quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

Uma dor assim precisa

Hoje eu gosto de tudo que me tira da paz
 ( da apatia).
De tudo que me tira da zona de conforto.
De tudo que me derruba do sofá.
Que me atira na rua.
Tudo que dá frio na barriga, eu gosto.
E preciso.
Não tenho medo, mas tenho muitos medos.
Tenho mais medo é de não ter mais nenhum medo.
De nunca mais ter medo.
Eu tenho muitos medos.
Tenho medo de dentista.
Outro dia minha dentista espetou uma agulha enorme no meu dente, e eu gritei.
De dor.
Ela disse: que bom, está vivo!
Sim, que bom, está vivo.
Se dói é porque está vivo.
Só dói enquanto viva.
Morta não sinto dor.
Morta não tenho medo.

terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

Eu no teu lugar

"Não vemos as coisas como são. Vemos como somos." ( Anais Nin)
Da falta de comunicação:

E agora?
Se eu vejo A, e você enxerga B.
Se eu digo X,  e você escuta Z.
Se a realidade não passa de um ponto de vista.
De uma perspectiva pessoal.
Como pode você me entender?
Como posso eu entender você?
O que é realmente real?
O que vejo eu,
Ou o que você vê?

Em cada um de nós há um universo desconhecido para o outro. Formado de emoções, sentimentos, atitudes e crenças particulares. Usamos estas crenças o tempo todo, como filtro para tudo que acontece em nossas vidas. Tudo o que sentimos e fazemos passa, invariavelmente, por este filtro.
A palavra comunicação vem do latim "communicare", que significa "partilhar algo, por em comum." Se, quando nos relacionamos, esquecemos de levar em conta a visão do outro, nunca seremos capazes de nos comunicar de verdade. Poderemos falar e falar, sem nunca sermos ouvidos. Sem nunca ouvir, realmente. Comunicacão é troca. Comunicação demanda empatia, capacidade de se colocar no lugar de outro. Pede entendimento. Diferenças existem, e, são esperadas. São até necessárias, e devem  ser respeitadas, acima de tudo. Sem respeito e flexbilidade, nada pode ser comunicado, jamais.
Se, como disse Nietzsche, é verdade que "não existem fatos, existem apenas interpretações", então ninguém é dono da verdade. Nem a verdade pode existir, em última instância. A verdade não passa de realidade inventada. E tudo é uma questão de perspectiva. Pessoal e intransferível.


domingo, 24 de fevereiro de 2013

Onde está meu coração ...

Amanhã recomeçam as aulas do JP. Ele me pediu para ir com ele no primeiro dia, o que achei estranho, visto ele estar a cada dia mais independente. Achei engraçado, mas no fundo gostei. Penso que, afinal, toda  mãe gosta que o filho ainda precise um pouco dela. Uma parte da gente se orgulha de suas conquistas e quer que eles cresçam e ganhem o mundo. Outra parte os quer sempre por perto, debaixo de nossas asas, sob nossa proteção. Esta parte meio irracional, que quer protegê-los de toda a dor, como se fosse possível, crescer sem dor. Esta parte que temos que reprimir a cada momento, procurando a medida certa, e muitas vezes fazendo tudo errado, na gradual e necessária soltura de rédeas. Tão dolorosa, por vezes.
Saber até onde soltar estas cordas a cada instante da vida de um filho, acho que é um dos maiores desafios para os pais. Cuidar sem sufocar. Amar sem cobrar. Educar sem estragar. Orientar sem impôr. Colocar limites sem limitar. Mostrar opções sem eleger caminhos. Falar, mas ouvir. Respeitar individualidades, criatividades, e principalmente escolhas, nos pareçam elas certas ou não. Deixar que lutem suas próprias batalhas, sofram suas próprias decepções, conquistem suas próprias medalhas e méritos, enquanto ficamos na retaguarda, à espera de que voltem, feridos ou vitoriosos. Do jeito que for. Apoiar incondicionalmente, e engolir o "bem que te avisei". Porque por mais que você avise, eles vão fazer do jeito deles, e é assim que tem que ser. E tem sido, desde sempre. Por mais que doa, por mais que a nossa experiência nos faça ver na frente, os passos serão deles. Eles precisam andar por suas próprias pernas, e a gente só pode ficar olhando, como lá naquele dia, agora distante, em que eles aprenderam a caminhar sozinhos. Cambaleantes de início, desafiadores sempre. Nos enchendo de orgulho e medo.
Temos sim, que saber soltar as cordas, todas elas, uma de cada vez, até não restar nenhuma. Porque filho não é marionete. Nem massa de modelar. É gente.
Temos que confiar que as cordas não são mais necessárias, pois ficaram os laços. Laços são muito mais importantes. E são os laços que  nos mantém, para sempre, unidos àqueles que amamos, àqueles que muito mais do que nos dar a vida, nos deixaram viver. Laços de um afeto que tesoura nenhuma desfaz
Amanhã vou com meu filho na escola, sabendo que provavelmente é o último ano em que vou ser requisitada.Mas sabendo também que, por mais que a gente voe para bem longe, por mais que a gente cresça, amadureça,e até envelheça, a gente nunca deixa de precisar. Não totalmente. A gente vai precisar para sempre, voltar para casa de vez em quando. Para o lar. De onde, para falar a verdade, a gente nunca sai completamente.

