terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

Porta de saída

A gente tinha um pacto e você quebrou. Este parece ser o problema dos pactos. Foram feitos para serem quebrados. Ou talvez o problema seja você e eu.
O nosso era um pacto silencioso. Estes são os mais difíceis de serem mantidos. Não houve registro em cartório, não foi um pacto de sangue, nem uma palavra sequer foi pronunciada. Estava só implícito. Fora escrito ao longo do tempo, nas entrelinhas, nas atitudes, nas consequências. Tem vezes que a vida afunila de tal forma que só um caminho é possível. Desaparecem todos os atalhos, todas as concessões. Nenhuma rota de fuga é alternativa. Porque não há alternativa. Só existe uma via, a saída só tem uma porta, e você tem que abri-la, se quiser se salvar.
Eu tinha vindo até aqui. Fora uma longa distância, e eu a percorri com determinação. Insisti. Entrei em todas as esquinas, e ruas sem saída, e me perdi, mais de mil vezes, nos labirintos complicados desta história. Até que finalmente encontrei a saída, e ela não era mais opção. Não era mais escolha. Não podia mais continuar. Tem brincadeiras que custam muito. Brincando de esconde esconde, eu me escondi de mim mesma. E demorei para me achar, perdida no sem número de esconderijos que você me mostrou.
Mas de repente, não havia mais labirinto, não havia mais confusão, havia apenas uma seta, no fim daquela estrada reta, atrás daquele portão estreito. Era só seguir em frente, sempre em frente. Nada de olhar para trás e se transformar em sal, nada de mudar o rumo, não mais. Nada mais de brincadeira de pega pega. Eu tinha crescido demais para isso. Sempre fui meio grande para você. Desproporcional. Não cabia mais ali, e você sabia disso. Você quis que eu me fosse. Abri aquela porta chorando, e você não me impediu. Nem por um instante. Eu parti porque você deixou. Você até empurrou o portão. Só esqueceu que não havia volta, a porta era só de saída. Tem porta que, uma vez fechada, não se abre mais. Nosso pacto era nunca mais. Mesmo não escrito, não dito, era implícito. Era claro. E você quebrou. Eu deveria saber, você sempre quebra tudo. Você tentou. Só que, desta vez, eu já estava bem longe. Você perdeu este tempo. E eu? Eu perdi esta chave

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