quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

Cesta básica

Meu cachorro precisa de um xampú especial. Ele tem alergia, dermatites, pele sensível, ou seja lá o que for. Aí compro o tal xampú, que custa umas cinco vezes mais que o meu próprio. Nem falo o preço porque tenho vergonha. Mas compro todo mês, ou quase.Sempre que precisa. E reclamo, resmungo, acho um absurdo. Porque nem funciona tão bem assim, mas vá lá. Ordens médicas.
Hoje foi dia de comprar xampú. E dia de reclamar, o preço subiu absurdamente.
Aliás, os preços todos tem subido escandalosamente. O supermercado, então, nem se fala. Como dizia  um amigo, o custo de vida está pela hora da morte. Pensando nisso, fiquei analisando meus hábitos de consumo. Porque eu só sei que tudo aumentou pela notinha final do supermercado, que, não importa o tamanho da tripinha,  a cada sábado (dia de ir no super) que passa, vem com um valor mais alto. Eu não costumo olhar o preço de nenhum item no supermercado, com duas exceções: a carne, e o papel toalha. Vou passando pelos corredores, pegando todos os produtos, velhos conhecidos de anos de consumo, sem nem olhar o valor na prateleira. Sempre mais ou menos as mesmas coisas, às vezes alguma novidade em que boto o olho por puro acaso, e nem assim consulto o preço. Levo no impulso, para experimentar. É raro, mas acontece. Em geral, é sempre o mesmo sabão em pó que remove as manchas mais difíceis, o mesmo sabonete que, além de limpar, hidrata, o papel higiênico mais macio, e assim por diante. Vou pegando, colocando no carrinho, piloto automático ligado. Esta sou eu em um supermercado, rápida, eficiente (?), desprovida de pensamentos, praticamente em meditação. Só que não (detesto esta expressão, mas se encaixa bem neste caso). Quase todo tempo estou em transe, mas, como falei, existem duas exceções. Dois produtos, os quais eu sei o preço. Um é a carne. Que me assombra a cada vez. Talvez por eu não gostar , e não comer, mas acho incrível como um pacotinho de carne moída pode custar dez reais! Do filé, então, nem se fala, um verdadeiro roubo. O outro produto é o papel toalha. Que, por algum motivo obscuro, o qual escapa totalmente à minha compreensão, é onde eu faço economia. Explico: o piloto automático sempre desliga na sessão do papel toalha, e olho um por um, comparando os preços. Olho todos. Sempre compro o mais barato. Todas as vezes. Economizo vinte, ou trinta centavos, no papel toalha. Que pode não ser o mais absorvente, mas é o mais barato,  com certeza.
Dá para explicar? Quem consegue explicar o que passa na cabeça de um consumidor? Por que alguém gastaria  uma pequena fortuna em um xampú de cachorro,  para depois economizar no papel toalha? Admiro os publicitários, que tem uma árdua tarefa para convencer pessoas alienadas como eu, fiéis e desatualizadas, a prestarem atenção no que estão fazendo. A deixarem velhos hábitos, e velhas marcas para trás, a se tornarem mais ousadas e corajosas. Admiro as pessoas que sabem o preço de cada produto, e não deixam para ter um ataque de nervos só na hora do caixa, quando aquela tripinha cada vez menor apresenta um valor cada vez maior. Melhor seria ir se irritando aos poucos, porque tudo que vem aos poucos nos dá tempo. Dá tempo de evitar o choque. De acostumar.  Daria até para chegar no caixa com um sorriso bobo (ainda que falso) de quem sabe das coisas. De quem é responsável pelos seus atos. De quem sabe o quanto vale cada pequeno item daquela lista. Tá certo que estragaria o elemento surpresa, mas quem se importa? Só a satisfação de chegar ao fim do supermercado com a certeza do dever cumprido, com a certeza de haver economizado, com a certeza de poder pagar tudinho, já valeria. Tenho pensado nisso. Bom seria, também, começar a pensar em um xampú melhor para mim. E num mais barato para o cachorro. Mais do que na hora de rever conceitos. Afinal, economia sustentável se faz com consumo consciente. E meu cabelo bem que anda precisando.

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