Dani Altmayer

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

Meu livro-você

Com você eu posso tudo.
Em você eu mergulho,
me afogo,
afundo
e respiro,  bem fundo.
Em você eu me perco,
depois me acho 
e te encontro.
Confundo,
descuido.
Descubro.
Em você
um segredo,
um mundo.
Coragem.
E medo.
Com você,
todas as viagens.
A melhor viagem,
 só eu e você.
No país das maravilhas,
ou em Paris, talvez.






terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

Coisa muito séria


Quando eu era bem jovem,  achava que poesia era uma coisa muito séria. Solene mesmo. Achava que poesia era só sobre amor, casos mal resolvidos, paixões avassaladoras. Os poetas, na minha imaginação, eram seres meio etéreos, melancólicos, eternamente apaixonados. Imaginava-os maltrapilhos, errantes, com a cabeça na lua.
Seres que viviam de vento e de alma, que tinham asas escondidas.
Na minha concepção, poesia tinha que falar de flor, de estrela, de amor. Pensava que poesia não combinava com realidade, que era uma espécie de fuga da realidade. Lia, e achava bonito. Até escrevi alguns poemas bem rebuscados, nas minhas primeiras paixonites de adolescente, poemas que se perderam em meio a tantas mudanças de tempo. Achava bonito, sempre fui romântica, mas não achava real.
Eu não sabia que dava para fazer poesia com o dia a dia. Eu não conhecia Drummond, Quintana, LF Veríssimo e sua poesia numa hora dessas. Eu não conhecia o Carpinejar, o Rubem Alves, o Ferreira Gullar, o Pedro e tantos outros que fazem da poesia uma tradução perfeita das coisas imperfeitas. Eu não sabia que existia poesia na lata, no lixo, na rua. Que nem só de estrelas, amores e flores é feita uma poesia. Nem só de dores e brisas vive um poeta.
Eu não sabia que a poesia também é crônica, é crítica, e é humor. Que a poesia tinha cheiro, gosto, e que você podia comer poesia arroz com feijão, todo dia.
Não entendia que a poesia é simplesmente tudo. Tudo pode se transformar num poema. E um poema pode transformar tudo.
Não imaginava que a poesia estava sempre à espreita, esperando uma deixa qualquer, para, de repente, encher de beleza o que antes era banal. Poesia torna singular o que era plural. Nomeia nossas dores, nossos temores, nossos anseios. Vive enfiada no meio da gente, como um presente camaleão, que muda de cor com o nosso humor. Que deixa mais belo o nosso amor, e até nosso rancor. Falando nisso, poesia não precisa rimar, só precisa tocar. Fazer pensar, emocionar. Ou, simplesmente divertir, e bagunçar. Pode ser confusa, não precisa ser precisa. Não precisa nada, a poesia só precisa que você a saiba enxergar. Que você saiba onde ela está, e ela está em todo lugar.
Você pode ver? ( Afinal, a poesia é de quem dela se apropria).
Pensando bem, poesia é coisa séria sim. Só que, como disse Quintana: a poesia não se entrega a quem a define. Ela é, por si, uma definição.
Para finalizar, mais uma dele. Ele que, para mim, é a síntese da poesia cotidiana:
  "Quem faz um poema abre uma janela.
   Respira, tu que estás numa cela abafada
   esse ar que entra por ela.
   Por isso é que os poemas tem ritmo
  - para que possas profundamente respirar.
  Quem faz um poema salva um afogado."
   ( Mario Quintana)
 Que nunca nos falte a poesia do dia a dia. Que nunca nos falte a janela.

