai na minha cabeça. Sou meio desastrada. Nessas horas dói de novo. Coloco a caixa de volta.Você está ali, adicionado recentemente, e isso é quase uma honra. Olha que ela não é para qualquer um, não. Pouca coisa fica de verdade. Acho que você nem sabe como foi importante. Eu sei, e isso basta. Mas, guardado na caixinha, você não me atinge tanto, e eu posso seguir em frente. Eu e meu projeto de reconstrução.  A parte vencida por seu adeus. Finalmente rendida. Em paz, com uma paz qualquer.

quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Conversa com a Duda

 Há cerca de um mês, Porto Alegre estava tomada de ipês roxos em flor. Era uma verdadeira festa para os sentidos. Onde você menos esperava, em uma esquina qualquer, no meio de uma avenida barulhenta, nas praças, no parque da Redenção ( foto). Por todo o lado, uma explosão de cor. Lindo, simplesmente. Não havia quem não percebesse. Impossível não se deslumbrar.
 Conversando com uma amiga justamente sobre a beleza destas árvores e da cidade nesta época,  ouvi o seguinte comentário, da filha dela, de 8 anos:"lindo mesmo, pena que depois a gente esquece, né? E nem vê mais". Eu respondi: a gente não esquece. Acostuma. E quando a gente se acostuma, a gente deixa de ver. Aliás, isso vale para praticamente tudo em nossas vidas, desde objetos até pessoas e relacionamentos. Com o tempo, se não estamos atentos, a gente para de enxergar. Não percebe mais o que está à nossa volta, por costume e hábito. Passa pela rua sem perceber a flor amarela, o cachorro manco, o buraco no chão. Cai na calçada e ainda se pergunta como. Entra em casa sem ver o sofá rasgado, o gato malhado, o amor esfomeado. Prepara um prato qualquer e depois não entende porque o amor foi embora. Pela janela, junto com o gato. Deita no sofá e é atingido pela mola, que escapa do buraco, que não percebeu.
 A força do hábito nos rouba a visão. Rouba a capacidade de nos encantarmos com uma rosa, uma árvore, um sorriso. Rouba o encanto,e o prazer. De olhar para tudo com olhos de início. Leva nosso olhar curioso e apaixonado. Que pena! Quem dera pudéssemos, todo dia, passar pela vida absorvendo cada detalhe e cada cor e cada cheiro. Vendo e absorvendo todas as flores. Sem nos acostumarmos, nunca. Não, Duda, a gente não esquece. Mas acostuma,  e deixa de ver. Ou talvez sim, a gente esqueça. Esqueça de aproveitar enquanto temos. A gente não lembra que tudo passa. E sabe? Os ipês roxos não estão  floridos agora. Não mais. Passaram.

terça-feira, 25 de setembro de 2012

Tormento

                       
                                         Tormento
                     
                   
                       Foi ele o  culpado.
   
                        O  vento.

                        Desarrumou meu cabelo

                        Bagunçou meu coração

                        Cantou para eu não dormir.

