domingo, 12 de julho de 2020

O dia da Isabella



Faz 8 anos que eu te escrevo neste dia.
Já são nove cartas, agora, porque começou a contar a partir do ano zero, dia um.
Doze de julho, verão inglês, inverno brasileiro, a gente acompanhando tuas mamães aqui de longe, ansiosos pela tua chegada neste mundo louco, mundo este que tu deixou infinitamente mais bonito, desde sempre.
Que tu coloriu com a tua sensibilidade, inteligência, teus olhos de luz, estes pensamentos ágeis como teu corpo que corre, pula, pedala, que dança, que canta. Que encanta.
Toda tu é encanto.

Tu sabe, né,  que te amo desde antes, desde quando tu era uma ideia e um sonho, uma sementinha, e te amo menina, cada vez mais, cada dia maior, mais forte, mais bonita.
Mesmo longe. Sempre perto.

Desta vez o longe não tem aquele consolo bom, do see you soon, de logo ali em agosto matar a saudade do abraço, do sotaque, das histórias contadas, inventadas.
Da terra da rainha, dos esquilos, do sorvete no quiosque.
Das pedaladas, comprinhas, pelúcias, piqueniques no parque.
Das conversas queridas. Das risadas gostosas.
Desta vez, não.

É que o mundo louco ficou ainda mais louco, e aconteceu um vírus que ninguém esperava, e deixou o mundo assim assustado, em compasso de espera. Ninguém vem, ninguém vai, por agora. Por enquanto.

Mas tudo bem. Mais ou menos. É chato, bem chato. E triste, também.

O bom é que a gente sabe que vai passar. Pode demorar um pouquinho, mas vai passar. Vão descobrir uma vacina, um remédio, um jeito novo de viver. Talvez um jeito melhor.

E logo os abraços voltarão a ser o que sempre foram: nosso lugar de encontro. Aconchego, acalanto.
A soma de todos os afetos.

A saudade que tenho hoje não cabe no meu peito, Bellinha.
Nem o amor.
Transbordam e atravessam o oceano, num balão colorido- para te beijar.
Recebe meu beijo aí, esquilinha, e meus abraços apertados.

Happy bday, Bella.
Feliz dia, menina linda. Feliz vida.
Love you more. And more.

TiDani

domingo, 5 de julho de 2020

Rodovia


Uma beira de estrada onde nunca passei
É sempre fim de tarde naquele posto

O azul profundo que antecede a noite
O horizonte salpicado de laranjas
As primeiras luzes, vaga-lumes
Faróis a cem por hora

As mesas de fórmica ensebadas
Guardanapos e restos, migalhas
A marca do teu beijo o batom
Na borda lascada da xícara

No espelho lascado sobre a pia
Os últimos vestígios de um rosto
O cheiro de urina e perfume
Desinfetante barato de pinho

O café que esfria à espera
O tempo parado dos relógios
Um homem enxuga os pratos
Outra mulher fuma cigarros

Os carros são todos pardos
No lusco fusco desta hora

Um luminoso piscante avisa:
Os amores estão de partida

Neste lugar ao meio do caminho
Nesta margem onde nunca estive
Cinco pistas e nenhum retorno