terça-feira, 15 de janeiro de 2013

É fazendo que se aprende


Não assisto à televisão quase nunca, não por preconceito ou algo assim. Porque não gosto mesmo, prefiro fazer outra coisa, escrever, ler, ver um filme. Ou ficar em silêncio. Aquele barulho todo me incomoda. E já tenho em casa um viciado em TV, então deixo para ele o controle total e remoto. Agora que ele está de férias, e fora da cidade, a TV passa dias sem ser ligada, juro que esqueço que ela existe. 
Ou esquecia, porque uma amiga me emprestou um seriado, ao qual venho assistindo esporadicamente há alguns meses. Estes dias ela me entregou a terceira temporada. Coloco quando quero me distrair, me afastar um pouco dos meus sentimentos, parar de pensar por um momento. Ah, mas você acha que funciona? Que nada, só ilusão. O botão do "off"estragou, em algum ponto aqui nesta cabeça maluca, que fica ligada 24 horas por dia. E a série, que é divertida, tem alguns diálogos excelentes. Quando vejo, lá estou eu dando "pause"e pegando meu caderninho de anotações.
Outro dia me chamou a atenção uma frase, que segundo o personagem, ex viciado e alcóolatra, é dita nas reuniões dos narcóticos anônimos: "fake it till you make it ". Ou seja, traduzindo mais ou menos: finja até se tornar. Até ser. Fui pesquisar, e descobri que esta é uma simplificação, ou generalização do conceito de Aristóteles sobre a virtude:
"(...) a virtude está em nosso poder, e é o agir virtuosamente que torna alguém virtuoso.
 Lembrei de uma técnica para o tratamento comportamental da depressão, que  consiste em estimular a pessoa a realizar sua rotina diária, e ir colocando gradualmente mais tarefas nesta rotina, como tomar banho, assistir a um filme, preparar uma refeição, dar uma caminhada. Sem esperar que ela sinta vontade ou prazer em fazer, inicialmente. Fazer primeiro, sentir depois, seria mais ou menos isso. Com o tempo, a pessoa gradualmente começa a relaxar e volta a ter confiança em si mesma. Volta a descobrir o gosto das pequenas coisas, e até a sentir alguma alegria nelas.
Quantas vezes a gente está triste, muito triste, e precisa fingir um sorriso? E quantas vezes, depois deste sorriso fingido, não nos sentimos um pouquinho melhor? Acho que funciona mais ou menos assim. E acho que funciona, quase sempre. Só tem que começar, por algum lugar, de algum jeito. "Act as if ". Aja como se já fosse. Como pode ser. Como se quer que seja. Porque, como disse Aristóteles: "é fazendo que se aprende aquilo que se deve aprender a fazer." E se aprende mesmo, nem  que seja através de um programa de TV.

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