Dani Altmayer



Agora ou nunca

Noite, dia.
Felicidade, agonia.
Sono ou vigia.
Nada tarda,
Ou demora.
Está sempre na hora.
A hora mais certa do dia.
A mais importante,
A mais pontual.
Agora é a hora.
Só agora é real .
Mas  bom mesmo é saber
Que qualquer hora é agora,
E agora, é a qualquer hora.

sábado, 16 de fevereiro de 2013

Alívio



Pensamentos, palavras,
Sentimentos.
Turbilhão.
Quando viver  inquieta,
 Escrever  acalma.
Acomoda a alma,
Aquieta.
Transforma dor
Em bolha de sabão.
Quando escrevo, sinto paz
Na ponta da língua.

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

Durante a noite



Às vezes, durante a noite, minha alma viaja e vai  buscar a sua. Chega de mansinho, fala baixinho, sussurra para não te acordar. Às vezes, durante a noite, minha alma dança com a sua, uma dança bonita, que só as almas sabem dançar. Uma dança leve, onde não existe certo ou errado. Nossas almas dançam sem medo, sem vergonha, como só as almas podem dançar. Nossas almas dançam como se não fosse proibido, e não é. Nada é proibido para as almas, nada é pesado demais. Nossas almas se tocam como nossos corpos não podem tocar, e dançam, dançam, a noite inteira, sem nunca cansar.
Quando estou com saudade, e é noite já, sei que minha alma vai viajar. Vai encontrar a sua, onde ela está. Porque as almas não conhecem fronteiras. Nem longe, nem perto.Não existem distâncias. Nenhuma barreira.
Não sei onde nem como você está, agora. Não sei de você.
Mas sei que muitas vezes, a gente se encontra, durante a noite. Mesmo sem saber.
E nesse encontro de nossas almas, a gente se deixa, e dança, e beija. E é feliz, por instantes.  E é assim, como um sonho. Sem ser.

Dani Altmayer


quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

Teu olhar, minha razão

Olho-alimento. Olho-regador
O olhar do outro,
Tão absurdamente necessário...
É que a gente se torna invisível se não é visto.
E não o contrário.


Dani Altmayer


       

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

Faço minhas as tuas palavras


E se tudo que escrevo não passar de cópia,
de tudo que li?
Não faz mal,
é soma de tudo.
De tudo que vi,
ouvi,
Vivi.
Ou
simplesmente pressenti.
Hei de mudar uma vírgula,
uma palavra,
um ponto final.
Me apropriando, assim,
Do que se apropria de mim.