domingo, 23 de setembro de 2012

Liberdade

"A verdade é sempre libertadora, quer você goste, ou não". A frase,  mais ou menos assim,  foi retirada do excelente filme  A chave de Sarah a que assisti hoje à tarde. Um belo filme francês, que conta mais uma vez a triste história de julho de 1942, quando a polícia francesa retirou milhares de famílias judias de seus lares, levando-os para o velódromo de Paris, e , enfim, o resto todos sabemos, ou deveríamos saber. O filme, que se passa em duas épocas, atual e pregressa, mostra a história desta menininha, Sarah, e vale a pena assistir.
Mas não era sobre o filme que eu queria falar. Era sobre a frase. Sobre a verdade. Sobre como tememos e evitamos a verdade, tantas e tantas vezes. Em como preferimos manter o véu tênue de uma ilusão a encarar a realidade. Em como inventamos histórias, e desculpas, e mentiras sinceras para não termos que olhar na cara dela. Desta verdade que não queremos admitir. Porque ela pode doer, claro, e quem gosta de sentir dor? Bom, alguns gostam, mas isso já é outro assunto. A maioria de nós não gosta. Fugimos da dor com analgésicos e antidepressivos e meias verdades, todo tempo. Encarar a realidade requer uma boa dose de coragem. Para ver o que você não quer ver, ouvir o que você não quer ouvir, admitir o que você, no fundo, já está cansado de saber, mas até finge que não. Se faz de bobo por uma ou duas migalhas, esquecendo que não é nenhum passarinho para viver com tão pouco. Aguenta aquele sapato apertado porque é bonito, e custou caro, e você meio que já se acostumou com o desconforto. Esquece do alívio que você vai sentir, ao tirar. Mesmo que fique uma bolha. E que você chore um pouco. Que sinta dor, por alguns dias. Que sinta falta por algum tempo. Nada disso é desculpa. Porque vai passar, e nós sabemos disso. Estupidez é não querer a verdade e se contentar com doses homeopáticas de sofrimentos pequenos. É calçar o sapato apertado e esperar que ele ceda com o tempo. Mesmo sendo dois números menor que o seu pé.
Por pior que seja a verdade, ela é a verdade.Sempre. Libertadora na sua crueza. Na sua nudez. A verdade, nua e crua. Teve um tempo em que fugi dela. Me escondia em livros e sonhos e filmes, inventava minhas ilusões. Com a mania de ter esperança. Com meus olhos que sempre querem ver o melhor em tudo. Minhas lentes cor de rosa. Que coloriam até o que nem cor tinha. Eu tinha medo. Hoje não. Por mais que eu não aceite, concorde ou goste, eu quero, sempre, e mais do que tudo, a verdade. E a imensa liberdade que vem com ela. Mesmo que doa, e muito, saber é sempre melhor do que não saber.  Funciona  como um tapa na cara no meio de uma crise histérica: te acorda.Tem horas que só assim. E saber liberta, quer você goste, ou não. É transformador.

terça-feira, 18 de setembro de 2012

Amanhã?

 
Nada dura para sempre. Nós não duramos para sempre. Acho que esta é a verdade mais dura de se acreditar. Deve ser por isso que vivemos desta maneira, inventando mil jeitos de fugir desta verdade. Atores. No palco de uma vida inventada para parecer eterna. Uma vida em que podemos tudo e temos todo o tempo do mundo. Não é preciso fazer escolhas, somos onipotentes e onipresentes.Podemos alinhavar sem pressa todos os fios deste tecido, e não faz mal se não está tão bom, porque amanhã, ou depois, se dá um jeito. E vamos, empurrando com a barriga, decisões e atitudes, porque temos a eternidade para fazer melhor. O que seria de nós, seres imortais, se nunca tivéssemos um amanhã? Se nunca tivéssemos o amanhã, continuaríamos fazendo as mesmas escolhas e vivendo a mesma vida? Continuaríamos lutando contra moinhos de vento, e cultivando mágoas? Adiando encontros? Se o amanhã nunca chegar, como diz a canção, ela saberá que você a ama? Seu pai, seu filho, seu melhor amigo, eles saberão disso?
  Exageros à parte, acho que a gente não precisa viver como se não houvesse amanhã. Mas precisamos e podemos lembrar que um dia, finalmente, o amanhã não virá. Que há finitude em tudo, e que a nossa própria mortalidade não seja motivo de medo, ou de fuga. Pelo contrário, que esse entendimento sirva para nos libertar. De tudo que já não funciona e de tudo o que faz mal, e ainda, de tudo que "não está tão bom". Que sirva para nos lembrar que o tempo é curto, e é precioso demais  para ser gasto com qualquer coisa que seja menos. Menos do que você sonhou, menos do que você merece, menos do que você quer e menos do que você precisa. Valioso demais para ser mais ou menos.  Que esta verdade absoluta nos traga a consciência do tempo e ensine a relativizar, sempre que for preciso. E sempre é preciso. A proximidade do fim expõe e escancara o que realmente importa nesta vida, que, queiramos ou não, é finita. Sem discussão. Que esta verdade sirva para podermos escolher, a cada dia, como, onde e com quem queremos estar. Do mesmo jeito que escolhemos o que vamos vestir, no dia a dia. Escolher sempre, só por hoje.

