segunda-feira, 2 de julho de 2012

Dor de crescimento

Sabe aquela dor de crescimento, nas pernas, que as crianças tem, geralmente à noite? Pois é. Adulto também tem. Mas não é a perna que dói.É  que crescer dói. Em qualquer idade.Na criança o que dói são as pernas, pelo crescimento rápido dos ossos, cartilagens, articulações, estas coisas. Já o adulto dói por outros motivos. em outras partes do corpo.Dói porque crescer dói. Sempre.
Tudo que se vai deixando para trás , de bom e de ruim, de certa forma dói também. Todas as pequenas e  grandes alegrias, eventos importantes, festas, casamentos, formaturas. Todos os nascimentos.E todas as pequenas e grandes perdas, mudanças, separações, mortes e funerais. Tudo que se vai adquirindo dói também. Todo o verniz e máscaras e contas para pagar. Entre a infância e a idade adulta, em nome de uma tal maturidade, vamos largando algumas coisas e pegando outras. Este largar e pegar, ele dói também. Porque este largar e pegar significa fazer escolhas. E escolhas doem, invariavelmente. Mas acho que o que mais dói de verdade é a perda da alegria.Não de uma alegria qualquer, mas daquela alegria da criança. Pura e cristalina, e doce . Como a gargalhada de um bebê. (Tem coisa mais gostosa?) A gente vai crescendo e vai se levando tão a sério. Esquece de brincar. Esquece da criança que ainda somos, e sempre seremos. Ou alguém não reparou que não passamos de crianças fingindo ser gente grande? Brincando de casinha, de papai-mamãe, de executivo sério? Colocamos os saltos altos de nossas mães, seus colares, e as gravatas de nossos pais e saímos.  Um grande faz de conta. Fingindo ser gente grande. Jogando nossos jogos de tentativas e erros, meio sem regras e sem sentido. Criando expectativas e frustrações e guerras, de todo tipo.E esquecendo como se brinca. Crianças grandes e tristes, que esqueceram. Esqueceram que a grande brincadeira é fazer castelos na areia.Castelos bem lindos e altos, que o mar vai levar. Vai levar o castelo e trazer conchinhas. E você vai sentar de novo, na areia, e construir mais um castelo, enfeitado com estas conchinhas. E o mar vai levar tudo de novo, e você estava achando tão lindo, até fica um pouco triste. Mas você sorri porque sabe que a brincadeira é assim.De novo, e de novo, como as ondas quebrando na beira da praia. Como naqueles jogos de pecinhas de montar. Você constrói uma torre bem alta, e depois derruba, apenas para construir outra maior e mais bonita, e esta é toda a graça da brincadeira. Poder desmanchar e fazer de novo. E se encantar a cada vez. Mas nós, crianças grandes, esquecemos de brincar. Só sabemos jogar nossos jogos neuróticos Por isso, nossas pernas não doem. Mas sentimos dor, muitas vezes, e geralmente à noite, também. Não doem as pernas..Dói nosso coração, apegado e maduro. Dói a dor da saudade das ondas do mar. Dor de crescimento. Ou nostalgia.

Nenhum comentário:

Postar um comentário