segunda-feira, 25 de abril de 2016

Temporal



A chuva bate na vidraça com força e ritmo, os raios atravessam as frestas e se acabam em surdos trovões cada vez mais próximos. Mais dentro. Lembra da mãe que queimava aquelas folhas bentas de palmeira que ficavam junto à cruz, e rezava. Quer rezar, mas não sabe para quem. Não tem cruz, nem espada. Não tem mais crença. É madrugada ainda, está sozinha com a tempestade e tem medo. Sempre teve. Afasta a cortina para olhar a rua alagada e o céu que desaba numa enxurrada levando embora seu sono e seus sonhos. Não tem mais sonhos, divaga. Só restam os clarões e esse barulho ensurdecedor. Explosões, lá fora, aqui, na sua cabeça. A pergunta não respondida, a resposta tardia, a saudade absurda. Abraça o travesseiro com força, e fica tudo escuro. A luz acabou faz horas. Faz tempo. Quer chorar, mas o choro secou. Faz anos.

Dani Altmayer
( desafio de escrever em 15 min sobre insônia)

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