Dani Altmayer

segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Medo de trovão

E o dia se tornou noite, assim, de repente. O céu escuro iluminou–se de raios, e até era bonito.
Era bonita a tempestade, vista deste jeito, pela janela. O céu cortado por lampejos e clarões. Bonito, sim. Mas assustador também. Bela, como só a natureza pode ser, na sua fúria e também na sua calmaria. E perversa, no seu silêncio pré- temporal, na água sem fim,  que por fim desaba, enchendo as ruas, e os arroios, e os buracos desta cidade. Cidade de pedra e de lata. Assustadora porque transborda, não cabe em si, e se espalha. Entra pelas frestas e pelos vãos e pelos poros. Pelos sapatos. Entra em cada cantinho e cada buraco, e cada esquina. Parece cachoeira. Inunda o dia e atrapalha o fluxo. Do trânsito e do meu pensamento. Transforma luz em trevas, dia em noite e faz um barulho danado. Um estouro surdo, ora bem longe, ora bem dentro de mim. E eu tenho medo. É bonito, mas tenho medo. Tenho medo do que é bonito, do que não tem controle, e transborda. Tenho medo porque o chão é de pedra, e não absorve este aguaceiro. E porque faz barulho, muito barulho. A água batendo na lata, e na pedra, e escorrendo pelo asfalto. E tudo se torna assim, embaçado, molhado, confuso. E é preciso correr, desviar, fugir. Em vão. Não se foge do que é mais forte. Do que não tem controle. Faz tanto, tanto barulho. Não gosto do barulho. É bela e assustadora. Há que se admirar sua força. Sua ferocidade. Eu respeito. Mas não gosto de tempestade. Tenho medo de trovão. Tenho medo de transbordar, e me perder, na cidade que não me absorve. Nunca.

