terça-feira, 18 de outubro de 2016

Bleu




Ela chegou na minha vida de peruca e turbante, cheia de estilo, de salto altíssimo e pisada forte, estremecendo as vigas da velha escada de madeira da livraria. Por muito mais tempo do que deveria, estivemos separadas por várias cadeiras e um certo estranhamento, quem era essa mulher?, unidas apenas pelas narrativas de nossos textos iniciantes. Ela, sempre atrasada.
Um dia (uma noite), por um desses erros que dão muito certo, nos aproximamos e começamos a conversar. Foi quando nos conhecemos de verdade, para muito além daqueles textos que compartilhamos, e pudemos dividir histórias e dores, amores e alegrias, encontramos um cantinho no coração e na vida uma da outra, cantinho esse que só fez crescer ao longo desses dois anos. Os cabelos dela também cresceram, junto com minha admiração. Ela é meu exemplo de força e delicadeza, ela é pura superação e máxima inteligência e sensibilidade. Meu sinônimo de resiliência. Linda, por dentro e por fora, porém sempre atrasada.
Demorou demais para chegar. Eu acho.
Não somos duas, no entanto, e peço licença para falar pela Fernanda, que já sentava ao meu lado, quando nos tornamos três. Formamos um trio, no melhor ménage à trois sem sexo que pode haver. Entre cafés e sanduíches, vinhos e cervejas fortes ( muito fortes!!!), cinemas e shows, ideias de feminismo e conversas malucas, choros e risadas, tarot e trocadilhos infames, fora inúmeras mensagens de whatsapp, construímos um amor gigante, único, especial. Uma amizade que, aliás, é o melhor tipo de amor que eu conheço. Sem medo de ser piegas, e sendo deveras. São mais duas irmãs que a vida me deu de presente junto com a literatura, embrulhadas no mais brilhante pacote do mundo.
Agora, a que estava sempre atrasada está de malas prontas para partir. Vai voar em busca da mulher que ela (já) é, para viver a vida que ela merece ter. Duas de nós vão ficar. Torcendo muito.
Todo mundo vai chorar, despedida é uma merda. Meu coração está apertado de tanta saudade antecipada. Mas ninguém vai dizer adeus, nem poderia. Não se pode partir de um pedaço da gente. Vamos juntas, e ficamos juntas, tá? Para sempre.
Ela demorou demais para chegar, mesmo, mas chegou forte, arrasando no salto, e se veio, foi porque era para ficar.
E essa história só vai mudar de cenário, não vai acabar.
À bientôt ...
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