sábado, 15 de setembro de 2012

A triste história da medicina

Em um 15 de setembro, no distante ano de 1928, foi descoberta a penicilina, por Alexandre Fleming. O primeiro antibiótico. Descoberta casual, como todas as grandes descobertas, mas um marco na história da medicina. De lá para cá a medicina evoluiu muito, de uma forma até então inimaginável. Grandes avanços tecnológicos, em termos de diagnóstico e tratamento, trouxeram grandes benefícios e o consequente aumento da sobrevida da população, em geral. Em termos técnicos, não há dúvidas a respeito desta evolução. Mas, em termos humanitários, tenho lá meus questionamentos.
Ontem estava fazendo as unhas e ouvindo as conversas paralelas. A outra manicure estava contando para uma cliente sobre o problema de saúde do marido, e falou a seguinte frase: "acho que agora acertamos com o médico! O outro nem olhava na cara dele!"
Veja bem ela não estava falando do tratamento em si, mas da atitude do médico. Como pode um tratamento dar certo se o médico nem olha na cara de seu paciente?
Há uns dias, ouvi de uma amiga, ela também médica, a mesma queixa em relação ao profissional a quem procurou para tratar um problema na tireóide. "Ele não me ouviu. Não levou em conta nada do que falei, e simplesmente prescreveu a medicação, sem maiores explicações, sem eu sequer concordar. "
E um terceiro caso, de uma amiga cuja filha está em investigação de um problema de saúde, com dificuldades em marcar consulta com a médica de sua eleição, ouviu da secretária a seguinte frase: "Olha, por que você não procura outro profissional?"
Detalhe, essa minha amiga já tinha levado a filha em uma outra médica, também particular, da qual não gostou por absoluta falta de empatia. Apesar da mesma ser uma profissional de renome e excelente reputação técnica.
Eu poderia ficar contando inúmeras histórias semelhantes. Tenho algumas pessoais, referentes ao longo ano em que minha mãe ficou doente, percorrendo um sem número de consultórios e médicos em busca não só de tratamento, mas, e principalmente, em busca de conforto e acolhimento. Que recebeu sim, mas de poucos, muito poucos. Era uma de suas maiores queixas, não ser ouvida.
A pessoa enferma está, antes de mais nada, carente de cuidados e atenção. Fragilizada. Mas o que parece é que esta coisa chamada empatia, que não se ensina em faculdade nenhuma, é artigo de luxo e cada vez mais raro no meio médico. Tem uma curva de crescimento inversamente proporcional ao avanço tecnológico.
Sei que existem inúmeras razões para isso. Razões que vão desde a baixa remuneração, super lotação de hospitais, excesso de trabalho, falta de tempo, e etc. Todas perfeitamente válidas. Existe uma desvalorização do profissional médico sem precedentes. Sei de tudo isso, e eu mesma muitas vezes, em um final de plantão, já cansada, caio no piloto automático e esqueço. Esqueço que, ali na minha frente, não está um paciente, apenas. Ali na minha frente está um ser humano, assim como eu, assim como meu filho, assim como meu pai. Um ser que tem toda uma história de vida, que não está ali à toa. Uma pessoa que tem seus medos, suas dores, suas angústias. Esqueço que a sua doença, não é só uma doença, é a soma de tudo o que ele é. Um ser bio, psico, social e espiritual. Eu também me atrapalho, muitas e mais vezes do que gostaria. Cansada, é fácil esquecer. Mas isso não pode ser uma desculpa.
Empatia não se ensina. Mas se aprende. Olhar para o outro não somente com olhos diagnósticos. Ver a pessoa por trás dos sintomas.
Médicos de corpos e de almas. É desta evolução que a medicina precisa agora, urgentemente, sem negar nenhum dos inúmeros avanços que tivemos. Uma coisa não precisa excluir a outra. Afinal, pode estar faltando pouco, mas ainda não aconteceu. Ainda não viramos robôs. Ainda precisamos, quase mais do que exames sofisticados e pílulas milagrosas, de uma mão segura que nos guie.
No caminho escuro de uma enfermidade, ficamos frágeis e expostos. Mais do que qualquer outra coisa, procuramos alguém que se importe. Que consiga nos ver. Um médico que olhe na nossa cara.

Dani Altmayer

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