Nunca fez tanto sentido a frase aquela, você pode viver anos com alguém e de repente, descobrir que esse alguém é o mais perfeito desconhecido.
É que a vida é esse fluxo constante, que não deixa o eu de agora ser igual ao de antes, a não ser que eu me agarre firme nas minhas convicções e ideias, e ainda assim, as enxurradas. As intempéries, os ventos, as revoluções.
Levam as certezas para lá, feito a música do Chico, meu hino de vida, a roda viva.
Eu de hoje mal conheço a eu de ontem, ainda assim tenho a pretensão de achar que conheço o outro, quanta empáfia da minha parte, ou ingenuidade, quiçá, ainda assim.
Não reconheço.
A dor que a gente sente quando o amor se transforma em estranheza. Quando ele se vai, desgarrado. É uma dor ardida, porque a gente sempre acredita.
Acredita que o amor é mais forte que a passagem do tempo, é mais forte que a chuva e o vendaval, a gente acredita que na essência ainda somos os mesmos, aqueles que nasceram da mesma mãe e do mesmo pai, ainda que caminhos cruzados se descruzem, se desviem em vias lindeiras, ainda assim. Haveria de restar o que foi. A origem. O que somos, isso e aquilo, e o amor. Feito bússola, ou casa. Para onde voltar. O norte. Mas não. Não.
No fundo, sabemos que a história não se apaga, apenas se cobre de silêncios.
E mágoas. As malditas águas, os véus, inúteis lágrimas.
As despedidas em vida são sempre cruéis.
Algumas vezes, necessárias. Mas sempre cruéis.
Que Deus é esse, me diz. Que não se chama AMOR?