Dani Altmayer

sábado, 15 de setembro de 2012

A triste história da medicina

Em um 15 de setembro, no distante ano de 1928, foi descoberta a penicilina, por Alexandre Fleming. O primeiro antibiótico. Descoberta casual, como todas as grandes descobertas, mas um marco na história da medicina. De lá para cá a medicina evoluiu muito, de uma forma até então inimaginável. Grandes avanços tecnológicos, em termos de diagnóstico e tratamento, trouxeram grandes benefícios e o consequente aumento da sobrevida da população, em geral. Em termos técnicos, não há dúvidas a respeito desta evolução. Mas, em termos humanitários, tenho lá meus questionamentos.
Ontem estava fazendo as unhas e ouvindo as conversas paralelas. A outra manicure estava contando para uma cliente sobre o problema de saúde do marido, e falou a seguinte frase: "acho que agora acertamos com o médico! O outro nem olhava na cara dele!"
Veja bem ela não estava falando do tratamento em si, mas da atitude do médico. Como pode um tratamento dar certo se o médico nem olha na cara de seu paciente?
Há uns dias, ouvi de uma amiga, ela também médica, a mesma queixa em relação ao profissional a quem procurou para tratar um problema na tireóide. "Ele não me ouviu. Não levou em conta nada do que falei, e simplesmente prescreveu a medicação, sem maiores explicações, sem eu sequer concordar. "
E um terceiro caso, de uma amiga cuja filha está em investigação de um problema de saúde, com dificuldades em marcar consulta com a médica de sua eleição, ouviu da secretária a seguinte frase: "Olha, por que você não procura outro profissional?"
Detalhe, essa minha amiga já tinha levado a filha em uma outra médica, também particular, da qual não gostou por absoluta falta de empatia. Apesar da mesma ser uma profissional de renome e excelente reputação técnica.
Eu poderia ficar contando inúmeras histórias semelhantes. Tenho algumas pessoais, referentes ao longo ano em que minha mãe ficou doente, percorrendo um sem número de consultórios e médicos em busca não só de tratamento, mas, e principalmente, em busca de conforto e acolhimento. Que recebeu sim, mas de poucos, muito poucos. Era uma de suas maiores queixas, não ser ouvida.
A pessoa enferma está, antes de mais nada, carente de cuidados e atenção. Fragilizada. Mas o que parece é que esta coisa chamada empatia, que não se ensina em faculdade nenhuma, é artigo de luxo e cada vez mais raro no meio médico. Tem uma curva de crescimento inversamente proporcional ao avanço tecnológico.
Sei que existem inúmeras razões para isso. Razões que vão desde a baixa remuneração, super lotação de hospitais, excesso de trabalho, falta de tempo, e etc. Todas perfeitamente válidas. Existe uma desvalorização do profissional médico sem precedentes. Sei de tudo isso, e eu mesma muitas vezes, em um final de plantão, já cansada, caio no piloto automático e esqueço. Esqueço que, ali na minha frente, não está um paciente, apenas. Ali na minha frente está um ser humano, assim como eu, assim como meu filho, assim como meu pai. Um ser que tem toda uma história de vida, que não está ali à toa. Uma pessoa que tem seus medos, suas dores, suas angústias. Esqueço que a sua doença, não é só uma doença, é a soma de tudo o que ele é. Um ser bio, psico, social e espiritual. Eu também me atrapalho, muitas e mais vezes do que gostaria. Cansada, é fácil esquecer. Mas isso não pode ser uma desculpa.
Empatia não se ensina. Mas se aprende. Olhar para o outro não somente com olhos diagnósticos. Ver a pessoa por trás dos sintomas.
Médicos de corpos e de almas. É desta evolução que a medicina precisa agora, urgentemente, sem negar nenhum dos inúmeros avanços que tivemos. Uma coisa não precisa excluir a outra. Afinal, pode estar faltando pouco, mas ainda não aconteceu. Ainda não viramos robôs. Ainda precisamos, quase mais do que exames sofisticados e pílulas milagrosas, de uma mão segura que nos guie.
No caminho escuro de uma enfermidade, ficamos frágeis e expostos. Mais do que qualquer outra coisa, procuramos alguém que se importe. Que consiga nos ver. Um médico que olhe na nossa cara.

Dani Altmayer

terça-feira, 11 de setembro de 2012

Tantos tons

  Procurar significados ocultos no óbvio.Tão perigoso quanto se atirar de cabeça em uma piscina de criança.Tão inútil quanto tentar arrumar o cabelo em dia de chuva.Às vezes um não é um não, um sim é um sim,, e nada está escondido atrás destas duas palavrinhas poderosas. Mas a gente insiste em dar mil interpretações, em ver "talvez", "quem sabe",  mil tons de cinza quando está tudo ali, bem claro. Preto no branco.Por que fazemos isso? Porque somos mulheres, e está ligado ao X. A capacidade de ver o que não existe. Ocultismo.
   Aliás, falando em mil tons de cinza, acabei de ler o livro do momento, Cinquenta Tons de Cinza. Adorei. Não passa de um romance água com açúcar, que só difere dos outros romances água com açúcar por ter bastante sexo no meio. Um romance erótico. Água com açúcar, e pimenta. Mistura estranha, que ficou gostosa. Só que é um livro para mulheres, os homens provavelmente começariam a  vomitar na terceira página. Mas talvez gostem do efeito que o livro pode ter nas suas mulheres...o que já é grande coisa, aliás. Dica de presente com terceiras intenções.Aí um amigo  me perguntou, não seria mais fácil pegar um filme pornô? Não. Mais uma vez entra em cena a diferença entre homens e mulheres. Eles são básicos. Para eles, sexo é sexo.Pá-pum. Para as mulheres também, mas é mais do que isso. Nós, por mais que gostemos, e muito ,do sexo em si , precisamos de romance.Não sempre, mas na maioria das vezes. Não  precisa muito, mas um pouco. Um algo mais .Gostamos da historinha, das flores, do cara lindo e complicado,das surpresas, etc. O cenário importa, e o contexto idem. Não sempre, apenas na grande maioria das vezes.Tipo quase sempre. Deve ser o X. Os hormônios.
   Parece que mudei de assunto, e até mudei mesmo, porque uma coisa puxou a outra, e a outra. E porque mulher é assim, de uma versatilidade  sem limites, capaz de falar dez assuntos ao mesmo tempo. Culpa dos hormônios, claro. Só que, se você for mulher, e olhar direitinho, vai entender que é tudo variação sobre o mesmo tema. Do quanto a gente pode complicar o que é simples.Até o sexo a gente complica, menina. Como pode?
  Vamos simplificar, e sim, levar ao pé da letra.Não é não, sim é sim. Literalmente. Sem olhar além, porque não tem nada ali não, fora a nossa fértil imaginação.O que a gente vê é o que a gente vê. O que temos é o que temos, o que é... é o que é..Bem assim. Incrível ! Pode não ser tão excitante, mas é bem menos perigoso. Principalmente para  a nossa saúde mental. E  bem mais fácil de ler, assim como o tal livro. Preto no branco, e com letras grandes. Literalmente.

