terça-feira, 7 de janeiro de 2014

O Dion

O nome dele era Dion. Dion Leno. Estava no documento, eu vi.
Também estava tatuado no antebraço direito dele. Eu sempre me pergunto por que as pessoas tatuam os próprios nomes no corpo. O nome do pai, da mãe, de um filho, vá lá. Da namorada ou namorado, bom, pergunta para a Debora Secco, se é uma boa ideia, ou não. Abstenho-me de dar opinião. Agora, o próprio nome, fico filosofando que deve ser para não se perder de si mesmo. Só pode ser.
Pergunto ao Dion, para matar minha curiosidade. "Você tem medo de esquecer que é você?"
- Não, doutora, que isso... é que eu acho bonito.
Ok, é só isso. Tão simples.
Tem vinte anos, moreno e  magro, um sorriso escrachado. Está de bermudas, chinelo e camiseta de grife.
Pergunto a ele o que faz da vida. Ele me conta que é "rastilheiro".
Escrevo no prontuário, depois vou pesquisar. No Google.
Não acho, a palavra certa é rasteleiro. Significa pedreiro de asfalto, aquele que faz o acabamento manual , com ferramenta, na aplicação do mesmo.
Vivendo e aprendendo.
Hoje fez quase 40 graus em Porto Alegre, na sombra. Um calor dos infernos. Nem tive coragem de ir na academia (climatizada).
Penso no Dion, sob o sol escaldante, sobre o asfalto quente, em alguma rua desta cidade, talvez na estrada. Não sei se trabalha sorrindo, cantando, ou resmunga. Com certeza deve suar um bocado. Desejo que tenha usado bastante filtro solar, e que tenha tomado litros de água.
Devaneio que ele poderia ser jogador de futebol, com este nome. Que poderia se tornar famoso e rico, que este é o jeito mais fácil, por estas bandas de cá. Ou quem sabe, poderia até ser um músico de sucesso, como o seu quase homônimo, das bandas de lá.
Não é. Trabalha na rua, ganhando um salário mínimo, não imagino em quais condições. Literalmente, de sol a sol.
Completamente anônimo, não fosse o nome tatuado no antebraço.
O que talvez não tenha sido, então, uma má ideia, afinal.

Dani Altmayer


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