domingo, 26 de junho de 2016

Um café quente (por favor)



A mesa é a mesma, junto à janela. Ele levanta sem sorrir e me aperta em seus braços, no melhor dos abraços. Encosto meu rosto em seu peito, respiro seu calor com um suspiro e me deixo ficar por instantes, esquecida. A força do seu toque me acolhe, a sensação é ao mesmo tempo de conforto e perigo.
É sempre tão bom, chegar em casa e viajar.
Não quero nunca mais sair dali. Um minuto é uma vida no tempo do beijo que vem depois. Um minuto e meio e eu quase morro. Dois minutos depois ainda estou colada a ele, sedenta e saciada. Naquele abraço onde esquecer é permitido, a intimidade tem o encontro perfeito. O encaixe perfeito que só pode acontecer entre dois inteiros, estranhos, imperfeitos.
O café preto e quente, um sol que brilha numa luz azulada, os olhos azuis na fria tarde de inverno. Olhos que sorriem e tocam e refletem. Aquecem e conversam. Olhos curiosos, obscenos, que falam e se comem. 
Bocas que não se tocam, trocam. Bocas secas. Palavras à toa, descuidadas, palavras não ditas. Entendidas. Numa atenção incomum, onde toda palavra é bem vinda, nenhuma é proibida, ninguém é proibido.
Um pedaço de torta: goiabada e queijo- o doce sabor da simplicidade, do momento, compartilhados. A certeza do tempo, do fim, da brevidade. Do encontro raro, íntimo, erótico. Um eterno que é se deixar estar assim, abandonar-se para sempre no instante provisório. Entre livros. Inteiros e entregues- livres. Em sorrisos e mãos incontidas, em olhares úmidos.
Que são fruto do abraço dele. Que é como ele, grande. Essa mistura única de força e delicadeza. 
Conforto e perigo. (Viajar, e voltar para casa.)
Num café que pode ser tão bom, tão delicioso, e tão arriscado quanto todo o resto. 
Quanto viver.

Dani Altmayer

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