Acabei de escrever este poema, não copiei ou colei de algum lugar. Ele apareceu na minha cabeça assim, vindo de lugar nenhum, sem tirar nem por. Então, ele é meu. Mas não necessariamente. Dizem que tudo o que existe já foi pensado um dia. Uma vez, quando meu filho era bem pequeno, escrevi e desenhei uma história para ele sobre um jacaré que não escovava os dentes, e um pássaro dentista. Poucos anos depois, descobri que a história, quase igual, já existia, em um livro que ele pegou na escolinha. Não lembro o nome da autora, nem lembro de ter lido o livro alguma vez antes daquela. Mas com certeza, de alguma forma, eu tinha entrado em contato com aquela história.Às vezes gosto de pensar nas idéias e pensamentos como se fossem bolhas de sabão, ou nuvens que nos cercam. Que estão flutuando, à espera de um olhar mais atento.De vez em quando, nos momentos mais inesperados, elas aparecem na minha tela da mente, como um presente. Nestas horas me sinto uma pescadora de idéias. Modificando a lei de Lavoisier, dizem que na natureza nada se cria, tudo se copia. Nada se perde, com certeza.Eu, quando gosto, copio e colo mesmo. Coloco aspas e o nome do autor, sempre que conhecido. Mas, de tanto copiar e colar mentalmente, de tanto pescar palavras, um dia tudo se embaralha e se reorganiza. E brotam, literalmente, frases, histórias, poemas. E eu escrevo. Ou transcrevo, sei lá. Torno meu por um instante apenas. Sabendo que, daquele momento em diante, já não mais me pertence. Está na nuvem, à espera de outro pescador.

terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

Porta de saída

A gente tinha um pacto e você quebrou. Este parece ser o problema dos pactos. Foram feitos para serem quebrados. Ou talvez o problema seja você e eu.
O nosso era um pacto silencioso. Estes são os mais difíceis de serem mantidos. Não houve registro em cartório, não foi um pacto de sangue, nem uma palavra sequer foi pronunciada. Estava só implícito. Fora escrito ao longo do tempo, nas entrelinhas, nas atitudes, nas consequências. Tem vezes que a vida afunila de tal forma que só um caminho é possível. Desaparecem todos os atalhos, todas as concessões. Nenhuma rota de fuga é alternativa. Porque não há alternativa. Só existe uma via, a saída só tem uma porta, e você tem que abri-la, se quiser se salvar.
Eu tinha vindo até aqui. Fora uma longa distância, e eu a percorri com determinação. Insisti. Entrei em todas as esquinas, e ruas sem saída, e me perdi, mais de mil vezes, nos labirintos complicados desta história. Até que finalmente encontrei a saída, e ela não era mais opção. Não era mais escolha. Não podia mais continuar. Tem brincadeiras que custam muito. Brincando de esconde esconde, eu me escondi de mim mesma. E demorei para me achar, perdida no sem número de esconderijos que você me mostrou.
Mas de repente, não havia mais labirinto, não havia mais confusão, havia apenas uma seta, no fim daquela estrada reta, atrás daquele portão estreito. Era só seguir em frente, sempre em frente. Nada de olhar para trás e se transformar em sal, nada de mudar o rumo, não mais. Nada mais de brincadeira de pega pega. Eu tinha crescido demais para isso. Sempre fui meio grande para você. Desproporcional. Não cabia mais ali, e você sabia disso. Você quis que eu me fosse. Abri aquela porta chorando, e você não me impediu. Nem por um instante. Eu parti porque você deixou. Você até empurrou o portão. Só esqueceu que não havia volta, a porta era só de saída. Tem porta que, uma vez fechada, não se abre mais. Nosso pacto era nunca mais. Mesmo não escrito, não dito, era implícito. Era claro. E você quebrou. Eu deveria saber, você sempre quebra tudo. Você tentou. Só que, desta vez, eu já estava bem longe. Você perdeu este tempo. E eu? Eu perdi esta chave

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

Eu vejo você

Acho que a coisa mais bonita que uma pessoa pode falar para outra não é eu te amo.
Dizer que ama é fácil, qualquer um diz. Diz até de qualquer jeito.
Acho que a coisa mais bonita que uma pessoa pode falar para outra é eu te reconheço.
Eu te reconheço. Não é para qualquer um, reconhecer.

