sábado, 19 de outubro de 2013

Sem piedade


Na avenida, carros andam mais lentos do que prédios.
Edifícios crescem, velozes, feito truque de cinema.
Brotam do chão, antes plantas.
Gigantes espelhados, de concreto armado.
Onde era vazio, ou casa, ou apenas nada. 
Surgem de lugar algum. Pré moldados.
Vingam da pedra, intrépidos, ligeiros.
Empilham-se, andares e vidas.
Compartimentam-se flores, e dores, em imensas sacadas.
Fechadas.
Perdem-se de vista, na vista de outras janelas.
Suspendem-se jardins, e alegrias.
Progridem acima, ao alto, avante.
Competem com coqueiros, em altura, e passarinhos.
Arrasam com canteiros, e sonhos, e amores quase perfeitos.
Entalam risos e canções, e cadeiras na calçada.
Engaiolam-se, em torres, vizinhos de elevador.
Acomodam-se, inquietos, sujeitos.
Enjaulam suas solidões sem sol.
Na modernidade de vidro e de lata,
Faz frio, faz calor.
O asfalto arranha a garganta.
E a cidade, arranha o céu.

Dani Altmayer

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