segunda-feira, 31 de março de 2014

Página Infeliz

Nada no mundo é pior do que não poder escolher. Nada mesmo.
As piores escolhas ainda serão escolhas, mesmo erradas.
Só a liberdade confere a um homem sua dignidade.
E, sempre é bom lembrar:  liberdade é também uma baita responsabilidade.
Hoje é uma data para não ser esquecida, jamais repetida. Nunca mais.
Um dia na história e cinquenta anos de sequelas.
Porque engana-se quem pensa que já estamos curados. Nunca se está, por completo.
Todo cuidado é pouco. Toda memória é muito.

Dani Altmayer

domingo, 30 de março de 2014

Desafinada

Algumas coisas foram feitas para ficar dentro da gente.
Para sempre.
São como as músicas que canto na minha cabeça.
Perfeitas.
Mas só na minha cabeça.

sexta-feira, 28 de março de 2014

Dê amor e Receberá Amor



Outro dia em um comentário recente, aqui no blog, alguém postou a letra de uma música que não conheço, em inglês, que fala de uma menina que está sozinha porque não aprendeu que, para receber amor, é preciso dar amor. "If you give love you will receive love", diz o refrão. Poderia ser verdade. Se o amor fosse simples, e linear, e ele até deveria ser. Um fluxo, de dar e receber. Simples, assim, quase uma equação matemática. Por que não?
Mas, de qual amor você está falando?
Do amor incondicional, o ideal? Se sim, sinto muito. Ainda não fui apresentada. Um amor sem restrições, sem expectativas, sem amarras. Amor universal, do tipo fazer o bem sem olhar a quem. Acho que só existe em outro plano, em outra dimensão. Numa realidade na qual não me encontro, ainda. Um amar que é só verbo, não tem sujeito, nem objeto.
Porque quando eu, o sujeito, encontro o objeto, e o amo, eu espero. Eu desejo, e eu quero, o vice versa. Ser o objeto daquele sujeito. Com o verbo amar no meio. A frase, completa.
Aí que a coisa complica.
Acredito que ele exista sim, este outro amor pleno, e absoluto, e talvez só ele seja importante.
Mas o meu amor,  todos os meus amores, são condicionais. Inclusive o materno. São amores terrenos, não menos verdadeiros. Ou serão?
São falhos, e imperfeitos. Cheios de lacunas e defeitos, de dúvidas e contradições, de esperanças e de limitações. Como eu. E eles querem, no mínimo, reciprocidade. Como eu.
Apesar disso, acredito que a experiência, os cotovelos doídos, e tantos corações partidos, todos eles são bons professores.
E creio que é possível encontrar, sim, formas melhores de amar.
O tempo e a maturidade ensinam muitas coisas. Ao menos, na teoria.
Por exemplo, que o amor acontece entre pessoas, não entre metades.
Que ele precisa, e muito, de liberdade.
O amor não faz reféns, não barganha, não compactua com o medo.
Ele é sempre um presente, mesmo que de gosto duvidoso.
Amar pode ser parecido com ficar sozinho, se um não exige o que o outro não pode dar. Se ninguém exige nada de ninguém.  Pode ser parecido com paz, e assim, ser este quase perfeito.
Acima de tudo, o amor precisa de três coisas para sobreviver: ar, respeito e admiração. Em doses generosas. Isso é básico, eu acho. Se não, não tem solução. Não dá nem para conversar.
Contrariando a letra da tal música, que não conhecia, ou ainda, complementando: só se pode dar o que se tem. ( Quem sabe, e sente)
E só recebe quem deseja. ( Saber e sentir)
Para dar é preciso alguém disposto a receber. E retribuir, para poder acontecer.
Amor não tem fórmula. Mas amar é uma eterna capacitação.
Dá um trabalho danado, e não estou sendo cínica. É só que eu não sei, mesmo. Não sei coisa nenhuma.Também sou aluna.
Repito, então, a pergunta que fiz em outro texto, tempos atrás. De que estamos falando?
Qual amor?
Ainda não achei a resposta, e não sei se um dia encontrarei, nesta vida. Só acho hipóteses, e elas  acabam multiplicando-se em mais milhões de perguntas.
Quando li o comentário, na hora me veio à cabeça uma música do Renato Russo, "quem inventou o amor, me explica, por favor?"
Porque eu não sei explicar.
Por isso, talvez eu não saiba dar. ( Como um dia pensei). Muito menos receber. ( Como um dia sonhei).
Talvez você tenha razão, então.

