sábado, 23 de março de 2013

Álbum de Retrato



Por toda minha vida tive pânico de despedidas. Pavor mesmo. 
Toda vida foi difícil dizer adeus. Desapegar. Deixar ir.
Acreditava no para sempre, duvidava do nunca mais.
Até que um dia entendi. Para sempre não existe. Sempre é nunca mais.
Nunca mais vou ter 15 anos e dançar uma valsa.Nunca mais vou ter dezesseis, e cantar Kid Abelha pelas ruas do Cassino no inverno. Nunca mais vou me apaixonar pela primeira vez. Nunca mais vou passar no vestibular para medicina. Nunca mais vou receber meu diploma de médica das mãos do meu pai. Nunca mais.
Nunca mais vou vibrar com meu filho dando seus primeiros passos. Nunca mais vou chorar na sua formatura do Jardim de Infância. Nunca mais vou segurar a mão do meu filho pequeno no cinema.
Nunca mais vou segurar a mão dele em público. Nunca mais.
Nossos momentos de maior alegria são também os de maior dor. Porque a gente sabe que nunca mais.
Por isso a gente tenta parar o tempo. Deseja capturar o instante perfeito, torná-lo eterno. Como naquela fotografia, em Paris, a da torre Eiffel. Aquela, que parece que a gente está segurando a torre, sabe?  Ou aquela outra, de braços abertos sob a Guanabara, aos pés do Cristo. Ou, vá lá, aquela na frente do espelho, em casa mesmo.
Por isso a gente fotografa tanto. Registra tudo, na esperança de sequestrar momentos. Transformar emoção em porta retrato. Inútil. Não dá para congelar sentimento. Parar no tempo.O tempo não para, já dizia o Cazuza, no meu tempo.
Cada instante é despedida. Não volta mais. Nunca mais. Nem este agora. Agora já é quase nunca mais.
Pronto. Já é. Nunca mais. Já foi. Nem parecia importante. Não fotografou. Virou depois.
Pequenas mortes, momentâneas. 
Pequenas despedidas, instantâneas.
Impermanências. Roupa nova. Nova chance. Todo dia, toda hora, todo segundo. A gente morre um pouco, só para nascer de novo, logo em seguida. Ciclos. Se viver é despedida, também é estréia. É sempre começo, e nunca mais. Princípio e fim.
Eu, que tinha medo de despedida, entendi que o que eu tinha, era medo da vida. Medo do círculo. Preguica de girar.
Tudo muda, o tempo todo.
A roda é viva.
O que permanece igual já está morto
Para sempre, só no álbum de retratos. Na fotografia sem alma. 
Para sempre, só por um instante. E nunca mais.

  Dani Altmayer



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