sexta-feira, 15 de março de 2013

Paradoxo

Pedalar por Porto Alegre não é uma tarefa muito fácil. Tem muita ladeira. Muita lomba.
Pedalar por Porto Alegre é uma delícia. Tem  muita ladeira. Muita lomba.
Na descida da minha rua tem uma, enorme. Na subida da minha rua, também. Enorme.
Quando saio de bicicleta, é uma alegria. Uma loucura. Quando volto com a bicicleta, é uma tortura.
Na descida, o vento faz meus olhos se encherem de água. Na descida não peso nada. Não penso nada.
Na descida, só vou. Só vôo.
Na subida,  quase choro, mesmo sem nenhum vento. Na subida, eu peso o dobro. Eu penso tudo. Eu peso tudo. E penso, merda.
Na descida, eu aprecio. Na subida, amaldiçôo. Na descida, só tenho alma. Na subida, sou só um corpo. Que pesa, muito.
Na orla do Guaíba tem sempre vento. E vento contra. Pedalo forte. Na orla do Guaíba, tem sempre vento.  Vento a favor.  Pedalo fácil.
Tem vento contrário, e vento necessário. Para vir a favor, primeiro tem que ir contra. Aprendi bem cedo, lá na terra do vento. De onde vim. Vai contra, volta a favor. Se der. Se não, vai a favor, e volta contra. Fazer o que, se tiver que ser?
Tem morro acima, e morro abaixo. Para descer, tem que subir. Se subir, uma hora tem que descer. Ou não. Também pode escolher. Ficar. E não se mexer.
Eu escolho movimento. Sempre. A qualquer momento.
Na subida, fortaleço minhas pernas e meu coração. Contra o vento, sou desafio. Superação.
Na descida, fortaleço meu não ser. A favor, leve como algodão. Sou desvario. Sou só prazer.
Este é o movimento de uma vida. Da minha vida. Da nossa.
No equilíbrio delicado de existir.
Não se pode ter. Um. Se não tiver . O outro.







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