Dani Altmayer

Link para o texto Qual Amor? http://entretantosatos.blogspot.com.br/2012/08/qual-amor.html




terça-feira, 25 de março de 2014

Livrai-me de Toda Convicção, Amém


Um dia, guardei minhas certezas como moedas, no bolso.
Eu tinha tantas, mas tantas, que o bolso ficou pesado.
Devia ter guardado no cofre, por segurança, se as queria.
O bolso estava furado, e eu não sabia. 
Sem perceber, as fui perdendo, uma a uma.  
Deixei pelo caminho, como as pedrinhas do João e da Maria, só que ao contrário. 
Não fiz de propósito, esta coisa de perder coisas, de me perder. Aconteceu, quase sem querer. 
Culpa do tempo, da terra. Dos terremotos.
De caminhar nesta estrada.
Nossa, que estradinha bem complicada, vou te dizer. 
Esburacada, confusa, barulhenta. 
Chacoalhante. Foram tantos tropeços.
Demorou bastante, até não me restar mais nenhuma. Até eu precisar de alguma.
Quando meti minha mão no bolso, surpresa. Um bolso vazio. 
Cadê a certeza que estava aqui, ainda ontem? Aquela, que não me deixa mentir? 
E as outras, eram tantas.
Nada, procurei em vão. 
Logo naquela encruzilhada. No meio da bifurcação.
E eu nua, no meio de qualquer rua. 
Sem placa, ou indicação. Sem saber como, ou para onde seguir. 
Para quê?
"Uni duni tê, o escolhido..." 
É assim que tomo decisão, hoje em dia.
Feito criança.
Não tem jeito melhor de ouvir a intuição. 
A voz que fala, quando tudo mais se cala.


A única que é minha, e absoluta. 
Que não se define, e não falta.
O único som que escuto vem do silêncio.
Das batidas do meu coração.

Dani Altmayer

sexta-feira, 21 de março de 2014

Nostalgia


Hoje senti vontade de escrever para você. Escrever uma carta. 
Houve um tempo em que se escreviam cartas.
Este tempo passou, como passam todas as coisas. Só algumas vontades é que não passam nunca.
Como a minha vontade de falar com você.
Queria te dizer tantas coisas. E queria falar de amor com você, mas este tempo também já passou. 
Mesmo que a vontade não tenha passado, será que dá para entender? 
É que perdi seu endereço, com o tempo, sempre ele, e cartas de amor tem que ter endereço. 
Ou será que não tem? 
Cartas de amor podem ser escritas assim, sem sobrescrito, de alguém para ninguém?
Quem sabe as palavras, e as cartas, possam ser jogadas ao vento, e façam até mais sentido, deste jeito. 
Sejam menos ridículas.
Sem destino ou destinatário, o amor encontra o rumo, sozinho. Que mereça.
Como um SOS lançado ao mar, ninguém sabe bem onde vai chegar. Ou a quem encontrar. 
Será que ainda mandam mensagens, em garrafas no mar? 
Acho que já saíram de uso, como as botelhas de vidro, que quase nem mais se vê. Estão fora de moda.
Como as cartas, aliás, e o próprio amor.
Houve um tempo em que havia o amor. E havia endereço.

