sábado, 2 de novembro de 2013

O Som de Cada Um

Toda dor é solidão.
Lembro quando a minha mãe faleceu, há seis anos. Umas duas semanas depois, eu estava em uma daquelas festas de final de ano de empresa, fazendo um esforço extra humano para me distrair. Em uma conversa com colegas, uma falou: "nossa, como você está bem, né? Nem parece que acabou de acontecer".
Sério?
Alguém se foi. Algo se perdeu. Ele adoeceu, ou morreu. Ela te deixou.Você se separou. Sua vida partiu, desmoronou.
E ninguém diz.
Você sai na rua, e tudo está tão igual. As pessoas riem, e brigam, e andam. E falam, o tempo todo.
Tem gente esperando o ônibus, pegando táxi. Mais adiante um casal se beija. O chip do celular é anunciado, aos gritos. Conversas entreouvidas, entrecortadas, uma música alta na loja de roupas. Faz barulho, lá fora. Os sons atravessam seus ouvidos sem fazer sentido. Estilhaços.
É verão, o sol brilha forte, e ofusca seus olhos, escondidos em óculos escuros, enormes. Olhos que ardem, de lágrimas residentes, pendentes.
Da vida que segue, ela também pendente, sem saber para onde.
Você vai ao supermercado, faz compras, corta o cabelo. Toma banho, se perfuma. Come, e dorme. Acorda. Trabalha. Até fala. Sorri. Vai a festas, enfim.
E ninguém diz.
Você quer parar o mundo, mas o mundo não para. Logo mais é Natal.
Você quer o mundo em silêncio, para fazer par com o abismo que está dentro de você. Mas o mundo não cala.
Você está tonto, e o mundo gira. Você segura firme, mas ele roda, rodopia.
Dá voltas, te exige. Em círculos, sempre os ciclos. O circo continua.
Está faltando uma metade, um pedaço, uma perna, um abraço. Abraço também é pedaço.
Mas ninguém vê. Ninguém diz, assim, só de olhar para você.
Não podem saber, não ao certo.
É que ninguém sabe da dor que não a sua.
E ela tem um ritmo só dela. Só seu. Bate de um jeito, dentro de cada peito. 
Toda dor é silenciosa e íntima. Mesmo quando gritada, é profunda.
Uma dor é sempre secreta, ainda que compartilhada.
E não menos real, por não ser dividida. Por estar escondida.
A dor cala somente a alma de quem a sente. Cala só.
Toda dor é única, pessoal e intransferível. Impressão digital.


Dani Altmayer



Um comentário: