domingo, 25 de junho de 2017

Casulos



Nesse tribunal das pequenas causas desimportantes há sempre um julgamento em curso.
Todas essas velhas opiniões formadas sobre tudo. (Sobre o que eu nem sei que sou.)
Há uma sentença sendo proferida a cada instante. 
Uma certeza da verdade, ou de uma palavra inventada: pós-verdades absolutas.
Uma mais certa que a outra.
Só não há certo respeito.
Há muita paixão sem um pingo de compaixão.
Sem borboletas. Como as abelhas, elas também estão em risco de extinção.
Desaparecendo as metamorfoses ambulantes, condena-se a lagarta ao casulo eterno calcificado.
Nega-se os voos, as flores e mesmo os espinhos. Cessam os ventos que arejam nossa direção e mudam nosso espírito e nosso destino.
Não renascemos mais, borboletas ou não.

Dani Altmayer

sábado, 24 de junho de 2017

Cativa


Seu olhar é gaiola aberta
De onde não consigo fugir.

Pela janela em que me espreitas,
Me guardas.



Dani Altmayer


domingo, 4 de junho de 2017

Desabafo


Humano, substantivo: relativo ao homem, ser dotado de inteligência, racionalidade e linguagem. Isso é o que me diz o dicionário. 
Fui procurar o significado para tentar entender em que ponto estamos deixando de ser inteligentes, racionais, onde nossa linguagem não alcança mais o outro, nesse mundo feio de retrocesso e bombas. A cada bomba que explode (real ou literal), um pedido para voltar atrás é feito, aqui e ali.
Mas será mesmo possível voltar no tempo? Terá existido um antes, quando não havia por exemplo o "politicamente correto", em que as pessoas não sofriam e não eram atentadas em seus princípios básicos, de seres humanos, em sua dignidade, em sua vida? Era bom antes? Haverá um salvador que, por milagre, repressão e autoridade, nos devolva, a todos sem exceção,uma vida justa e feliz? Cuidado: a história nos mostra que não funciona, nunca funcionou. Nunca foi assim, pode ser muito pior.
Não aos imigrantes, como se fossem eles os culpados, eles que fogem de guerras, de desordens, de situações atrozes que sequer podemos imaginar. Não ao feminismo, à igualdade, pelo direito de chamar uma mulher de gostosa sem que isso vire textão ou problema. Não à ditadura gay, como se isso fosse possível, e se fosse, talvez o mundo enfim se tornasse um lugar mais bonito, mais colorido, mais feliz. Quem há de duvidar? Não às cotas raciais, gente, quem teve direitos iguais? Você conhece? Eu não. Eu tive direitos melhores.
Não aos direitos humanos, protegem bandidos. Não, protegem a vida. E toda a vida importa. Sim às armas na mão de pessoas despreparadas, ansiosas, com medo? Sério? O medo é o pior dos conselheiros e o medo é o oposto do amor.
Posso ser uma sonhadora, utópica e idiota, mas a única revolução que ainda penso possível é a do amor. Um ser que é tocado pelo amor, ele é incapaz de fazer algum mal maior, fora os males menores que são inerentes à nossa condição (humana) imperfeita. As histórias nos mostram isso o tempo todo. (Para isso a arte existe.)
Estamos carentes de amor. Estamos ficando doentes.
Humano, adjetivo: bondoso, compreensivo, tolerante, generoso.
Humano é aquele que escuta o outro, que olha dentro do olho do outro e reconhece seu próprio reflexo. Que aceita e acolhe as diferenças, a dor alheia que dói em si, a alegria alheia que se regozija em si. Humano é quem usa sua racionalidade e inteligência para construir, não para derrubar.
Não somos diferentes, estamos diferentes.
Tolerância e caldo de galinha não fazem mal a ninguém. Não se anda para trás. Não andaremos para trás, não é por aí.
Mais amor, por favor. Antes que nos tornemos, todos, completamente desumanos.


Dani Altmayer