domingo, 2 de setembro de 2012

De trás para frente

  Sabe aquela história que nos contavam, do tal sapo que a princesa beijava, e virava príncipe? Ela conhecia o sapo, que nem era tudo isso, mas depois se transformava, eles casavam e eram felizes para sempre? Mais ou menos assim, a história. Se você fizer uma análise bem básica do conto de fadas, pode concluir algumas coisas. Uma, que não devemos julgar pelas aparências, elas enganam. Depois, que devemos conhecer de verdade para nos apaixonarmos e aí sim darmos sequencia à coisa toda. Ou não. Que devemos dar chances aos sapos. Que o amor vem com o tempo.(?) E tal e coisa.Era mais ou menos isso, na época.
  Só que, a julgar pelo que tenho visto e ouvido por aí, esta história, agora, está de trás para frente. A moça conhece o cara, e ele já é um príncipe. Assim, de cara. Ele é O CARA. Cheio de charme e sedução, palavra certa na hora certa, declarações de amor eterno. Promessa de passear de mão dada no parque, de lua de mel em Paris, de lavar a louça todo dia. Isso, eu estou falando, já no primeiro ou segundo encontro. Chama ela de linda, de princesa, diz que ela é tudo o que ele sempre quis em uma mulher. Que quer envelhecer ao lado dela. A moça, que cresceu ouvindo historinhas de amor, que adora uma novela, uma comédia romântica com final feliz, acredita, lógico. Em cada palavra. Chegou quem ela tanto esperara. Em menos de cinco dias ela já pensou no vestido de noiva, no nome dos filhos, na cor do sofá. Em dez dias ela  está esperando o telefone tocar, uma mensagem no facebook, um email, um sinal de fumaça, qualquer coisa, e nada. O CARA sumiu. Desapareceu. Claro, talvez ela não tenha percebido alguns sinais sutis de que a coisa estava esfriando. Quando, ao invés  de chamar ela de princesa, como costumava fazer até o terceiro encontro, passara a rimar o nome dela com o de uma fruta. Ou quando só ligava quando sabia que ela não podia. Coisas assim. Não tão fáceis de perceber, afinal, ela era ou não o amor da vida dele, seu sonho de consumo, etc e tal? Devia ser só uma fase, ele deve estar com algum problema. Mas não, olha a foto que ele postou. Tomando chimarrão no parque. Quem é aquela loira agarrada nele? Pronto, o príncipe virou sapo. Em menos de duas semanas. Tudo ao contrário. E na velocidade da luz. E a culpa nem é dele. É da época.
  Oi, dá licença, vou ali me apaixonar e já volto. Pronto, voltei. Assim, instantâneo. Como macarrão e sopa. Tudo muito rápido, muito fácil, muito prático. Com tanta opção, com tanta facilidade, com tantas janelas abertas simultaneamente, quem tem tempo pra ler um livro até o fim? É só clicar, aqui e ali, e mudar de página. Ops, aqui tem uma coisa  mais interessante, vou ali e já volto. Não voltei, achei outro link, esqueci. E o melhor, você não precisa fechar nenhuma página, que maravilha! Se você lembrar, é só voltar. Ela está esperando. Claro, fica um pouco confuso. Mas é o mundo em transformação. O amor nos tempos do déficit de atenção. Hiperativo, Rápido. Sem foco. Um mundo onde imagem é tudo. Coloca só uma legenda que já está bom, e nada muito profundo, tá, ninguém tem paciência para textos longos.
  Às avessas do conto de fadas, hoje todos somos príncipes e princesas desde o início. Felizes desde sempre, ainda que não para sempre E morrendo de medo que nos descubram. Por isso não permitimos, nem damos tempo.Para que um beijo nos transforme em sapo. Melhor saltar fora antes. pular logo em outra poça, e rápido. Pula, de trás para frente. De poça em poça, sem sair do raso. E nem precisa explicar, ninguém mais tem paciência para ouvir, mesmo. É a época, princesa, a culpa é da época.  Velocidade de conexão. Adapte-se

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