quinta-feira, 27 de setembro de 2012

Uma paz qualquer...

 Já não dói tanto. Nem dá mais para chamar de dor. É mais uma coisa de fundo, meio indefinida, uma saudade ardida. Levemente desconfortável. Mas não é mais dor. É uma tristeza suave que vem da aceitação, uma espécie de  reconhecimento. Rendição, e paz. A paz de quem perdeu a guerra, meio machucada, dolorida, mas ainda assim paz. Paz da bandeira branca hasteada, de não precisar lutar mais nenhuma batalha inglória, de não tentar entender porquês.Paz porque finalmente cessaram as bombas e os canhões. Paz do vazio de não esperar mais nada, de se saber vencida. Derrotada. A paz de um país devastado, que começa aos poucos sua reconstrução. Pedra por pedra. Um dia de cada vez. A paz de um lugar em escombros onde de repente se acha,  no meio dos entulhos, a vida florescendo em botões de rosa, e se vê, novamente, um  belo motivo para sorrir. Esta sou eu, em recuperação.
 Meu primeiro pensamento ainda é teu. O último também. Confesso que mais alguns tantos, no meio do dia e nas horas mais loucas. Mas já posso chamar de pensamentos soltos, esparsos, e ao acaso. Nada daquele padrão obssessivo de um tempo atrás, tipo 24 horas por dia. Nada disso.
Dizem que quando nos apaixonamos voltamos a ter 17 anos. Mas o bom de não ter mais 17 anos, na vida real, é que a recuperação do amor não correspondido ( ou o que seja que faça uma história legal acabar), é bem mais rápida e bem menos dramática. Ficar sem comer ou dormir, por exemplo, até pode rolar. Mas ninguém tem tempo para morrer de amor, né, com todas estas contas para pagar, e trabalho a fazer, e filho para cuidar. Então tem uma hora em que a gente diz chega,  sacode a poeira e   levanta a cabeça. Acorda menina, levanta já , que o mundo lá fora te chama. Desapega deste sofrimento, agora! Olha a vida para viver!
 A tal "maturidade"me põe em perspectiva.E aí eu ponho você para o lado. E vou tocando o barco, como se diz por aí. Os dias vão passando, sem você. E eu percebo que sim, dá para seguir. Que não, o mundo não acabou. Ninguém jogou uma bomba assim com tamanho poder de destruição. E percebo que os pedaços que sobraram são mais que pedaços, nem são pedaços. sou eu, inteira, de novo. Mais triste, um pouco desconfiada, com um muito de saudade ainda. Sabendo que a saudade faz parte. Porque foi bom, e foi bonito. E foi amor. Mesmo que talvez não seja mais. Ontem, ouvi em um filme o seguinte diálogo, e lembrei da gente:
-Às vezes dói muito lembrar.
-Eu acho que doeria mais esquecer.
 Então eu fico com a lembrança do que não posso e nem quero esquecer. Guardada em uma caixa bonita, a caixa das lembranças que valem a pena guardar. Fica em cima do armário, e passo longe dela, por precaução, mas às vezes ela cai na minha cabeça. Sou meio desastrada. Nessas horas dói de novo. Coloco a caixa de volta.Você está ali, adicionado recentemente, e isso é quase uma honra. Olha que ela não é para qualquer um, não. Pouca coisa fica de verdade. Acho que você nem sabe como foi importante. Eu sei, e isso basta. Mas, guardado na caixinha, você não me atinge tanto, e eu posso seguir em frente. Eu e meu projeto de reconstrução.  A parte vencida por seu adeus. Finalmente rendida. Em paz, com uma paz qualquer.

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