Dani Altmayer

quarta-feira, 19 de março de 2014

O Oposto do Amor é o Medo

Toda vez que a gente acredita muito em uma coisa, a gente faz de tudo para ela acontecer do jeito que a gente acredita. Isso pode ser uma coisa muito boa, ou muito ruim, depende. Porque nem tudo o que a gente acredita é bom.
Hoje eu vou escrever para uma menina que eu conheci há muitos anos. Ela era uma menina doce e meiga, mas muito, muito, muito tímida. Por algum motivo, que eu não já consigo lembrar, ela tinha muita vergonha de ser quem ela era. Ficava vermelha à toa, e em qualquer lugar. Se achava feia e sem graça. Usava óculos de lentes grossas, era chamada de quatro olhos e coisas assim. (Naquela época o bullying nem existia).Tinha sempre a impressão de não pertencer, de não se encaixar, como se fosse uma peça imperfeita, sobrando de algum jogo, de outro jeito perfeito.
A menina aprendeu a ler muito cedo, e, muito cedo se refugiou nos livros que lia. Com eles, ela pode viajar sem sair do lugar. Leu sobre aventura, amor, amizade, leu sobre Jesus, e os santos, e os anjos. Aprendeu a pensar, a rezar, e a sonhar. Mas continuava a não se encaixar. Ela acreditava que seria freira, ou santa, como a Rita, a das chagas, cuja história adorava. Era como se o mundo lá fora não fosse para ela, ou ela para ele. Passou muitos anos assim, escondendo-se. Alimentando-se de romances alheios. Leu romances demais, a bem da verdade. Tinha o coraçãozinho cheio de amor, a cabeça cheia de ideias. Mas não sabia experimentar realidades.
Quando enfim, desistiu de ser santa, teve que começar a viver. Uma hora chega a hora. Mas acho que já era um pouco tarde para ela. Passou a vida tentando acertar. Não sabia dizer não, não ousava desagradar. Seguiu à risca a cartilha da boa moça, com algumas poucas e belas escorregadas.( Porque foi adolescente, também, apesar.) Até isso. Tudo para se encaixar, para fazer parte, para não destoar. Afinal, para ser boa é preciso sempre concordar. E colocar sempre o outro, em primeiro lugar. Tantos disfarces ela criou, tantas escolhas mal feitas, se perdeu mais ainda.
Se ela ao menos soubesse se amar. Mas não sabia. A menina envergonhada nunca se achou merecedora de amor. Nem do próprio, nem do de mais ninguém. Foi nisso que ela acreditou. E por acreditar, foi isso que ela tentou provar. Com sucesso, aliás.
Tinha tanto amor esta menina, e não sabia amar.
Outro dia ouvi uma música do Cazuza, que me fez lembrar dela, e das histórias dela. " Se todo alguém que ama, ama para ser correspondido...Se todo alguém que amo é como amar a lua inacessível, é que eu não amo ninguém... E é só amor que eu respiro..."
Engraçado como uma coisa inocente como uma música antiga pode despertar tamanha emoção. Como pode despertar, simplesmente.
Quando finalmente acordei, eu chorei. Por ela, com ela. Choramos abraçadas.
Hoje escrevo para esta menina, que ainda vive dentro de mim. Que já percorreu um longo caminho, com tanta terapia, com tanta experiência, um outro tanto de consciência. Mas que continua, ainda, de alguma forma, presa a esta crença. Reafirmando esta crença em cada relacionamento, e em cada história de sua vida.
Escrevo para libertar a menina, a criança interior, desta prisão auto imposta, da impostura de uma existência que ela não quer, não sabe e não precisa viver.
Escrevo para dizer que não adianta se esconder, que alguém vai  acabar achando, e não há nada a temer. Que o risco maior ainda é não arriscar.
Escrevo para falar que ela pode ser diferente, porque ela já é diferente, nunca vai se moldar. Todo mundo é diferente, e a perfeição, fala sério, é uma chatice. Ninguém é melhor do que ninguém, nem pior. Ninguém santo, também.
Escrevo para lembrar que nem o Jesus, de quem ela tanto gosta, nem Ele agradou todo mundo. Melhor, às vezes, poder ser bem mal criado. Melhor um não bem dado do que um sim contrariado.
Escrevo para perdoar os seus muitos erros bem intencionados, sua falta de fé, suas ilusões inventadas. Sua presunção e sua arrogância mal disfarçadas.
Escrevo para falar que a resposta não está nos livros, nunca esteve. Nem no mundo de fora, tampouco. Está dentro dela, e só a ela pertence.
Escrevo para dizer que todo amor é aprendizado. Todo. Que nunca, nada é desperdiçado. Nem quando mal distribuído, jamais é mal dado. Certo, ou errado.
Menina, escrevo para gritar que o amor existe, sim. Existem mil formas de amar, mil e uma, mas um único amor. E ele nasce e morre na gente. Sempre.
Para completar, escrevo para me indignar: vergonha de quê, de ser você?
Ora, já bem dizia a minha mãe," vergonha é roubar e não poder carregar. E só!"
Não, não e não. Ainda está em tempo de aprender. Não é tarde demais, para desacreditar. Nunca é.

