quarta-feira, 18 de julho de 2012

Você fala demais

 Às vezes você fala muito. Quase sempre. Porque você acha as palavras, sempre. E isto pode ser um pouco irritante. Sempre achar as palavras. Acertar em cheio. Isto é um pouco chato, você sabe. Cansa. Você quer falar, muito.  Quer ouvir também. Como se as palavras tivessem poder por si. De curar as dores. De dar garantias. Não tem, né, e você sabe disso. Você sabe melhor do que ninguém. Que elas são peças de um jogo, nada mais. Porque tem coisas, muitas, para as quais não há palavras. Coisas enormes, que não cabem no alfabeto . Que só podem ser lidas nas entrelinhas. Coisas boas demais para serem formatadas em letras e frases e discursos. Coisas tristes demais para se dizer. Coisas inevitáveis que você tenta evitar gritando, como se grito funcionasse. Você olha, e vê, e quer falar. Quer gritar cuidado, não pisa aí! Mas sabe que não adianta, que por mais que você conheça as palavras, elas vão cair no espaço vazio da surdez. Não vão ser ouvidas, porque você fala demais. Não entende que o silêncio abre espaços.Ou entende, e se assusta. Você tem medo do que não pode ser dito. Tem medo do que isso significa. Deste espaço. Porque lógico que você sabe as palavras, você sempre sabe. Mas não pode dizer,não desta vez. E não quer ouvir.

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