domingo, 26 de agosto de 2012

Medo de água fria

Gato escaldado tem medo de água fria. Eu e os ditos populares, sempre com um na cabeça. Fazer o que, se é sabedoria, ainda que popular? E deve vir de um tempo em que o povo ainda pensava, acredito que sim.
Bom, mas voltando ao gato, como é verdadeiro isso. Quanto reflexo condicionado levamos ao longo da vida? Reflexos que vamos adquirindo, um a um, com nossas experiências, as boas e as ruins, e vamos guardando em caixinhas como se fossem peças de coleção. Memórias que ficam armazenadas em nossos cérebros, prontas para serem usadas a qualquer momento. Memórias, conscientes e  inconscientes, que ditam nosso comportamento na maior parte do tempo, sem nem mesmo percebermos. Muitas vezes uma palavra, um gesto, um cheiro, ativa esta lembrança e agimos de forma automática, reagindo exatamente da mesma forma, repetindo padrões incessantemente. E depois ainda reclamamos, porque isso sempre acontece comigo? Ora, porque você assim pediu, acredite.Outra frase bem batida é que não se pode fazer sempre a mesma coisa e esperar por resultados diferentes. Batida, mas verdadeira. O problema aqui são os condicionamentos e as crenças que vamos incorporando no decorrer do tempo, sem ao menos pararmos para questionar o quanto de verdade existe ali. Porque as coisas mudam, né, o tempo todo. Naquele dia a água estava quente, hoje está morninha, amanhã pode estar fria. Mas não, a gente não quer nem saber.Toma como verdade, e pronto. Nem pensar em colocar o pé devagarinho, e experimentar a temperatura. Arriscar um pouco.Nada disso, já saímos correndo, com medo da queimadura.
Levamos estes condicionamentos também e principalmente para nossos relacionamentos. Esquecemos de estar atentos e observar, perceber que ninguém é igual a ninguém. Generalizamos, trazemos dores passadas, e pronto, ninguém presta. Está acontecendo de novo.  Ele sempre faz isso, ela sempre faz aquilo. Eu sabia que não ia dar certo.Claro, né, você faz tudo para que não dê,  para confirmar sua crença.Ele demora para ligar, você lembra do outro que sumia por 15 dias, e pronto, arma o maior barraco. Briga com o coitado, que só estava dormindo, tranqüilo.  Faz drama. Sente-se abandonada. Ferra tudo, mais uma vez.Até pode ser que você atraia sempre a mesma história para a sua vida, e ela se repita em ciclos, mas ainda assim, você é quem a está criando. Com suas memórias condicionadas, sua falta de atenção, seu medo de água fria.
O medo é protetor, na medida certa. Alguns reflexos condicionados são importantes. Não tocar no fogo, por exemplo. Não atravessar a rua sem olhar para o lado. Não embarcar naquela canoa que você já viu, está toda furada. Mas não é deste medo que falo.Este é um medo amigo, bem dosado, e se chama equilíbrio.Falo do medo inconsciente, viciado, que te impede de mudar e viver plenamente. Experimentar o novo. A liberdade de fazer diferente, a cada instante.
E, antes que você diga, falo primeiro: não, eu não acho que é fácil. Se desfazer de crenças e perder medos requer muita coragem. Muita vontade. Percorrer novos caminhos, aceitar desafios, e olhar bem no fundo dá um trabalhão mesmo. E nem sempre é bonito. Mas pode valer a pena.Prestar atenção. Libertar-se de antigos padrões e parar de repetir. Porque, como diz outra frase também conhecida: figurinha repetida não completa álbum. Sabedoria popular.

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