segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Medo de trovão

E o dia se tornou noite, assim, de repente. O céu escuro iluminou–se de raios, e até era bonito.
Era bonita a tempestade, vista deste jeito, pela janela. O céu cortado por lampejos e clarões. Bonito, sim. Mas assustador também. Bela, como só a natureza pode ser, na sua fúria e também na sua calmaria. E perversa, no seu silêncio pré- temporal, na água sem fim,  que por fim desaba, enchendo as ruas, e os arroios, e os buracos desta cidade. Cidade de pedra e de lata. Assustadora porque transborda, não cabe em si, e se espalha. Entra pelas frestas e pelos vãos e pelos poros. Pelos sapatos. Entra em cada cantinho e cada buraco, e cada esquina. Parece cachoeira. Inunda o dia e atrapalha o fluxo. Do trânsito e do meu pensamento. Transforma luz em trevas, dia em noite e faz um barulho danado. Um estouro surdo, ora bem longe, ora bem dentro de mim. E eu tenho medo. É bonito, mas tenho medo. Tenho medo do que é bonito, do que não tem controle, e transborda. Tenho medo porque o chão é de pedra, e não absorve este aguaceiro. E porque faz barulho, muito barulho. A água batendo na lata, e na pedra, e escorrendo pelo asfalto. E tudo se torna assim, embaçado, molhado, confuso. E é preciso correr, desviar, fugir. Em vão. Não se foge do que é mais forte. Do que não tem controle. Faz tanto, tanto barulho. Não gosto do barulho. É bela e assustadora. Há que se admirar sua força. Sua ferocidade. Eu respeito. Mas não gosto de tempestade. Tenho medo de trovão. Tenho medo de transbordar, e me perder, na cidade que não me absorve. Nunca.

Dani Altmayer

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