segunda-feira, 10 de setembro de 2012

A sua ironia

Você mente,
Eu finjo.
Finjo que acredito,
Por enquanto.
Convém, afinal,
Prefiro ficção
À vida real.
No entanto
Problema seria
Você começar
A acreditar na  mentira,
Um dia.
E eu,
Eu  a duvidar da  verdade,
Da sua vontade.
Ah, generosidade mesquinha,
Falsa alegria.
Cansada... da sua ironia.

domingo, 9 de setembro de 2012

O silêncio e a UVA

  Pensar antes de falar. Ou escrever. E pensar mais uma vez, e outra ainda, e, se possível, mais outra. E respirar antes de falar. Comer alguma coisa. Ir ao cinema. Tomar um banho. Passear com o cachorro. Dormir uma noite de sono. E tomar o café da manhã.  Antes de falar. Ou decidir calar. Ah, como é difícil. Para uma escritora. Para uma mulher, engolir palavras é quase um pecado.

  As palavras têm poder, tanto para o bem como para o mal.Em um curso de meditação que fiz  um tempo atrás, o professor falou sobre isso, sobre uma coisa chamada UVA. Significa basicamente pensar antes de falar, e só abrir a boca ( ou o notebook) se o que vai ser transmitido for UVA. U significando útil. V significando verdadeiro. E A, significando amoroso. Útil, verdadeiro, amoroso. Que seja isso ou nada. Isso ou o silêncio. Porque vale a pena você dizer para alguém um eu te amo. É legal elogiar sinceramente. Desejar felicidades. Estas coisas. Coisas das quais você não tem como se arrepender depois.  Mas, e o oposto disso? É realmente necessário? Se você está com raiva ou sentindo vontade de sumir, não é melhor ficar quieto? Calar as palavras que podem ferir sem necessidade? Lembre-se, as palavras, uma vez ditas, ou escritas, não te pertencem mais. Quantas vezes você, eu, tomados pela emoção do momento, falamos coisas sem pensar, coisas nas quais nem acreditamos, ou não temos certeza, e minutos depois já estamos pensando, nossa, o que foi que eu fiz? Por que disse isso?

  O silêncio sim, este pode ser ouro. Ele te dá a chance de mudar de idéia. De acomodar emoções. De repensar. Mudar de perspectiva, e isso sempre é bom. E talvez a gente nem mude de idéia no fim das contas. Continue pensando que ela é uma vaca, que ele é um cachorro ( os pobres animais inocentes ), mesmo depois de ter respirado 100 vezes e acendido 10 velas para iluminar os caminhos. Mesmo assim. Você tem certeza, já pensou a respeito. Vale mesmo a pena dizer? Tem algo a ser falado, você precisa muito desabafar? Tente antes as paredes do seu quarto, o pobre do seu terapeuta ou a ascensorista do elevador. Se mesmo assim nada te aliviar, então ok, vai lá e xinga mesmo, mostra para ele (a) como você se sente, o quanto você o (a) despreza, enfim... A escolha é sua, e nem sempre dá para engolir. Realmente, tem coisas  que são grandes demais para digerir sem saliva. Tem coisas grandes demais para calar. Fala então. Grita, até, faz bem de vez em quando.

