domingo, 9 de setembro de 2012

O silêncio e a UVA

  Pensar antes de falar. Ou escrever. E pensar mais uma vez, e outra ainda, e, se possível, mais outra. E respirar antes de falar. Comer alguma coisa. Ir ao cinema. Tomar um banho. Passear com o cachorro. Dormir uma noite de sono. E tomar o café da manhã.  Antes de falar. Ou decidir calar. Ah, como é difícil. Para uma escritora. Para uma mulher, engolir palavras é quase um pecado.

  As palavras têm poder, tanto para o bem como para o mal.Em um curso de meditação que fiz  um tempo atrás, o professor falou sobre isso, sobre uma coisa chamada UVA. Significa basicamente pensar antes de falar, e só abrir a boca ( ou o notebook) se o que vai ser transmitido for UVA. U significando útil. V significando verdadeiro. E A, significando amoroso. Útil, verdadeiro, amoroso. Que seja isso ou nada. Isso ou o silêncio. Porque vale a pena você dizer para alguém um eu te amo. É legal elogiar sinceramente. Desejar felicidades. Estas coisas. Coisas das quais você não tem como se arrepender depois.  Mas, e o oposto disso? É realmente necessário? Se você está com raiva ou sentindo vontade de sumir, não é melhor ficar quieto? Calar as palavras que podem ferir sem necessidade? Lembre-se, as palavras, uma vez ditas, ou escritas, não te pertencem mais. Quantas vezes você, eu, tomados pela emoção do momento, falamos coisas sem pensar, coisas nas quais nem acreditamos, ou não temos certeza, e minutos depois já estamos pensando, nossa, o que foi que eu fiz? Por que disse isso?

  O silêncio sim, este pode ser ouro. Ele te dá a chance de mudar de idéia. De acomodar emoções. De repensar. Mudar de perspectiva, e isso sempre é bom. E talvez a gente nem mude de idéia no fim das contas. Continue pensando que ela é uma vaca, que ele é um cachorro ( os pobres animais inocentes ), mesmo depois de ter respirado 100 vezes e acendido 10 velas para iluminar os caminhos. Mesmo assim. Você tem certeza, já pensou a respeito. Vale mesmo a pena dizer? Tem algo a ser falado, você precisa muito desabafar? Tente antes as paredes do seu quarto, o pobre do seu terapeuta ou a ascensorista do elevador. Se mesmo assim nada te aliviar, então ok, vai lá e xinga mesmo, mostra para ele (a) como você se sente, o quanto você o (a) despreza, enfim... A escolha é sua, e nem sempre dá para engolir. Realmente, tem coisas  que são grandes demais para digerir sem saliva. Tem coisas grandes demais para calar. Fala então. Grita, até, faz bem de vez em quando.

  Mas lembra que quase tudo cabe em um bom silêncio. Todas as dores, as amarguras, e todas as alegrias, e todos os amores. No silêncio cabem todas as possibilidades.Todas as perguntas, e todas as respostas. Ele fere, mas ele cura. Porque um silêncio não fecha portas. O silêncio tem um quê de mistério. Tem charme. Ele fala por si. O calar, muito mais que o falar, é uma arte. Uma arte difícil, a ser aprendida. A  bela arte de saber calar. Bela porque, como diz uma amiga, o menos é mais. Bela e difícil. O silêncio e sua complexidade . Mas, acima de tudo, o silêncio e sua simplicidade. Porque sim, um belo silêncio vale mais do que mil palavras. É luxo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário