terça-feira, 22 de janeiro de 2013

Uma só palavra

Dizem que ela só existe na língua portuguesa. Eu tenho cá minhas dúvidas, ora pois! Porque seríamos nós os únicos a conseguir dar nome aos bois? No caso, porque seríamos nós os únicos a termos uma palavra bonita para um sentimento assim tão forte,  tão intenso? Tão triste? Uma palavra bonita para um sentimento bonito, sim, porque tem algo de belo na saudade. Ninguém falou que coisa triste é sinônimo de  coisa feia, aliás. E a saudade é triste, e é bonita ao mesmo tempo Porque só se sente falta daquilo que a gente ama, ou amou. Daquilo que foi, que é bom. Daquilo que toca o coração, a alma, daquilo que é importante de verdade. Só se tem saudade do que faz a gente vibrar, sorrir, chorar, do que nos faz viver. E faz parte da vida esta saudade. Mesmo que a gente nunca acostume com ela. Mesmo que doa a cada vez. Mesmo que se chore a cada despedida. Sempre haverá a alegria do reencontro. Sempre haverá uma mensagem, um sonho, uma música para recordar. Mesmo na saudade daquilo que não volta mais, mesmo quando o reencontro não é mais possível, fica a presença do que foi. A memória doce, que ilumina os dias mais cinzas, que traz um sorriso entre  lágrimas, à simples lembrança de um outro sorriso, de um outro abraço, de uma outra lágrima. De um outro alguém. Chegar e partir, eterno movimento de quem se aventura neste mar, neste mundo, neste barco maluco da vida. A gente às vezes vai, às vezes fica, acenando no cais, vendo um pedaço de nós ir embora também. A gente tem saudades de lugares, pessoas, afetos, cheiros e gostos. A gente tem saudade da gente, quando se perde do rumo. A gente sente saudade até do que não foi, mas poderia ter sido e esta é a saudade que dói mais. Porque para esta não tem lembrança boa que resolva. É remédio amargo, para se engolir a seco e deixar para lá. Paliativo, porque saudade não tem cura.Só tem o tempo, que pinta de cores suaves o que era verde-limão berrante. Ameniza.
Mas, como diz aquela música: saudade até que é bom. Melhor que caminhar sozinho. Quem ama sabe disso. Em qualquer idioma, e mesmo que não tenha um nome próprio. Chame do que quiser, fique à vontade. A verdade é que ninguém está imune a ela. Ninguém está imune ao amor. Ninguém, em lugar nenhum.


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