sexta-feira, 1 de junho de 2012

Cargas desnecessárias

Lembrei de uma pequena história zen, que é mais ou menos assim: dois monges vinham retornando ao mosteiro, após uma viagem. Quando chegaram à margem de um rio, viram uma bela jovem, que não conseguia vencer as águas , com dificuldades para atravessar. O mais jovem ignorou a presença da moça e atravessou rapidamente. Ao olhar para trás, viu que o mais velho estava carregando a mulher nas costas. Ao chegar do outro lado, a jovem agradeceu e se foi. Os dois seguiram seu caminho, num silêncio constrangido. Nada foi dito no dia e noite que se seguiram ao fato. Quando já estavam às portas do mosteiro, o mais novo perguntou ao mais velho: por que você fez aquilo? Não sabe que é proibido? Não podemos tocar em uma mulher! Ao que o monge mais velho respondeu:"eu a deixei às margens daquele rio, ontem. Mas você , você ainda a está carregando."



Lembrei dessa historinha porque estava pensando nas cargas desnecessárias que carregamos. Por exemplo,  há pouco tempo, estive em Floripa. Foram dois dias apenas,  mas levei uma mala que daria folgado para uns 15 dias ou mais. Não usei um terço das roupas, e ainda tive um trabalhão na volta, para arrumar tudo.  E é sempre assim quando viajo. Não sei ser básica. Outro exemplo,  minha bolsa. É enorme, um sacolão sem fundo. Óbvio que está cheia de coisas, papeizinhos, comprovantes, embalagens vazias, bobagenzinhas inúteis. Cargas desnecessárias. Lixo mesmo. Que carrego todo dia, sem ter consciência, aumentando o peso sobre meus ombros gradualmente, até chegar no ponto em que a faxina é obrigatória. Aí me espanto com a quantidade de porcaria que venho trazendo comigo. É sempre assim.
E assim é, muitas vezes, na nossa vida. Vamos andando inconscientes da carga que estamos levando. Do peso que dia a dia vamos acrescentando, e incorporando, sem ao menos perceber. Quanto pensamento tóxico, quanta fixação no passado, quanto preconceito. Quanto de coisa que já era, não serve mais, mas continuamos levando como se ainda fizesse parte. Vamos acumulando, como aqueles colecionadores malucos que aparecem na TV. Acumulamos porque podemos precisar, porque temos medo de não  mais precisar, medo de mudar, e também porque nos acostumamos a acumular. Acumulamos principalmente por inconsciência. E vamos ficando soterrados por toda esta tralha. Sobrecarregados. Muito pesados. Necessitados de uma faxina também.  Interna. E de uma mala menor. Mais prática.
Por que será que é tão difícil viajar leve? Deve ser porque não conseguimos deixar na margem . Falta coragem para partir sem olhar para trás, e sem levar consigo o que já não é mais necessário.

Dani Altmayer

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