quinta-feira, 2 de janeiro de 2014

Ela, que Amava Bolhas

Parou por um momento, para poder respirar. Estava um pouco sem ar.  Foi então que viu.
Na porta, duas meninas, uma de cada lado, brincavam de fazer bolhas de sabão, muitas delas. Centenas de bolhinhas, coloridas pelo sol da tarde, de calor escaldante, na porta que iria atravessar. 
De todas as brincadeiras de sua infância, muitas já esquecidas pelo tempo, esta era a que mais a encantava. Anos mais tarde, ao brincar com seu filho, divertia-se a soprar e observar os tamanhos, formas e cores que tomavam, os vôos, as quedas, os trajetos. Algumas bolhas até se demoravam, outras logo estouravam. Entre enormes, ou delicadas, umas subiam aos céus, outras simplesmente pousavam no asfalto. Nunca duravam muito tempo, apenas o suficiente para refletir. Formavam, explosões que são, pequenos arco íris e delicados prismas naquele vão. 
Poderia ficar horas perdida a observar o vai e vém, de luz e de cor. Engraçado como pode ser tão bonito algo tão singelo. É que as coisas mais bonitas são sempre as mais simples. E também as mais fugazes. 
As bolhas, elas fazem sua coreografia no ar. A sua dança, em silêncio. Sua música é o vento, maestro imprevisível, efêmero. Ali, o vazio está cheio. E o instante, repleto, é tudo o que há.
Água e sabão. 
Suspirou. Não queria demorar, tinha urgência e sede. Passou pela porta como quem atravessa um portal, e sorriu. Algo mágico estava para acontecer, ela sabia. Aquilo só poderia ser um sinal.
Acertou. Assim foi, naquela tarde quente de verão.
A melhor bolha foi a que veio depois. A que não estourou.


Dani Altmayer

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