quinta-feira, 2 de junho de 2016

A cunhada



Carlos não estava seguro se aquela notícia era um sinal maravilhoso ou um presságio para um desastre, mas sabia que a chegada da Cláudia ia mexer com a vida deles. Fazia uns três anos que não via a cunhada, agora ficara sabendo que ela estava chegando para o batizado do Francisco. Carlos queria escolher outra madrinha, mas Adriana insistira que tinha que ser a irmã caçula. Cláudia morava na Austrália desde que terminara o colégio. Trabalhava como garçonete, fumava maconha e fazia artesanato. Se dizia escultora, mas não passava de uma garota mimada.
Quando ela decidiu ir embora, a princípio Carlos ficara aliviado.
A menina que pegava sua mão, a quem ensinara a nadar na piscina da casa dos sogros, crescera e se transformara em uma baita mulher. Fora para ele que Cláudia contara de suas primeiras paixões e costumava falar dos beijos que trocava com as amigas, só para ver a cara de espanto do cunhado. Era para ele que corria quando brigava com algum namorado, era para ele que pedia conselhos sobre quase tudo.
E foi com ele que ela perdeu sua virgindade em uma tarde chuvosa enquanto Adriana estava na faculdade e ele tentava explicar física para a adolescente de dezessete anos que insistia em sentar no seu colo e fazer brincadeiras perversas, subvertendo as fórmulas e a seriedade daquele engenheiro recém formado. Nos almoços de domingo, a partir de então, suas pernas procuravam as dele e entrelaçavam-se por baixo de olhares secretos, a garota de cabelos azuis rindo-se da confusão que causava, sem imaginar o tamanho do estrago que fazia. Desfilava de toalha pela casa, subindo e descendo escadas, recém saída do banho, deixava entrever em escorregões seus seios pequenos, provocava encontros furtivos na porta do banheiro social, roubava beijos e afagos na cozinha.
Cláudia ia ao escritório de Carlos duas vezes por semana, com o pretexto de visitar o pai e eles transavam ali mesmo, na mesa de madeira de demolição ou encostados na parede, quase sempre de roupa, quase  sempre muito rápido e de portas trancadas. Ele tinha acabado de ficar sócio do futuro sogro na construtora.
Carlos e Adriana namoravam há muitos anos, e todos sabiam que haviam sido feitos um para o outro. Na manhã do casamento, a cunhada o procurou no quarto do hotel fazenda. Ajoelhou-se e o chupou como nunca tinha feito antes. Enquanto Carlos retomava o fôlego, Cláudia declarou que ia embora do país com um australiano que acabara de conhecer. No altar, enquanto Carlos e Adriana diziam seus votos, a menina sorria como um anjo vestido de azul. Partiu antes que eles voltassem da lua de mel na Europa. Ele acompanhava suas peripécias pelo instagram e facebook, ela agora tinha cabelos vermelhos e duas tatuagens novas, mas não se falavam mais. Mesmo assim, Carlos ainda lembrava dela todas as manhãs, no chuveiro.
Adriana engravidara dois anos depois o casamento.
No dia do batizado, a esposa estava eufórica com os preparativos para a festa, preocupada com a mesa de doces, a carne para o churrasco, as lembrancinhas. Comprara roupas brancas de grife para todos. Os sogros ajudavam com os detalhes de decoração. O motorista fora enviado ao aeroporto para buscar Cláudia.
Ninguém reparou em Carlos, que fora incumbido de comprar as bebidas na última hora, pois a encomenda de Rivera ficara presa na polícia federal. Grato por ter uma desculpa para sair, ele encheu o carrinho de espumantes. Pensava no muito que tinham para celebrar. Os negócios, que iam super bem, o bebê, que era lindo e rosado, parecido com ele. Ou o casamento, perfeito e artificial.
Prestes a derreter sob o sol.

Dani Altmayer
(exercício para a oficina escrita: escrever num fluxo, a partir da frase inicial-em negrito. Saiu na terceira tentativa)

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