quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

Impermanentes

Muitas coisas na vida são como palavras escritas na areia da praia. Se apagam rapidamente, levadas pelo mar. Podem até ser bonitas. Podem ser lindos castelos de areia. Mas não tem consistência. Não permanecem. Você pode até se encantar com elas, brincar um pouco, se divertir. Não há nada de errado nisso. Mas tem que saber que foi feito de areia. E que não vai durar. Se você souber disso, e não se iludir, acreditando diferente, pode até mesmo aproveitar. Você terá bons momentos. Terá alegrias, e amores fugidios, como a areia da praia. Breves e não menos belos por isso. Só que passageiros.
Na minha praia, o mar não tinha coerência. Sentada outro dia naquela praia,  vendo o sol nascer no mar, bem cedinho , meus olhos se encheram de lágrimas.Chorei a beleza do que estava vendo, e chorei a percepção, talvez tardia, de que nossos movimentos na vida são assim, como as ondas daquele mar. Ondas quebrando de forma aleatória, uma para cada lado, com intensidade e forças diferentes. Incoerentes.
Caminhando na beira da água, mais de uma vez, fui surpreendida por ondas mais fortes, que me molharam muito acima dos meus pés descalços. Ondas que vieram sem avisar, e depois recuaram muitos metros, deixando uma areia durinha, e brilhante, cheia de conchinhas e águas vivas.
Nesta areia a gente muitas vezes escreve nossas histórias, esperando que sejam eternas. Esquecendo que estamos na praia.Esquecendo da imprevisibilidade, do tempo, do vento, que mudam as coisas de lugar. Esquecendo do mar, que chega sem avisar, e carrega tudo: as palavras, os castelos,  e nossos baldes de sonhos. Do mar, que, sem pedir licença, encharca nossas pernas, a barriga e até o coração. Nesta areia da praia escrevi para você . Esqueci  onde estava, achei que era para durar. Só porque a areia estava dura. Ilusão, que o mar levou, em uns poucos instantes. Por um momento, fiquei triste e chorei. Depois entendi. Percebi que era assim que tinha que ser. Era uma brincadeira, feita  na areia, e nada mais. Então finalmente pude voltar. E voltei.

Nenhum comentário:

Postar um comentário