quinta-feira, 30 de agosto de 2012

Não presta

  "Não presta colar coisa quebrada". Entre tantas outras coisas que não prestam, como porta de armário aberta, bolsa no chão, sapatos virados, passar embaixo de escada e etc.
  Se presta ou não, eu não sei. A gata, que é maluca até no nome (só para constar, não é preta, tá?), acabou de quebrar um patinho de cristal que foi da minha mãe. Mas não vou colar. Não porque dê azar ou algo do tipo, não acredito em sorte ou azar. Não vou colar porque as coisas, depois de quebradas, se modificam. Não voltam de jeito nenhum à forma original. Por mais meticuloso que você seja,  nunca mais será o mesmo vaso. Ou o mesmo pato. Nada que se quebra se conserta colando. Já tentei, muitas vezes, e o resultado foi sempre um objeto remendado. Parece óbvio, mas às vezes não é. A gente gosta tanto, mas tanto de uma coisa que quer que ela permaneça, mesmo que meio estropiada, um pedacinho faltando, enfim , ao menos ela está ali. Já não tem uso ou função, a beleza se foi, mas, por apego, ou costume, deixamos na prateleira, fazemos vista grossa aos remendos, negamos a realidade de que aquilo de que tanto gostávamos já não existe mais. Foi embora naquele dia, quando caiu e se espatifou em mil pedaços. Naquele dia  quando choramos, inconformados, e catamos um por um os caquinhos, para remontarmos tal qual quebra cabeça depois. Colamos e deixamos ali, na estante, ocupando espaços, impedindo o novo. Energia estagnada. Já fiz muito isso. Nunca prestou. Simplesmente existem momentos em que só o que podemos fazer é botar fora mesmo, tacar no lixo, sem dar  maiores significados. Deixar ir.
   Por outro lado,  tem algumas vezes em que o material é tão bom, tão bonito e valioso que, mesmo em pedaços, você consegue ver. Que vale a pena. Não consertar. Não tentar voltar ao que era. O que era, já foi, passou, não tem conserto. Isso eu já aprendi, que não adianta chorar sobre o vidro quebrado. Não remendar, ou colar, mas pegar todos os pedaços daquela coisa tão preciosa e transformar. Criar algo totalmente novo. Fazer arte com aquilo. Inventar. Investir. Tentar fazer diferente, totalmente diferente. Achar a melhor forma, e reaproveitar. Acredito que dá para fazer , sabendo que nunca será o que era. Mas que poderá ser até melhor, quem pode dizer que não? Um novo começo, uma segunda chance. Pode dar trabalho. Mas pode ser possível. Desde que você queira muito. Desde que se  reconheça o que realmente tem valor. Desde que valha a pena reciclar.  Agora, preste atenção, olhe muito bem, reconheça. Porque o resto, o resto é  apenas lixo, na grande maioria. Lixo comum. Pode jogar fora, sem pena. "Não presta,  não mais."

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