Dani Altmayer

domingo, 16 de março de 2014

Eu Acho

A gente sempre julga, e dizer que não é hipocrisia.
A vida é um grande tribunal, onde nós somos, ao mesmo tempo, os réus e os magistrados. Advogados de defesa e promotores.
Não estamos livres de julgamentos, em nenhum momento. Dos nossos próprios, ou dos alheios.
Julgamentos estes que nem sempre são justos, admito.
Tudo passa pelo crivo, cruel ou não, da apreciação, de nossos e de outros atos.
E esta análise sofre o revés de um filtro, que nem sempre é transparente e claro. Que é, muitas vezes, deturpado e distorcido, escurecido e enfumaçado, por crenças e vivências pessoais.
É difícil ser isento, não tomar partido, não escolher um lado. O lado que mais nos convém, em geral. Não necessariamente o mais correto, o mais reto. A verdade é que ninguém é imparcial, de verdade.
É bonito dizer que não devemos julgar. Seria o ideal. Mas é irreal.
Julgar é inevitável, é humano. Fazemos isso o tempo todo. Quando alguém nos conta uma história, quando assistimos a um filme, quando lemos sobre política. Quando a amiga troca de namorado, ou de corte de cabelo. Quando vemos uma foto, uma postagem, uma roupa na vitrine. Analisamos, conferimos, e julgamos.
Não tem nada de errado, ou certo nisso, eu acho. É assim que é. E, desde que guardemos nosso julgamento para nós mesmos, tudo bem. Porque ele pode mudar, a cada instante. Nada é definitivo, muito menos nossa opinião. Somos seres contraditórios e volúveis, por natureza.
Podemos julgar, mas sem bater o martelo, jamais. Não deveríamos poder emitir sentenças, menos ainda condenar. Nem a nós mesmos, nem aos outros, eu acho.
Impor convicções e ideologias parece até meio absurdo, uma falta de respeito. Ideias fixas e unanimidade são burras, em geral.
Porque, nesta grande confusão em que andamos metidos, cada um sabe onde afrouxa e onde aperta, onde dói e onde dói menos.
Não existe uma verdade absoluta, eu acho.
"Cada um sabe a dor e a delícia de ser como é."
Existem pequenas verdades, inúmeras delas, e existe a ética. Esta sim, é grande, talvez universal. E, dentro da ética, gosto, religião, política e moral são coisas que até se discutem. Mas que não deveriam ser impostas ou imperativas, ou obrigação.
No tribunal desta vida, o julgamento nunca chega ao fim. Somente muda de fase. Sempre podem aparecer novas provas, novas evidências, novas testemunhas, a favor e contra. A roda gira, e a gente pode morder a língua mais adiante. Na melhor das hipóteses.
Até porque, como falou um grande homem, muito sábio, milhares de anos atrás: que atire a primeira pedra...
Quem nunca?
Mesmo que, nos dias de hoje,  nestes tempos de redes sociais, muitas vezes tudo pareça um tanto invertido, condena-se antes, e julga-se depois. Mesmo assim, acredito que ainda vale a máxima: "todo mundo é inocente até que se prove o contrário." (Eu acho.)
Mas posso perfeitamente estar errada. Afinal, bem se vê. O mundo não é, nem de longe, um lugar de justiça. Nem remotamente, não é. Nem um pouco justo.

