domingo, 2 de outubro de 2016

Dois de outubro



O céu muito claro dessa manhã de domingo confirma a primavera que sopra, numa brisa morna quase vento. É dia de eleição. Faz silêncio na avenida à beira do rio. Dá para ouvir as rodas das bicicletas girando, algumas conversas suaves, o motor de uma lancha ao longe. Nenhum carro e pouca gente. Na grama, meia dúzia de jovens montam o que parece vai ser uma festa com som. Dois idosos tomam mate em um banco na frente do museu, um deles tira a camisa. Uma mulher medita na pedra e tem as unhas azuis. Todos oferecem seus rostos ao sol.
Um menino vestido de branco é batizado nas águas sujas do rio por pessoas também vestidas de branco. Pais orgulhosos passam carregando filhos inquietos em seus bagageiros. Muitos caminham, muitos correm. Alguns jogam futebol de várzea, tem quem assiste. Uma senhora bonitona patina, de capacete cor de rosa. Três meninas voam, de skate. Sem capacete. Um homem fuma sozinho contra o muro cinza.
A mulher de unhas azuis fotografa uma ou outra coisa, tentando registrar a crônica dessa manhã silenciosa. Igual a tantas outras, assim diferente. Uma manhã onde a calma se derrama na avenida como um sorriso ensolarado, num daqueles raros momentos em que se estar vivo basta. E não dói.

Dani Altmayer



.

Nenhum comentário:

Postar um comentário