domingo, 31 de março de 2013

Preto e branco

Trabalhar bastante faz apreciar o descanso. Descanso demais, empobrece. Faz valorizar o trabalho.
Chuva em excesso é enchente. Transborda. Faz rezar por sol. Sol em demasia, resseca. É seca. Faz pedir por água.
Viajar demais faz querer voltar para casa. Para o lar. O lar, em demasia, entedia. Faz querer viajar.
Gritar demais faz com que a gente precise calar, depressa. Para não ficar rouco. Ou louco.
Barulho incessante faz cobiçar o silêncio. O silêncio constante desperta o grito. De novo.
A guerra faz querer a paz. Atormenta. A paz, só se reconhece depois. Da tormenta. Paz é ausência de guerra. Ou é mais.
A doença faz ansiar por saúde. A saúde, só se reconhece depois. Da doença. E saúde, certo que é mais. Muito mais do que uma simples ausência.
Ficar mal faz perseguir o bem. E o bem, como se reconhece?
A falta faz desejar a presença. A presença, tantas vezes, deseja-se ausente. Da carência, surge a fome.
A fome esvazia. Desperta apetites. Exige que se sacie. A saciedade precisa de digestão. A digestão devolve o vazio. Da fome.
A sombra precisa da luz, para existir. A luz precisa da sombra, para não ofuscar. A luz, sem sombra, cega. A sombra, sem luz, é cega.
Há de anoitecer, a qualquer hora. E a noite vai durar uma noite, não mais. O tempo de um sonho.
Há de amanhecer, a qualquer momento. Raiar o dia. E o dia vai durar o tempo de uma saudade. Ou mais.
É preciso ter sono, para poder dormir. É preciso dormir, para conseguir acordar.
É preciso perder para dar valor. É preciso ter, para poder perder.
É preciso um sim, porque o não já se tem. É preciso o não, quando o sim corromper.
É preciso estar pela metade, para se querer inteiro. É preciso antes ser inteiro, para se saber metade.
É preciso viver, para aprender. Às vezes leva tempo, para entender.
Para ver que dois lados da mesma moeda, são só isso. Os dois lados de uma mesma moeda.
Um são dois, e os dois, apenas um. Sem contradição.
Assim como você e eu. Ou como eu. Com você.
Nós, dois. Ao mesmo tempo, tudo. E, ao mesmo tempo, nada.

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