Dani Altmayer

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

Cesta básica

Meu cachorro precisa de um xampú especial. Ele tem alergia, dermatites, pele sensível, ou seja lá o que for. Aí compro o tal xampú, que custa umas cinco vezes mais que o meu próprio. Nem falo o preço porque tenho vergonha. Mas compro todo mês, ou quase.Sempre que precisa. E reclamo, resmungo, acho um absurdo. Porque nem funciona tão bem assim, mas vá lá. Ordens médicas.
Hoje foi dia de comprar xampú. E dia de reclamar, o preço subiu absurdamente.
Aliás, os preços todos tem subido escandalosamente. O supermercado, então, nem se fala. Como dizia  um amigo, o custo de vida está pela hora da morte. Pensando nisso, fiquei analisando meus hábitos de consumo. Porque eu só sei que tudo aumentou pela notinha final do supermercado, que, não importa o tamanho da tripinha,  a cada sábado (dia de ir no super) que passa, vem com um valor mais alto. Eu não costumo olhar o preço de nenhum item no supermercado, com duas exceções: a carne, e o papel toalha. Vou passando pelos corredores, pegando todos os produtos, velhos conhecidos de anos de consumo, sem nem olhar o valor na prateleira. Sempre mais ou menos as mesmas coisas, às vezes alguma novidade em que boto o olho por puro acaso, e nem assim consulto o preço. Levo no impulso, para experimentar. É raro, mas acontece. Em geral, é sempre o mesmo sabão em pó que remove as manchas mais difíceis, o mesmo sabonete que, além de limpar, hidrata, o papel higiênico mais macio, e assim por diante. Vou pegando, colocando no carrinho, piloto automático ligado. Esta sou eu em um supermercado, rápida, eficiente (?), desprovida de pensamentos, praticamente em meditação. Só que não (detesto esta expressão, mas se encaixa bem neste caso). Quase todo tempo estou em transe, mas, como falei, existem duas exceções. Dois produtos, os quais eu sei o preço. Um é a carne. Que me assombra a cada vez. Talvez por eu não gostar , e não comer, mas acho incrível como um pacotinho de carne moída pode custar dez reais! Do filé, então, nem se fala, um verdadeiro roubo. O outro produto é o papel toalha. Que, por algum motivo obscuro, o qual escapa totalmente à minha compreensão, é onde eu faço economia. Explico: o piloto automático sempre desliga na sessão do papel toalha, e olho um por um, comparando os preços. Olho todos. Sempre compro o mais barato. Todas as vezes. Economizo vinte, ou trinta centavos, no papel toalha. Que pode não ser o mais absorvente, mas é o mais barato,  com certeza.
Dá para explicar? Quem consegue explicar o que passa na cabeça de um consumidor? Por que alguém gastaria  uma pequena fortuna em um xampú de cachorro,  para depois economizar no papel toalha? Admiro os publicitários, que tem uma árdua tarefa para convencer pessoas alienadas como eu, fiéis e desatualizadas, a prestarem atenção no que estão fazendo. A deixarem velhos hábitos, e velhas marcas para trás, a se tornarem mais ousadas e corajosas. Admiro as pessoas que sabem o preço de cada produto, e não deixam para ter um ataque de nervos só na hora do caixa, quando aquela tripinha cada vez menor apresenta um valor cada vez maior. Melhor seria ir se irritando aos poucos, porque tudo que vem aos poucos nos dá tempo. Dá tempo de evitar o choque. De acostumar.  Daria até para chegar no caixa com um sorriso bobo (ainda que falso) de quem sabe das coisas. De quem é responsável pelos seus atos. De quem sabe o quanto vale cada pequeno item daquela lista. Tá certo que estragaria o elemento surpresa, mas quem se importa? Só a satisfação de chegar ao fim do supermercado com a certeza do dever cumprido, com a certeza de haver economizado, com a certeza de poder pagar tudinho, já valeria. Tenho pensado nisso. Bom seria, também, começar a pensar em um xampú melhor para mim. E num mais barato para o cachorro. Mais do que na hora de rever conceitos. Afinal, economia sustentável se faz com consumo consciente. E meu cabelo bem que anda precisando.

terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

Descuidado

 
O sonho obrigou a noite a amanhecer mais cedo.
Despertou do sono profundo a inquietação adormecida.
O sonho vestiu-se às pressas, sem cuidado,
Na urgência do encontro,
Esqueceu a armadura.
Coitado.
Sonho desastrado.
 Deu de cara na realidade.

