quinta-feira, 24 de maio de 2012

Rituais de despedida

Hoje comprei umas flores para o Napoleão. Crisântemos brancos. Arrumei em um vaso bem bonito e acendi um incenso. Fiz uma pequena prece, desejando que tenha ido em paz, e que esteja em paz. Em algum lugar bem bonito, em um céu de gatinhos fofos e felizes. Sinto muita saudade. Minha rotina ainda está carregada de hábitos relacionados a ele. As coisas mais absurdas provocam o choro. Só sabe quem viveu. Só quem conviveu sabe a falta que ele faz.
Senti necessidade de um pequeno ritual. Por isso as flores, o incenso, a oração. Por ele. E por mim. A morte, tão certa, sempre nos toma de surpresa. Tão definitiva, é passagem só de ida. Voltar atrás, não pode. Não pode mais pegar no colo, fazer um carinho, dar um agrado. Dizer me perdoa, dizer eu te amo.Não pode mais. A morte leva com ela qualquer chance de recomeço. Leva todas as chances. Por isso é tão difícil aceitar. Por isso, os rituais. Rituais de passagem. Porque não conseguimos entender. Porque a morte nos deixa carregados de culpas, de porquês e senões. E de "ses"...E nos deixa doendo de tanta saudade. Órfãos de um afeto.
Mas a morte, esta coisa tão certa, é também professora. Ela nos mostra nossa impermanência. Ela nos lembra que estamos de passagem. Que absolutamente tudo é provisório. E por isso, tudo é importante. E quase nada é relevante. Quanto tempo perdemos com brigas bobas, pessoas bobas e situações mais bobas ainda.? Quanto sono perdido por problemas que viram pó muito antes de nós? Quanto valor dado para coisas que não tem valor algum? Quantos beijos não dados,  quantos amores negados? A morte nos mostra o que é essencial. Tira as máscaras.Faz uma bagunça danada. Depois a gente dá um jeito. Se reinventa. Fica um buraquinho aqui, um remendo ali, uma substituição mais adiante. Muda quase tudo. Mas fica o que importa de verdade. E o que importa não são estes rituais que a gente faz para tentar se consolar. Para homenagear, ou seja o que for. O que fica é a certeza de um amor compartilhado.Ficam as lembranças de uma vida, breve ou longa. Fica a máxima de que devemos valorizar e cuidar enquanto temos, enquanto somos, porque depois pode ser muito tarde. A vida é aqui, é agora, está acontecendo. E, no fim de tudo, ficamos.Um pouco mais sós.

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