sexta-feira, 20 de setembro de 2013

Em (Re) Construção

Obrigada, mas não. Não posso entrar, se não puder retribuir. Assim eu aprendi.
E sabe, aqui a coisa anda meio complicada.
Você vem com este seu coração aberto, e ele é tão espaçoso. Amplo, arejado, solar.
Dá até vontade de deixar, mas não dá. Um dia você vai pedir, perguntar pelo meu. Vai cobrar. E eu vou ter que negar.
Porque o meu está atulhado, ocupado, e todo fragmentado. Ele já foi como o seu. Enorme.
Não sei o que aconteceu. Um remendo aqui, uma parede ali, e mais uma, e mais outra. Acabou ficando assim. Compartimentado. E bem apertado.
As divisórias tinham portas, mas esqueci de fechar. Foram ficando abertas, uma após a outra, e complicou. Virou labirinto. Se nem eu consigo me achar, imagina você.
Para dizer a verdade, está uma bagunça mesmo. Perdoa, mas agora não tem condição. Está tudo ferrado. Tem restos, está sujo, e feio.
Precisa de tempo, e reforma, urgente. Existe o projeto. Já está em andamento, vai ficar bem diferente. As paredes serão derrubadas, o design modernizado. Tudo mais funcional, bem mais prático. O espaço será melhor aproveitado. Linhas retas. Restarão só duas portas, desta vez bem sinalizadas. Entrada e saída. Mais nada. Menos é mais.
Vai ter algumas regras para entrar. Há que se tirar o sapato, para poder pisar sem arranhar. Armaduras estarão proibidas. Máscaras não serão permitidas. Armas, então, nem pensar. Coisa complicada também não, nem besteira. O território será de paz, guerra eu já tive demais. Será sagrado, lugar de respeito. Por isso, nada de brincadeiras. Nada que possa machucar. Só risos e bolhas de sabão serão concedidos. Você vai estranhar, pode até nem gostar. Não importa, é assim que será.
Peço desculpas pelo transtorno, estamos em obras. Temporariamente fora de operação. Volta outra hora, outro dia, outro mês. Leva o teu, que está bem, para outro lugar, mais saudável. Tem muita poeira aqui. Não está terminado ainda, longe disso, aliás. Você sabe como funcionam estas coisas. Quero que fique bom, que tenha muita luz. Que seja fácil de entrar. Que dê gosto, e prazer de ficar. Só que isso pode demorar. Uma vida inteira, até mais.
Coração em reforma não dá nem para andar. É perigo de queda. Mágoa na certa. Não convém arriscar.
Deixa que eu ligo, te dou um retorno. Quando estiver tudo pronto, prometo avisar.
Mas é claro que você não precisa. Nem deve. Esperar.

Dani Altmayer



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