domingo, 5 de janeiro de 2014

Trilha(s)

Parece fácil andar pela vida distraído, como quando se tem certeza de que a estrada está bem asfaltada, e o caminho, sinalizado. Quando se acredita que tudo tem um ponto de início e um ponto final, e que basta seguir as instruções, e tudo dará certo.
Só que não é bem assim. Imprevistos acontecem, quando menos se espera. Pode furar um pneu. Vir um carro na contra mão. Aparecer, de repente, uma bifurcação, sem sinalização. Ou uma vaca, no meio do nada. Pode ser necessário fazer o desvio. Agir com rapidez. Frear, bruscamente. Pode até acontecer um acidente. Porque é assim. Imprevisível. A vida não vem com instrução, não dá para marcar bobeira. Não tem lugar para distração.
Uma vez, falei, brincando, que era mais seguro fazer uma trilha em Itacaré do que andar nas calçadas esburacadas de Porto Alegre, onde é muito maior o risco de torcer o pé. E por quê? 
Pela falta de atenção. Apenas isso. Onde a gente se sente seguro, não cuida, nem toma cuidado. Fica acomodado.
Em uma trilha, estamos atentos a cada passo dado, a cada obstáculo a ser superado, a cada ponto de apoio. Um pé na frente do outro, um de cada vez. Cada avanço, uma conquista. Em uma trilha estamos  equipados, alertas. À beira do penhasco, na ponte sobre o abismo, no riacho que atravessa o mato. Ali somos cautelosos, estamos conscientes.
Não se trata de medo, e sim de prudência. Sobrevivência.
Não dá para esquecer, e é para tudo. Em todo lado. Viver é arriscado. Uma aventura.
O mundo não é um lugar pavimentado, todo bem iluminado e designado. Não é um lugar protegido e projetado. 
A vida surpreende, a todo instante. Te dá uma rasteira, te apresenta o buraco, o chão. Nos convida, e,  por vezes mesmo obriga, a traçar novos rumos, a fazer desvios. Criar novos começos, encarar desafios, refazer o final. Por bem, ou por mal. E temos que estar preparados. Presentes.
Desatentos, ela  pode nos quebrar uma perna, ou coisa bem pior. Pode nos partir o coração.
Prevenidos e atentos, sempre poderemos mudar. Encontrar uma fonte, uma cachoeira, uma estrada menos traiçoeira, um outro lugar. De olhos abertos, saberemos andar.
Escolher, a cada momento, o melhor caminho a trilhar.

Cachoeira do Engenho - no meio de uma trilha em Itacaré
Foto de Dani 


Dani Altmayer



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