domingo, 17 de janeiro de 2016

F...-se






"Se você for boazinha com todo mundo, todo mundo será bonzinho com você".
Se você for boazinha com todo mundo, nem todo mundo será bonzinho com você. Muitos podem não ser.
A vida é um palhaço de circo dando cambalhota na cara da gente, querida.
Nonsense.
Então, se você for boazinha com todo mundo, seja primeiro com você. E divirta-se.

Dani Altmayer

quarta-feira, 13 de janeiro de 2016

Porto Alegre 40 graus


Terça feira, cinco da tarde, sol alto e a cidade vazia. Passo pela Redenção, tem pouca gente, e vejo um homem gordo correndo sem camisa. Comento com o motorista do táxi que o cara deve ser maluco. Ou suicida. Ele não responde. Está mal humorado e não lhe tiro a razão. Não dá para ser feliz em Porto Alegre. Não no verão.
Queria ir para o clube, mas a imagem da piscina sopa lotada de crianças me faz mudar de ideia.
Quase chegando em casa, peço que me leve para o shopping. Decido pegar um ar condicionado e um cinema, de graça. O taxista parece ficar contente com o aumento da corrida, e começa a conversar. Conta que a mulher está na praia com os filhos. Eles tem uma casinha em Quintão. Ele trabalha de segunda a quinta, em janeiro e fevereiro. Fim de semana é na praia, cerveja, churrasco, amigos. Ela fica por lá, de boa- ele fala bem assim- de boa, com as crianças e a sogra, até as aulas começarem.
Penso no tempo em que era isso mesmo, a maioria das mulheres passava as férias na praia, torrando ao sol, cabelos ao vento, o nariz até descascava. Dois longos meses, com financiamento e sem preocupação, enquanto o marido ralava na cidade forno. Literalmente suava a camiseta. E aprontava também, reza a lenda. Mas tudo tem uma compensação, não tem?
São raras hoje, mas algumas ainda conseguem. Olho a foto que a Claudinha postou, é a quinta essa semana. Já teve a clássica na rede, o jogo de cartas com bolinho de chuva, as bicicletas. A de hoje é na praia, céu azul sem nuvens, com legenda: dia perfeito, sem vento. Não importa que o mar seja marrom e gelado- eu daria tudo por um mergulho agora.
Aí lembro que tenho plantão no fim de semana. Que não tenho casa na praia. Que não tenho sequer um marido.
Chegamos rápido, o trânsito está bom.O relógio na esquina do shopping não marca hora nem temperatura. Mas deve estar uns cinquenta graus dentro desse táxi. No mínimo.

Dani Altmayer

Texto para a oficina de crônicas SANTA SEDE módulo de verão
PORTO ALEGRE SOA ASSIM

domingo, 10 de janeiro de 2016

E se, o quê?


Tem dias que a gente sente muito medo. Coisas ruins acontecem, e às vezes elas acontecem numa sequência difícil de digerir, uma em cima da outra.
O ano mal começou e os pepinos, que não se importam com essas datas de recomeço, ou zeradas de calendário, apareceram sem se importar que faz calor, que é verão, e que a única preocupação deveria ser passar filtro solar antes de sair à rua.
Sei que não dá para evitar o medo. Mas dá para evitar alimentar até que ele se torne uma montanha intransponível, uma espécie de gás paralisante, um mimimi sem fim. Dá para evitar o triste papel de vítima das circunstâncias. ( Isso não existe, gente).
Depois de passar um dia bem ruim ontem, fiz um pacto comigo mesma, hoje. Mais uma resolução para a vida do que para o ano. 
Não vou deixar que o medo me domine. Que ele seja menor que a minha coragem, e que seja sempre passageiro, esse convidado indesejado.
Enquanto pedalava pelas ruas da cidade deserta, pensava em maneiras de enxotar o intruso. Aí lembrei de uma técnica que aprendi no pós em terapia cognitivo comportamental, para combater crenças e ideias catastróficas, que consiste em questionar infinitamente "e se"? 
O que pior te aconteceria "se", e vai se dissecando todas as terríveis hipóteses que criamos na nossa cabeça, desdobrando todas as possibilidades, uma por uma, até chegar na última. ( Vale fazer por escrito).
A última, para mim, é a morte. Ela que é, na vida, a única coisa para a qual não existe remédio ou solução. E, desculpem o lugar comum, mas o que não tem solução solucionado está.
Então, de vez em quando é bom se perguntar, para botar em perspectiva: "vou morrer disso? Isso vai me matar?"
Se a resposta for não, bora lá. Continuar.

Dani Altmayer