Dani Altmayer

E agora?

                        A vida é de formiga,
                                  a alma, de cigarra.
       
Dani Altmayer

quinta-feira, 13 de março de 2014

Amor de Verão


Aos poucos, os dias vão ficando mais curtos e as noites, mais frias.
As praias, mais vazias.
Aos poucos, bronzeados e memórias vão desbotando.
Marcas vão se apagando.
Aos poucos, uma estação vai dando lugar a outra.
A paleta, de cores antes vibrantes, muda de tom.
Aos poucos, sutilmente.
As paixões ardentes, os desejos urgentes
Caem todos ao chão.
Ressecam, como folhas cadentes.
Que formam inúmeros tapetes não cobrem um colchão.
Desfazem-se, na ilusão.
Feito bolhas de sabão, explodem subitamente.
O céu estrelado ainda é magia.
Não combina com esse torpor.
Com essa agonia.
A lua. A bela lua.
É crescente, apesar.
Da gente minguante,
Que esquece do amor.
Aos poucos e de repente.
Descrentes, descartam-se.
É que já quase não faz mais calor.
Quase já não é mais verão.
Quase não.

Dani Altmayer

quinta-feira, 6 de março de 2014

Colecionadora de Ilusões


Estou entorpecida, um pouco zonza. Meus olhos secos ardem com lágrimas que não existem. Custo a voltar para o mundo real.
Por três dias me enfiei dentro de um livro que me arrebatou. Amo e odeio quando isso acontece, porque a minha vida para, mas tem sido cada vez mais raro de acontecer. Então, sugo as últimas gotas deste prazer misturado com a dor, por que é sempre assim, dor e prazer? Não quero que acabe, faço como criança, passo os dedos no resto da calda de chocolate que ainda ficou no prato, e lambo devagar, saboreando até o final.
Foi quase por acaso, e eu não consegui resistir. Tenho dificuldade de resistir à tentação, você sabe. Era o último exemplar na livraria, era para ser meu. E ainda assim eu poderia ter esperado, poderia tê-lo esquecido até, junto aos outros que se acumulam assustadoramente na minha cabeceira e em outras prateleiras. Na fila do que está por vir, que talvez nunca venha, apenas desabe. Como tantas outras coisas desabam e nunca vem. Mas não, eu o peguei, por impulso, e levei para o plantão. Depois que comecei, não consegui mais largar. Estava curiosa, é claro. Acho que também queria entender um pouco. Entendi, bem mais do que eu queria.
Você se apropriou deste livro, ele é sobre você. Confesso que, em alguns momentos, fiquei assustada. E, sei lá, meio decepcionada. Não sei se esta é a palavra certa, mas as palavras, sempre elas, nos fogem quando mais precisamos delas. ( Não só elas).  Mas estou usando as suas. "Você ainda vai se decepcionar comigo, muitas vezes."
Teve momentos em que meu coração bateu forte demais, e tive que interromper a leitura.
Quem é você, afinal? E eu, quem eu sou?  Existiu algum dia o nós? Ficção versus realidade.
A vida que vivemos é a vida que inventamos?
Eu só queria arroz e feijão e verdade. Esta é minha fome, sempre foi. E para mim parecia tão simples.
"A verdade não requer estudo, nem arte. "
Mas a verdade, ela existe, assim, absoluta? Você pode responder?
Entendo que você precisasse dividir o que descobriu naquelas páginas, também eu tenho esta vontade, e quantas são as pessoas com quem realmente conseguimos compartilhar? De todas as coisas, acho que é disso que sinto mais falta agora. Das nossas trocas, da sintonia, da cumplicidade. Li, em algum lugar, que o oposto de solidão não é companhia, mas intimidade. Eu acabei duvidando da nossa intimidade. Duvidei de você, da sua lealdade.
Você pensou que eu não o leria, algum dia? Ou você sabia, e não se importava? Você roubou as palavras dele, me entregou como se fossem suas. Eu acreditei. Tudo bem,  não está errado. Era você ali. Elas eram suas, por direito. Isso eu posso entender, esta posse. Você se apropriou, o livro é sobre você.
Mas também, agora, é sobre mim. Porque é sempre sobre a gente quando a gente se entrega. E eu me entreguei a este livro, como um dia me entreguei a um amor. Passei os últimos três dias com ele, viajando. Tentando fugir de você, olha que ironia. Efeito contrário, viajei com você.
Queria acreditar que, por algum tempo, eu fui o teu anjo na plataforma da estação. O anjo imóvel. Seria um consolo, e eu saberia que não foi em vão. Só que já não sei mais nada. Não sei o que fui. O quanto fomos ilusão? Talvez tenhamos sido mesmo um sopro de eternidade. Gostaria disso. Ou talvez, "você nunca tenha se referido realmente a mim. " Acontece. Simplesmente assim.


