terça-feira, 5 de março de 2013

Todo mundo tem

Geralmente ela tem nome, sobrenome e endereço certo.Mas, às vezes, ela vem de onde menos se espera, e vem por uma razão boba. Às vezes ela vem de lugar nenhum, e não tem nenhuma razão. Chega dissimulada, entra devagarinho, sem fazer alarde, sem fazer alarme. Vai se instalando em um cantinho qualquer dentro do coração. Depois de acomodada, mais à vontade, começa a incomodar.Dá uma beliscada aqui, outra ali. Se fica furiosa, torce mesmo, vira o coração do avesso, sem pena. Vez em quando, mais sutil, alfineta, é só uma pontada no peito. Em outras vezes, fica grande, se esparrama, ocupa todos os espaços. Não cabe mais. Sobe pela garganta, formando bolhas, que formam  nós. Transborda pelos olhos. Se liquefaz.
Tristeza. Todo mundo conhece. Todo mundo tem uma. Ou várias. Pequenas, ou grandes. Provisórias, em grande parte. Permanentes, muito poucas. Só algumas. Aquelas que, por alguma razão, deixamos que fiquem,  e ainda oferecemos casa, comida e lágrimas proporcionais. Elas moram ali, e, de tão especiais, são só nossas. São quase um segredo. Não dividimos com ninguém.  Só transbordam escondidas. Sâo as tristezas que choram no chuveiro. Todo mundo tem uma.
Mas outras, as momentâneas, são maioria. As tristezas passageiras, de todas as formas.
Tem tristeza que é óbvia, exibida. Tem tristeza dissimulada, indefinida. Tem tristeza vaga, distraída. Mas quase já não se tem vaga para a tristeza, hoje em dia.Que triste!
Por isso existe tanta tristeza culpada. Tristeza é inquilina indesejada, é "persona não grata." Tristeza é hoje, o que dizer palavrão era antigamente: é feio. Por isso a gente desconversa, maquia, cria alegoria. Enfeita. Disfarça.
Tem coisa mais triste do que tristeza disfarçada de alegria?
Antes uma boa tristeza, uma tristeza sincera, do que uma falsa felicidade. Eu acho. Gosto de coisa de verdade,  de olho que brilha. Olho é reflexo da alma, tem que brilhar mesmo, ainda que seja por lágrimas.
Tristeza pode não ser bonita, mas pode ser honesta. Honesta, há de ser temporária.
Não deve ser muito mimada, mas também não pode ser ignorada. Tristeza ignorada fica para sempre. Guardada. Vira mágoa, tumor ou dor. Vira doença do humor. Falta de amor. Tristeza tem que ser respeitada. Sempre. Um minuto de silêncio, por favor.
Desde pequena, quando sinto tristeza forte, destas que fazem doer o peito, eu sinto também uma dor na mão. Dói meu coração e dói a palma da minha mão. Sempre a da mão direita. Eu nunca soube explicar. Não entendia, achava esquisito. Hoje eu sei. Dói a mão, e eu escrevo. Escrevo para dar nome, sobrenome e endereço. Escrevo para desapertar. Para não me afogar. Para parar de doer.
Escrever é o meu jeito de chorar.

Dani Altmayer

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