domingo, 10 de novembro de 2019

As lembranças mais antigas







memórias e fotografias
se confundem
um triciclo e a irmã 
na garupa
as pernas da mãe e do pai
nas mãos o cigarro aceso
o pátio de cimento e grama
um urso chamado Teddy
o cão de nome Tupa
Lili a tartaruga
Juca o canário belga
os patos e coelhos sem nome
seu Nenê plantando mudas
 conversas sem sentido
a escola Criança Feliz
os balanços pneus de borracha
os sonhos da padaria Gaúcha
os macacos da Tamandaré
aquele cheiro
o engasgagato da Ozinha
para mim bife especial
a copa do mundo a cores
na casa do vô e da vó
os primos amigos os tios
o irmão implicante
a boneca toda riscada
o clube as velas piscina
o vô ensinando a nadar
a velha figueira ao longe
os cômoros de areia que hoje
chamariam dunas
as estradas de chão
aos domingos
o futebol no rádio
 o pai dirigindo
 a mãe no violão
as canções do Chico
o escritório mágico
repleto de livros proibidos
e os quatro olhos que
ainda
não sabiam ler

Um domingo de chuva e um tema para a oficina, mexer em álbuns dá nisso, uma viagem à terra estranha da infância, onde o que foi nunca mais será, mas onde as fotos são moldura para as lembranças mais antigas.