  Mas lembra que quase tudo cabe em um bom silêncio. Todas as dores, as amarguras, e todas as alegrias, e todos os amores. No silêncio cabem todas as possibilidades.Todas as perguntas, e todas as respostas. Ele fere, mas ele cura. Porque um silêncio não fecha portas. O silêncio tem um quê de mistério. Tem charme. Ele fala por si. O calar, muito mais que o falar, é uma arte. Uma arte difícil, a ser aprendida. A  bela arte de saber calar. Bela porque, como diz uma amiga, o menos é mais. Bela e difícil. O silêncio e sua complexidade . Mas, acima de tudo, o silêncio e sua simplicidade. Porque sim, um belo silêncio vale mais do que mil palavras. É luxo.

quarta-feira, 5 de setembro de 2012

Querida amiga


Querida amiga,

   Preciso falar com você. É importante.
   Sabe, tudo tem um valor. Não necessariamente um preço. Porque existem coisas, muitas, as melhores, que dinheiro nenhum pode comprar. Mas isso não quer dizer que estas coisas não tenham um valor. Tudo tem, e o valor de cada uma delas pode ser diferente para cada um de nós Depende do modo de olhar.. 
 Assim como as coisas, todos nós também temos um valor. Intrínseco e extrínseco. Mesmo que muitas vezes esqueçamos disso. Mesmo que muitas vezes esperemos, equivocadamente, que este valor nos seja dado por outros. Como, gente, alguém vai adivinhar o valor que você tem, se nem você mesma sabe ao certo?  Você espera do outro algo que só você pode determinar. Se você não coloca seu preço, amiga, vão te levar por qualquer trocadinho,  porque o povo gosta de uma pechincha. Mas também, levam e esquecem em qualquer canto, e você nem pode reclamar. Quanta tranqueira você mesma já comprou só porque era baratinho, e depois nem tchum?  O que vem fácil vai fácil, é assim que a maioria pensa. E pesquisas já mostraram que o objeto caro é mais valorizado do que o barato, mesmo que seja exatamente a mesma porcaria,  só que uma vendida em uma loja chique do bairro e a outra na loja popular do centro. Atitude, minha querida, marketing pessoal. Valor agregado, que se soma ao valor intrínseco. Valorização do produto.
 E não me vem com aquele papinho de que as pessoas precisam enxergar você, reconhecer seu valor. Como, me diz? Você está sem etiqueta, minha amiga, não dá para comprar assim, sem saber o preço. Ninguém entra em uma loja e sai levando mercadoria sem saber quanto custa. Ninguém em sã consciência, ao menos. Precisa ser específica. E clara, para que saibam. Mas não põe qualquer precinho camarada, não. Nada de remarcar, liquidar, só para ver se acaba o estoque, se esvazia a  prateleira. Você não é qualquer  made in china , afinal de contas. Nada de souvenir. Põe o preço justo. Que corresponda ao seu valor real. Valor este que só você pode determinar, ninguém mais. Porque só você sabe o quanto custou chegar até aqui. Só você sabe de onde veio ( e não foi da China, acredite).Nada de linha de produção, você é exclusiva. Material de primeira. Só você sabe o quanto você vale. Vai, põe o preço aí. Mas cobra caro, sem medo. Só assim você vai encontrar quem te banque. E não estou falando em grana. Você não precisa de financiamento, graças a Deus, você se garante. Mas cobra caro, para encontrar alguém que banque a mulher que você é, e sabe que é. Alguém que saiba o quanto você é rara. Encontrar  quem  reconheça sua singularidade, e pague para ver. Que não se assuste com o seu preço. Alguém com tanto valor quanto. Um valor que, se não for igual, seja ao menos equivalente ao seu. No mínimo. Lei da atração. Tá?
           Se cuida, querida, um beijo.

