domingo, 23 de setembro de 2012

Liberdade

"A verdade é sempre libertadora, quer você goste, ou não". A frase,  mais ou menos assim,  foi retirada do excelente filme  A chave de Sarah a que assisti hoje à tarde. Um belo filme francês, que conta mais uma vez a triste história de julho de 1942, quando a polícia francesa retirou milhares de famílias judias de seus lares, levando-os para o velódromo de Paris, e , enfim, o resto todos sabemos, ou deveríamos saber. O filme, que se passa em duas épocas, atual e pregressa, mostra a história desta menininha, Sarah, e vale a pena assistir.
Mas não era sobre o filme que eu queria falar. Era sobre a frase. Sobre a verdade. Sobre como tememos e evitamos a verdade, tantas e tantas vezes. Em como preferimos manter o véu tênue de uma ilusão a encarar a realidade. Em como inventamos histórias, e desculpas, e mentiras sinceras para não termos que olhar na cara dela. Desta verdade que não queremos admitir. Porque ela pode doer, claro, e quem gosta de sentir dor? Bom, alguns gostam, mas isso já é outro assunto. A maioria de nós não gosta. Fugimos da dor com analgésicos e antidepressivos e meias verdades, todo tempo. Encarar a realidade requer uma boa dose de coragem. Para ver o que você não quer ver, ouvir o que você não quer ouvir, admitir o que você, no fundo, já está cansado de saber, mas até finge que não. Se faz de bobo por uma ou duas migalhas, esquecendo que não é nenhum passarinho para viver com tão pouco. Aguenta aquele sapato apertado porque é bonito, e custou caro, e você meio que já se acostumou com o desconforto. Esquece do alívio que você vai sentir, ao tirar. Mesmo que fique uma bolha. E que você chore um pouco. Que sinta dor, por alguns dias. Que sinta falta por algum tempo. Nada disso é desculpa. Porque vai passar, e nós sabemos disso. Estupidez é não querer a verdade e se contentar com doses homeopáticas de sofrimentos pequenos. É calçar o sapato apertado e esperar que ele ceda com o tempo. Mesmo sendo dois números menor que o seu pé.
Por pior que seja a verdade, ela é a verdade.Sempre. Libertadora na sua crueza. Na sua nudez. A verdade, nua e crua. Teve um tempo em que fugi dela. Me escondia em livros e sonhos e filmes, inventava minhas ilusões. Com a mania de ter esperança. Com meus olhos que sempre querem ver o melhor em tudo. Minhas lentes cor de rosa. Que coloriam até o que nem cor tinha. Eu tinha medo. Hoje não. Por mais que eu não aceite, concorde ou goste, eu quero, sempre, e mais do que tudo, a verdade. E a imensa liberdade que vem com ela. Mesmo que doa, e muito, saber é sempre melhor do que não saber.  Funciona  como um tapa na cara no meio de uma crise histérica: te acorda.Tem horas que só assim. E saber liberta, quer você goste, ou não. É transformador.

Um comentário:

  1. concordo. a verdade é a verdade, incontestável, por simplesmente ser verdade. interpretações dela, todos fiquem a vontade para tê-las.não aceitar, não gostar, enfim. mas, nada disso muda a verdade. ;-)

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