quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

Faço minhas as tuas palavras


E se tudo que escrevo não passar de cópia,
de tudo que li?
Não faz mal,
é soma de tudo.
De tudo que vi,
ouvi,
Vivi.
Ou
simplesmente pressenti.
Hei de mudar uma vírgula,
uma palavra,
um ponto final.
Me apropriando, assim,
Do que se apropria de mim.

Acabei de escrever este poema, não copiei ou colei de algum lugar. Ele apareceu na minha cabeça assim, vindo de lugar nenhum, sem tirar nem por. Então, ele é meu. Mas não necessariamente. Dizem que tudo o que existe já foi pensado um dia. Uma vez, quando meu filho era bem pequeno, escrevi e desenhei uma história para ele sobre um jacaré que não escovava os dentes, e um pássaro dentista. Poucos anos depois, descobri que a história, quase igual, já existia, em um livro que ele pegou na escolinha. Não lembro o nome da autora, nem lembro de ter lido o livro alguma vez antes daquela. Mas com certeza, de alguma forma, eu tinha entrado em contato com aquela história.Às vezes gosto de pensar nas idéias e pensamentos como se fossem bolhas de sabão, ou nuvens que nos cercam. Que estão flutuando, à espera de um olhar mais atento.De vez em quando, nos momentos mais inesperados, elas aparecem na minha tela da mente, como um presente. Nestas horas me sinto uma pescadora de idéias. Modificando a lei de Lavoisier, dizem que na natureza nada se cria, tudo se copia. Nada se perde, com certeza.Eu, quando gosto, copio e colo mesmo. Coloco aspas e o nome do autor, sempre que conhecido. Mas, de tanto copiar e colar mentalmente, de tanto pescar palavras, um dia tudo se embaralha e se reorganiza. E brotam, literalmente, frases, histórias, poemas. E eu escrevo. Ou transcrevo, sei lá. Torno meu por um instante apenas. Sabendo que, daquele momento em diante, já não mais me pertence. Está na nuvem, à espera de outro pescador.

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