quarta-feira, 19 de março de 2014

O Oposto do Amor é o Medo

Toda vez que a gente acredita muito em uma coisa, a gente faz de tudo para ela acontecer do jeito que a gente acredita. Isso pode ser uma coisa muito boa, ou muito ruim, depende. Porque nem tudo o que a gente acredita é bom.
Hoje eu vou escrever para uma menina que eu conheci há muitos anos. Ela era uma menina doce e meiga, mas muito, muito, muito tímida. Por algum motivo, que eu não já consigo lembrar, ela tinha muita vergonha de ser quem ela era. Ficava vermelha à toa, e em qualquer lugar. Se achava feia e sem graça. Usava óculos de lentes grossas, era chamada de quatro olhos e coisas assim. (Naquela época o bullying nem existia).Tinha sempre a impressão de não pertencer, de não se encaixar, como se fosse uma peça imperfeita, sobrando de algum jogo, de outro jeito perfeito.
A menina aprendeu a ler muito cedo, e, muito cedo se refugiou nos livros que lia. Com eles, ela pode viajar sem sair do lugar. Leu sobre aventura, amor, amizade, leu sobre Jesus, e os santos, e os anjos. Aprendeu a pensar, a rezar, e a sonhar. Mas continuava a não se encaixar. Ela acreditava que seria freira, ou santa, como a Rita, a das chagas, cuja história adorava. Era como se o mundo lá fora não fosse para ela, ou ela para ele. Passou muitos anos assim, escondendo-se. Alimentando-se de romances alheios. Leu romances demais, a bem da verdade. Tinha o coraçãozinho cheio de amor, a cabeça cheia de ideias. Mas não sabia experimentar realidades.
Quando enfim, desistiu de ser santa, teve que começar a viver. Uma hora chega a hora. Mas acho que já era um pouco tarde para ela. Passou a vida tentando acertar. Não sabia dizer não, não ousava desagradar. Seguiu à risca a cartilha da boa moça, com algumas poucas e belas escorregadas.( Porque foi adolescente, também, apesar.) Até isso. Tudo para se encaixar, para fazer parte, para não destoar. Afinal, para ser boa é preciso sempre concordar. E colocar sempre o outro, em primeiro lugar. Tantos disfarces ela criou, tantas escolhas mal feitas, se perdeu mais ainda.
Se ela ao menos soubesse se amar. Mas não sabia. A menina envergonhada nunca se achou merecedora de amor. Nem do próprio, nem do de mais ninguém. Foi nisso que ela acreditou. E por acreditar, foi isso que ela tentou provar. Com sucesso, aliás.
Tinha tanto amor esta menina, e não sabia amar.
Outro dia ouvi uma música do Cazuza, que me fez lembrar dela, e das histórias dela. " Se todo alguém que ama, ama para ser correspondido...Se todo alguém que amo é como amar a lua inacessível, é que eu não amo ninguém... E é só amor que eu respiro..."
Engraçado como uma coisa inocente como uma música antiga pode despertar tamanha emoção. Como pode despertar, simplesmente.
Quando finalmente acordei, eu chorei. Por ela, com ela. Choramos abraçadas.
Hoje escrevo para esta menina, que ainda vive dentro de mim. Que já percorreu um longo caminho, com tanta terapia, com tanta experiência, um outro tanto de consciência. Mas que continua, ainda, de alguma forma, presa a esta crença. Reafirmando esta crença em cada relacionamento, e em cada história de sua vida.
Escrevo para libertar a menina, a criança interior, desta prisão auto imposta, da impostura de uma existência que ela não quer, não sabe e não precisa viver.
Escrevo para dizer que não adianta se esconder, que alguém vai  acabar achando, e não há nada a temer. Que o risco maior ainda é não arriscar.
Escrevo para falar que ela pode ser diferente, porque ela já é diferente, nunca vai se moldar. Todo mundo é diferente, e a perfeição, fala sério, é uma chatice. Ninguém é melhor do que ninguém, nem pior. Ninguém santo, também.
Escrevo para lembrar que nem o Jesus, de quem ela tanto gosta, nem Ele agradou todo mundo. Melhor, às vezes, poder ser bem mal criado. Melhor um não bem dado do que um sim contrariado.
Escrevo para perdoar os seus muitos erros bem intencionados, sua falta de fé, suas ilusões inventadas. Sua presunção e sua arrogância mal disfarçadas.
Escrevo para falar que a resposta não está nos livros, nunca esteve. Nem no mundo de fora, tampouco. Está dentro dela, e só a ela pertence.
Escrevo para dizer que todo amor é aprendizado. Todo. Que nunca, nada é desperdiçado. Nem quando mal distribuído, jamais é mal dado. Certo, ou errado.
Menina, escrevo para gritar que o amor existe, sim. Existem mil formas de amar, mil e uma, mas um único amor. E ele nasce e morre na gente. Sempre.
Para completar, escrevo para me indignar: vergonha de quê, de ser você?
Ora, já bem dizia a minha mãe," vergonha é roubar e não poder carregar. E só!"
Não, não e não. Ainda está em tempo de aprender. Não é tarde demais, para desacreditar. Nunca é.

Dani Altmayer

5 comentários:

  1. Olhos cheios de lágrima desse lado da tela

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  2. Show! Sentimento à flor da pele. O nome disso é coragem.

    Frank

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  3. Escuta, menina! Esta letra é de música linda...tem sabedoria!
    Give love and you will receive love.
    Yes, you've got to give love and you'll receive love.
    Mm, mm, give love and you will receive love.
    Yes, you've got to give love and you'll receive love.

    I once knew a girl who was looking for love,
    Looking for someone by whom she could be loved.
    After years of searching, she was all alone.
    Her love she hadn't found because she hadn't learned that if you'll...

    Chorus two:
    Give love then you will receive love.
    Yes, you've got to give love and you'll receive love.
    Mm,mm, give love and you will receive love.
    Yes, you've got to give love and you'll receive love.

    So I said to her, My friend, listen to me.
    Why don't you look for someone whom you can make happy?
    Real happiness is only received by sharing real love and giving cheerfully.
    You've got to...

    [Repeat Chorus two]


    Now after awhile I met my friend again.
    Her face was filled with joy, she had happiness within.
    The desire of her heart had been fulfilled,
    For she had learned to love, yes, she had learned to give, so if you...

    Give love...

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