  

terça-feira, 4 de setembro de 2012

O umbigo

O umbigo. Uma pequena cicatriz localizada no abdome. Depois que deixamos o ventre materno, não serve para mais nada, é apenas isso, uma cicatriz. Mas, durante a gestação, é através do cordão umbilical que o bebê recebe o alimento e o oxigênio necessários para se desenvolver durante os nove meses de gravidez. É essencial, eu diria. No momento do nascimento, ele é cortado, e fica um coto, que depois de uma semana, mais ou menos, também cai. Ocorre a separação efetiva, e passamos a existir como seres independentes. Daí vem a expressão tão usada, cortar o cordão umbilical, quando nos referimos a deixar ir alguma coisa, a separações, a busca de independência. Temos que cortar o cordão umbilical. Nem sempre é fácil. E fica sempre uma cicatriz.
Do ponto de vista esotérico, esta cicatriz corresponde ao nosso terceiro chakra, que é também conhecido como plexo solar. Na verdade, o plexo solar localiza-se a uns dois centímetros acima do umbigo, no abdome, que é o centro de força do nosso corpo. É o centro da energia. Está relacionado o ego e à personalidade. Tem muito a ver com poder pessoal, e auto estima.
 E, por falar em auto estima, existem umbigos e umbigos. Uns bonitinhos, outros esquisitos, alguns para dentro, outros salientes. Cada um tem o seu, e como se diz por aí, cada um deve cuidar do seu. Isso significa, resumindo, não se meter na vida dos outros, o que é um conselho bem legal.
Mas algumas pessoas levam muito a sério esta recomendação de cuidar do seu umbigo e não fazem mais nada. Além de olhar o próprio umbigo. Não enxergam adiante. Do seu próprio umbigo. O que tem seu lado bom, afinal, depois que se corta o cordão, é cada um por si, mesmo. Quem melhor do que você para saber do seu umbigo? Ninguém, eu acho. Então ok, cuide bem do seu.
Mas não exagere. Afinal, se só o que eu consigo ver é meu próprio umbigo, além do risco óbvio de ficar vesga, corro um sério risco de ficar cega também. Ficar cega para as necessidades do outro, para os sentimentos do outro, para o outro, enfim. Corro o risco de não conseguir mais olhar para outro umbigo, não para cuidar dele, no sentido de intrusão, e sim para cuidar dele, no sentido de amar. Quem ama, cuida. E cuida sempre.
Se o meu umbigo é tão importante, o do outro também deve ser. E é. Ou eu acho que o meu é o único umbigo da face da terra?  Sei que não. Parece óbvio, mas se esqueço disso, corro o risco de acabar sozinha. Eu e meus botões, conversando com meu velho umbigo. ( Que nem é tudo isso).

segunda-feira, 3 de setembro de 2012

Urgência

Você diz,
Um dia.
Eu digo,
Agora.
Você quer,
Eu também.
Já não dá para esperar,
Amanhã  é hoje.
Você não percebeu?
A fruta é madura
É doce. Agora,
Não depois.
Depois é tarde.
Ela passa.
Tudo passa.
O tempo passa,
 E o tempo é certo.
Se você quer,
Tem que ser agora.
Não um dia. Hoje.
Amanhã eu não sei,
 Você não sabe.
Se você quer,
Eu também,
Que seja cedo.
Mais tarde
Pode ser tarde.
Se você quer,
Eu quero.
Vem cedo,
Enquanto é dia,
Antes do entardecer.
Não espera ela chegar,
Não deixa a noite cair.
Depois
Ou eu já estarei dormindo,
Ou estará você.

domingo, 2 de setembro de 2012

Entre Tantos: De trás para frente

Entre Tantos: De trás para frente:   Sabe aquela história que nos contavam, do tal sapo que a princesa beijava, e virava príncipe? Ela conhecia o sapo, que nem era tudo isso...

