Gente humilde
Tem certos dias
Em que eu penso em minha gente
E sinto assim
Todo o meu peito se apertar
Porque parece
Que acontece de repente
Feito um desejo de eu viver
Sem me notar
Igual a como
Quando eu passo no subúrbio
Eu muito bem
Vindo de trem de algum lugar
E aí me dá
Como uma inveja dessa gente
Que vai em frente
Sem nem ter com quem contar
São casas simples
Com cadeiras na calçada
E na fachada
Escrito em cima que é um lar
Pela varanda
Flores tristes e baldias
Como a alegria
Que não tem onde encostar
E aí me dá uma tristeza
No meu peito
Feito um despeito
De eu não ter como lutar
E eu que não creio
Peço a Deus por minha gente
É gente humilde
Que vontade de chorar
Todos os meus (5) leitores sabem que tenho temas recorrentes, e sendo o Chico a trilha sonora das minhas lides, inevitável que volte a ele, volta e meia. Outro dia, cozinhando o almoço do domingo, ouvi esta música que há muito não ouvia, entre outras tantas que são ao mesmo tempo poema, conto, crônica e romance, é muito impressionante o tanto de mundo e história que vai em cada melodia.
Toda vez que escuto Chico me quedo embasbacada, e reverencio a genialidade, a inteligência, o deboche e a doçura de um cara que para mim é um dos grandes mestres da língua portuguesa.
Mas esta canção, em especial, tem um significado muito particular, porque esta música conheci pelo violão e voz da minha mãe, que cantava lindamente.
Eu, menina de uns sete ou oito anos, sempre pedia a ela para tocar Gente Humilde. Fechava os olhos e imaginava o cenário, os lares, as varandas, completamente transportada e tocada por essa gente que vai em frente sem nem ter com quem contar. Na fachada escrito em cima que é um lar, ai que vontade de chorar, e eu invariavelmente chorava de verdade.
Eu gostava de ouvir e chorar, eu pedia para ela cantar, para poder chorar. Sabe-se lá porquê. Coisas de criança.
Ouvir a mãe cantar era sempre emocionante.
E acho que foi esta canção que primeiro me ensinou a empatia, na voz bonita da mulher que primeiro me ensinou a amar.
Lembro disso agora, porque num dia como hoje, na Londres da segunda guerra, há 78 anos ela nasceu.💙
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