domingo, 13 de outubro de 2013

A Nossa Música Nunca Mais Tocou


 Outro dia eu li uma frase: "a verdade só dói em quem está vivendo uma mentira."Fiquei pensando nisso. Se a mentira é uma doença, a verdade é que nem injeção. Dói muito na hora, depois fica ardendo um pouquinho. Então passa, e você fica curado. Livre.
 Hoje eu fui ao cinema, sozinha. Lá, onde a gente se encontrou da primeira vez, porque você sabe, eu não gosto de shoppings. Quando o filme acabou, o tempo estava lindo, e tomei um choque de realidade. Sair da escuridão de uma história fantástica para a claridade do dia me assustou. Fiquei meio tonta, e decidi ficar um pouco, para me ambientar. Não foi de propósito, mas sentei na mesma mesa em que sentamos. Tomei a mesma água. Fiquei observando as pessoas, o lugar, tomando notas no meu caderninho, sobre o filme que acabara de ver. Queria comentar com você. Eu ainda quero comentar tudo com você, força do hábito. Fotografei com meus olhos a lembrança dos teus. Tudo ali é a tua cara. Precisei ir embora.
 Peguei um táxi para voltar, ele pediu a direção. Disse a ele que fizesse o mesmo trajeto daquela vez. Queria fazer o caminho de volta. Não tocou a mesma música, nem poderia. A música era secreta, como a gente. O rádio estava ligado, e tocava Caetano. "Todo dia ela faz tudo sempre igual... " Não teve este tempo para nós.
 Cheguei em casa, e ninguém me beijou. Não era noite, mas dia. Chorei um pouquinho. Não me importei, chorar me faz bem. Não foi choro de dor, nem alegria. Foi de ardência. Uma lágrima cai sempre que uma ilusão é perdida.
No entanto, hoje você esteve comigo, como se fosse real. Foi minha companhia. Talvez pela última vez. Talvez ainda não. Mas logo, é certo, você será a mais doce lembrança. Você, meu querido engano, será ausência. Aceito, acredito, e quero.
Não se preocupe, eu entendi. A injeção foi bem aplicada. E vai fazer efeito. Já está fazendo. Mais cedo, ou mais tarde, não interessa o tempo, eu vou me curar. Eu espero

Dani Altmayer

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