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

Tentativa e erro

Todo mundo parece que tem uma fórmula, hoje em dia. São fórmulas para ganhar dinheiro, fórmulas para ser feliz, fórmulas para criar filhos, fórmulas para casar, para separar, fórmulas do amor. Frases lindas e profundas circulam pelas redes sociais, dizendo como você deve fazer isso para conseguir aquilo. Como você deve deixar ir o que não é para ser . Como o que é importante ficará, como depois da tempestade sempre vem a bonança, e assim por diante. Fórmulas não faltam, existem aos montes. Então, se todo mundo sabe o"como", por que tem tanta gente infeliz? Nunca se viu tanta gente perdida, carente e confusa. E infeliz. Por quê? Isso quer dizer que as frases,  todas estas estas fórmulas, são falsas, ou mentirosas?
Acho que não é isso. As fórmulas são verdadeiras, na grande maioria. A teoria é ótima. O problema é colocar em prática. Entender é o problema. Pensando nisso, fiz uma viagem no tempo, à minha época de escola, mais especificamente às aulas de física. Sempre fui um desastre em física. Mas sempre fui boa aluna, até em física. Eu explico: eu decorava, tudo, decorava, e decorava aquelas fórmulas que não faziam o menor sentido para mim. E, de alguma forma, conseguia me sair razoavelmente bem, o suficiente para nunca ser reprovada. Fui começar a entender de física, mas só um pouco, na época do cursinho pré vestibular. Ali percebi que havia um certo nexo na coisa toda. Só ali. Até então, levara na base da decoreba mesmo, sem maiores problemas.
Mas a vida não nos dá esta chance. A vida não perdoa nossa falta de compreensão. Nenhuma fórmula é suficiente, nenhuma nos serve de verdade, até que consigamos realmente entender, sentir, captar, dar significados. De nada adianta repetir mil vezes aquilo que você tirou daquele livro maravilhoso de auto ajuda, se para você isso não for verdadeiro. Você pode citar poetas, filósofos, psiquiatras e escritores. Você pode até gostar do som das palavras, achar bonita a frase, mas se você não entendeu, não vai passar de ano. Não vai adiantar. Podem te dizer mil vezes que o cara é a maior roubada, que a outra não vale nada, você pode dizer isso para você mesmo, mais umas mil vezes. Se você não quiser enxergar, não vai. Mesmo que todo mundo esteja vendo. Enquanto você não sentir na pele, vai continuar repetindo os mesmos erros. Pode escrever uma coisa qualquer num post it, e colar no  espelho do banheiro, e repetir para si próprio todo dia, como um mantra. Se não houver compreensão, não haverá significado. Sem significado, não passará disso, um post it colado em um espelho, com um dizer qualquer.
Com tanta informação, vinda de todos os lados, tanto conselho, de tanta gente, esquecemos de silenciar e olhar para dentro. Esquecemos de fazer para nós mesmos algumas perguntas simples: como estou me sentindo? O que estou entendendo? O que isso significa? Eu reconheço como minha esta verdade?
Porque, lá atrás, deixaram de contar para a gente que a compreensão não vem de fora. Vem daqui, não de lá. Não nos mostraram que, nem tudo o que serve para o outro serve para nós. E tudo bem que seja assim. Esqueceram de dizer que não é decorando que se aprende alguma coisa. Não é lendo todos os livros, vendo todos os filmes, memorizando todas as fórmulas. Ouvindo todas as opiniões. Não é comprando todo o lixo que tentam nos empurrar. É refletindo. É fazendo. É vivendo, e absorvendo. É mais do que apenas vivendo, é vivenciando. Tentando, e não desistindo de tentar,  só porque erramos, uma ou dez vezes. Errar é parte do aprendizado. Não tem nada de errado em errar. É fazendo, por si mesmo, de novo, e de novo, até acertar. Tentativas e erros. A vida é tentativa e erro. Só assim se consegue aprender, para, então entender. A vida não tem fórmula universal, e nunca está pronta.Se nós não descobrirmos nossa própria verdade, não passaremos de eternos estudantes, perdidos no meio de uma aula de física,  repetindo equações as quais não fazemos a menor idéia para que servem.