De trás para frente

  Sabe aquela história que nos contavam, do tal sapo que a princesa beijava, e virava príncipe? Ela conhecia o sapo, que nem era tudo isso, mas depois se transformava, eles casavam e eram felizes para sempre? Mais ou menos assim, a história. Se você fizer uma análise bem básica do conto de fadas, pode concluir algumas coisas. Uma, que não devemos julgar pelas aparências, elas enganam. Depois, que devemos conhecer de verdade para nos apaixonarmos e aí sim darmos sequencia à coisa toda. Ou não. Que devemos dar chances aos sapos. Que o amor vem com o tempo.(?) E tal e coisa.Era mais ou menos isso, na época.
  Só que, a julgar pelo que tenho visto e ouvido por aí, esta história, agora, está de trás para frente. A moça conhece o cara, e ele já é um príncipe. Assim, de cara. Ele é O CARA. Cheio de charme e sedução, palavra certa na hora certa, declarações de amor eterno. Promessa de passear de mão dada no parque, de lua de mel em Paris, de lavar a louça todo dia. Isso, eu estou falando, já no primeiro ou segundo encontro. Chama ela de linda, de princesa, diz que ela é tudo o que ele sempre quis em uma mulher. Que quer envelhecer ao lado dela. A moça, que cresceu ouvindo historinhas de amor, que adora uma novela, uma comédia romântica com final feliz, acredita, lógico. Em cada palavra. Chegou quem ela tanto esperara. Em menos de cinco dias ela já pensou no vestido de noiva, no nome dos filhos, na cor do sofá. Em dez dias ela  está esperando o telefone tocar, uma mensagem no facebook, um email, um sinal de fumaça, qualquer coisa, e nada. O CARA sumiu. Desapareceu. Claro, talvez ela não tenha percebido alguns sinais sutis de que a coisa estava esfriando. Quando, ao invés  de chamar ela de princesa, como costumava fazer até o terceiro encontro, passara a rimar o nome dela com o de uma fruta. Ou quando só ligava quando sabia que ela não podia. Coisas assim. Não tão fáceis de perceber, afinal, ela era ou não o amor da vida dele, seu sonho de consumo, etc e tal? Devia ser só uma fase, ele deve estar com algum problema. Mas não, olha a foto que ele postou. Tomando chimarrão no parque. Quem é aquela loira agarrada nele? Pronto, o príncipe virou sapo. Em menos de duas semanas. Tudo ao contrário. E na velocidade da luz. E a culpa nem é dele. É da época.
  Oi, dá licença, vou ali me apaixonar e já volto. Pronto, voltei. Assim, instantâneo. Como macarrão e sopa. Tudo muito rápido, muito fácil, muito prático. Com tanta opção, com tanta facilidade, com tantas janelas abertas simultaneamente, quem tem tempo pra ler um livro até o fim? É só clicar, aqui e ali, e mudar de página. Ops, aqui tem uma coisa  mais interessante, vou ali e já volto. Não voltei, achei outro link, esqueci. E o melhor, você não precisa fechar nenhuma página, que maravilha! Se você lembrar, é só voltar. Ela está esperando. Claro, fica um pouco confuso. Mas é o mundo em transformação. O amor nos tempos do déficit de atenção. Hiperativo, Rápido. Sem foco. Um mundo onde imagem é tudo. Coloca só uma legenda que já está bom, e nada muito profundo, tá, ninguém tem paciência para textos longos.
  Às avessas do conto de fadas, hoje todos somos príncipes e princesas desde o início. Felizes desde sempre, ainda que não para sempre E morrendo de medo que nos descubram. Por isso não permitimos, nem damos tempo.Para que um beijo nos transforme em sapo. Melhor saltar fora antes. pular logo em outra poça, e rápido. Pula, de trás para frente. De poça em poça, sem sair do raso. E nem precisa explicar, ninguém mais tem paciência para ouvir, mesmo. É a época, princesa, a culpa é da época.  Velocidade de conexão. Adapte-se