sábado, 25 de setembro de 2021

25 de setembro



Gente humilde

Tem certos dias

Em que eu penso em minha gente

E sinto assim

Todo o meu peito se apertar

Porque parece

Que acontece de repente

Feito um desejo de eu viver

Sem me notar

Igual a como

Quando eu passo no subúrbio

Eu muito bem

Vindo de trem de algum lugar

E aí me dá

Como uma inveja dessa gente

Que vai em frente

Sem nem ter com quem contar

São casas simples

Com cadeiras na calçada

E na fachada

Escrito em cima que é um lar

Pela varanda

Flores tristes e baldias

Como a alegria

Que não tem onde encostar

E aí me dá uma tristeza

No meu peito

Feito um despeito

De eu não ter como lutar

E eu que não creio

Peço a Deus por minha gente

É gente humilde

Que vontade de chorar 


Todos os meus (5) leitores sabem que tenho temas recorrentes, e sendo o Chico a trilha sonora das minhas lides, inevitável que volte a ele, volta e meia. Outro dia, cozinhando o almoço do domingo, ouvi esta música que há muito não ouvia, entre outras tantas que são ao mesmo tempo poema, conto, crônica e romance, é muito impressionante o tanto de mundo e história que vai em cada melodia.

Toda vez que escuto Chico me quedo embasbacada, e reverencio a genialidade, a inteligência, o deboche e a doçura de um cara que para mim é um dos grandes mestres da língua portuguesa. 

Mas esta canção, em especial, tem um significado muito particular, porque esta música conheci pelo violão e voz da minha mãe, que cantava lindamente.

Eu, menina de uns sete ou oito anos,  sempre pedia a ela para tocar Gente Humilde. Fechava os olhos e imaginava o cenário, os lares, as varandas, completamente transportada e tocada por essa gente que vai em frente sem nem ter com quem contar. Na fachada escrito em cima que é um lar, ai que vontade de chorar, e eu invariavelmente chorava de verdade.

Eu gostava de ouvir e chorar, eu pedia para ela cantar, para poder chorar. Sabe-se lá porquê. Coisas de criança.

Ouvir a mãe cantar era sempre emocionante.

E acho que foi esta canção que primeiro me ensinou a empatia, na voz bonita da mulher que primeiro me ensinou a amar. 


Lembro disso agora, porque num dia como hoje, na Londres da segunda guerra, há 78 anos ela nasceu.💙

Nenhum comentário:

Postar um comentário