Dani Altmayer


"Às vezes temos medo de uma coisa apenas porque temos medo de outra."





terça-feira, 4 de março de 2014

Lugar Qualquer

"É Carnaval, não me diga mais quem é você, amanhã tudo volta ao normal."  *



Saldo do feriado de Carnaval:
Dois plantões calmos, um livro terminado, três ótimos filmes.
Supermercado vazio, livraria (mais livros por ler).
Café e chimarrão.
Encontro com gente muito especial.
Encontro com a solidão.
Bons encontros.
Sono em dia, sonecas no meio do dia.
Canto de passarinho, yoga, doce de leite.
Vinho e filosofia.
Pedaladas, silêncio e muita paz.
Tempo para meditar, pensar, curar.
Ir até o final, concluir, agradecer.

Entender que nada no mundo se compara à sensação de se estar onde se quer estar. 

Eu nunca gostei de ficar em Porto Alegre no feriado de Carnaval. A cidade deserta sempre me pareceu uma cidade fantasma. 
Recordo da época da residência, quando tinha plantão e era obrigada a permanecer aqui. 
Lembro da sensação de vazio, de não pertencer. De estar perdendo alguma coisa importante, de vagar pelas ruas silenciosas, tristonha e solitária. 
Era um tempo em que eu ainda tinha medo da solidão.
E olha que já nem gostava de Carnaval, há tempos. Dos bailes, desfiles, da fantasia. Da multidão.
Era mais porque "todo mundo"estava fora e eu também queria. Porque eram quatro dias de folia. 
E porque era obrigação. Eu não tinha escolha.
A diferença está na escolha, sempre. 
Este ano decidi escutar meu coração. E ficar.
Escolhi estar no exato lugar em que eu podia, precisava e queria estar. 
O corpo, e a cabeça, no mesmo lugar.
Em minha companhia.
Ganhei o tempo, de presente.
Multiplicado, abençoado e generoso. 
Tempo que passou bem devagar, e arrastado. Só para eu estar ao meu lado.

"Deixa a festa acabar, deixa o barco correr, deixa o dia raiar...
 ... Seja você quem for, seja o que Deus quiser". *

Agora, que venha o ano, finalmente. ( ano brasileiro).
Hora de recomeçar. De renovação.
Sem tanta máscara, sem tanto disfarce. 
E sem tanta ilusão.

Dani Altmayer

* Noite dos Mascarados ( Chico Buarque)