domingo, 24 de abril de 2016

A porta



No meio da curva tinha uma casa.
Uma casa feita de plástico e papelão.
Foi "construída" na frente do palácio da polícia. Faz um tempo que passo por ali de bicicleta. De vez em quando encontro os moradores, um homem e uma mulher, sentados na rua que é o quintal da sua casa no meio da curva. Às vezes só ouço suas vozes, em alguma discussão íntima, de dentro da casa de paredes finas.
Uma casa torta, de papelão e de plástico, escorada no poste, na curva da pedalada. Uma casa que não tem telhado, janela ou metro quadrado.
Uma casa que não tinha nem porta, até outro dia.
Agora tem. ( E, pensando bem, porta é mesmo mais importante que janela).
Tem uma porta agora. Na casa de papel e de plástico que fica ali, naquele poste. Na curva da avenida Ipiranga, número zero. Exatamente aqui, bem no meio do nosso caminho.

( Tem coisas que só passando devagar se percebe. Tem coisas que só olhando de perto. Uma porta para lugar algum...)
Dani Altmayer

Nenhum comentário:

Postar um comentário